sábado, 20 de fevereiro de 2010

Primeira vez: Parte II: Hipocrisia



Nos conhecemos no domingo. Na segunda feira, liguei do orelhão, por que não tinha crédito e tivemos uma conversa que foi mais gritaria do que outra coisa, pois a ligação estava uma droga. Mas conseguimos marcar para o dia seguinte um encontro. Era eu mudando as coordenadas da minha vida. Sempre fui um cara desajeitado para encontros, tive sempre dificuldade nas coisas que para os outros eram tão simples. Mas marcando aquele encontro, eu estava me permitindo viver uma vida que há muito não me permiti. E estava pirando com isso.

Terça feira. Marcamos no shopping tatuapé, e cheguei um pouco atrasado. Estava uma chuva torrencial, dessas que começaram a dar inexplicavelmente nas tardes de São Paulo. Cheguei na Barra Funda e o local estava um caos. Horário de pico, todo mundo querendo ir pra casa ao mesmo tempo. Liguei para o Leonard e falei da situação da Barra Funda. Naquele momento, tudo que eu queria era desistir e marcar para outro dia, tamanha minha insegurança. Afinal, o carinha era lindo. Quando me visse pela segunda vez, iria repensar sobre tudo que vivemos no escuro da balada. Mas pelo telefone, ele falou que iria me esperar lá, pois também se atrasaria. Não teve jeito. Tive que enfrentar a manada da estação de trem. Fui arrastado para dentro pelas pessoas, sem piedade e depois de meia hora, cheguei ao destino. Marcamos de nos encontrar na entrada do shopping metrô. Cheguei, e não havia ninguém. Milhares de besteiras começaram a passar pela minha cabeça. Esperei vinte minutos e já estava quase desistindo. Foi então que ele surgiu. Leonard. Loirinho, boizinho de olhos verdes, muita areia para o meu caminhãozinho. Passeamos, conversando pelo shopping. Ele me contou que frequentava o tatuapé de segunda feira, onde a coisa esquenta na comunidade gay e logo me levou para o cantinho deles. Uma das saídas do tatuapé que dá para uma rua dos fundos. Estava vazia, com apenas um casal de lésbicas dando alguns beijinhos disfarsados. Nós encostamos na mureta enquanto a noite ia chegando e em meio a histórias dele, soltei que eu era virgem.

"Ah, eu também sou!!" Disse, na brincadeira.

"É sério!" Eu repliquei, e ele engoliu o riso. Novamente me senti mal, pois parecia que eu era uma peça rara no mundo só por nunca ter feito sexo. Conversamos sobre o assunto e ele disse que não ligava para isso, claro. Começamos a nos beijar disfarsadamente próximos à saída de estacionamento e logo veio um dos guardas do shopping, pedindo que saíssemos de perto do local,pois os carros de saída tinham visão perfeita para nós. Caminhamos pela rua até uma bifurcação e ali começamos a nos beijar intensamente, ambos temerosos com um ou outro pedestre que aparecia. Eu não acreditava que estava ficando na rua, uma das primeiras vezes. Para nós gays, cada situação comum é uma conquista gigantesca. Depois de uma meia hora, surgiram dois guardas do shopping, os quais cruzaram os braços diante de nós. Um deles disse: "Eu não disse?" e eles nos olhavam como aberrações. Hipócritas. Ainda bem que não estavamos nos beijando naquele instante, mas somente conversando. Caminhamos então como se fossemos dois amigos e senti o peso de viver em um mundo que não me aceita. Não sou aceito entre os héteros, sou mal visto entre os gays por nunca ter namorado ou transado. O mundo me provava a cada passo que eu dava não ser um bom lugar.

Comemos um lanche e eu tirei uma foto do Leonard, a qual depois mostrei a alguns amigos que não acreditaram que eu estava ficando com ele. Às vezes nem eu mesmo acreditava. Antes de partir a seu trem, ele falou: "Eu quero te ver de novo." Aquelas palavras me encheram de esperança. Eu sentia que o momento se aproximava.

1 comentários:

Curinga disse...

Comportamentos semelhantes a esse, são totalmente inverosímil ao nosso novo século. Sei que o meu comentário vai parecer um tanto ácido! Mas o que poderíamos esperar de dois seguranças de Shopping Center?!¬¬' ainda mais no nosso país.Parece que quanto mais ignorantes mais algemas, mais Antolhos e sempre mais atraso!