sábado, 23 de outubro de 2010

Brainstorm: Morte, a iniciação



Após inúmeras reflexões sobre a idade e a solidão, me deparo com a mais irreversível das correntezas: A morte. Mas para não virar um drama completo, optei por escrever um Brainstorm fúnebre.

Noventa por cento do meu trabalho de conclusão de curso está pronto. Os últimos dez por cento não competem a mim, é programação de site e o Homofóbico terá que se virar para concluir. Um ciclo irá se fechar em nossas vidas em dezembro. A morte da minha vida universitária. Devo dizer que foi uma vida mal aproveitada. A universidade deveria ser um local de estudo e divertimento, de desafios e conquistas do mercado e de uma nova vida. Mas saio de lá desempregado, provavelmente terei que voltar à logistica pra poder me sustentar... Porém há coisas boas, aprendi a fazer animação.

O irmão da minha tia morreu. Não conhecia. Só o tinha visto algumas vezes passando pela rua, não sou muito conhecido aqui na vizinhança e nem faço questão. O que chocou foi o modo como morreu: Acidente de carro, uma Perua prensada por caminhões. Seu filho estava no passageiro e ficou no hospital em estado grave.

A mãe de um dos membros do meu grupo da faculdade também faleceu. Ela tinha um grave cancer que se espalhou por todo o corpo. O colega do meu grupo é um que eu nunca citei antes. Ele tem uma deficiencia que não sei explicar. No primeiro ano de faculdade, eu não compreendia o que ele falava. No último ano, ele estava em meu grupo, e sua dicção melhorou muito. Sua mãe me ligou para agradecer por tê-lo acolhido no grupo, os dois eram muito ligados. O pai dele não conversa com ele, ele só falava com a mãe. Seus pais o buscavam na faculdade todos os dias, não o ensinaram a viver no mundo moderno. Fico imaginando o que será dele agora, fico imaginando se agora será o momento de ele aprender que os pais não duram pra sempre e se terá que começar do zero a viver e caminhar sozinho.

Não sei se eu já aprendi a caminhar sozinho.

Meu namoro morreu há quase dois meses, e a amizade que tenho com meu ex é estranha. Ele já está com outro, o qual disse que está lhe dando tudo que ele procurava. Em uma de nossas discussões de prache, ele falou, com essas palavras:

"O que eu e você tivemos naquele quarto tinhamos em qualquer cinema. Ficamos só na brincadeira. Eu considero que o que fizemos foi brincadeira."

Sim, ele jogou no lixo três meses de relacionamento com essa frase e decidi matar esse relacionamento. Tentarei não atender mais as ligações, ainda que eu goste muito de conversar com ele.

O 3.9 escreveu no MSN: "Procuro um namorado". Pronto. Morreu minha "soda" fixa... Ele disse que cansou de ficar só na diversão. Quem sabe a noite que tivemos e a impessoalidade de dormir na mesma cama sem trocar nenhum carinho não o tenha feito acordar para a solidão que vinha vivendo... Quem sabe...

Conheci um rapaz chamado Julio, assistimos Tropa de elite no cinema. Muita morte e sangue. Julio tem um ótimo papo, conversamos muito. Ele pagou meu cinema (falamos muito sobre emprego,ele se preocupa comigo desempregado). Dei uma mancadinha quando entramos no cinema. Ele falou para sentarmos no canto e eu falei que no meio era melhor. Quando me lembrei do que eu e o Matheus faziamos no canto, tentei reverter, mas ele preferiu sentar no meio. Nada rolou, mas conversamos bastante. Ele não parece gay, mas me envolver com ele seria complicado: Virgem, nunca ficou com rapazes, tímido, mora com os pais, não frequenta baladas ou bares... O que uma pessoa assim tem a oferecer? Me pergunto até agora.

"A barra da morte é que ela não tem meio termo" já dizia Elis Regina.

O véu da morte envolve a tudo. Não há um dia no mundo em que não haja morte. O que me preocupa não é morrer, mas como morrer. Nunca perdi um parente próximo com idade suficiente para refletir sobre isso. Quando fui desapropriado e vim morar na casa da minha avó (falecida), meu tio bebado morava aqui. Ele levava uma vida solitária, era triste de ver. Todos os dias saía e voltava bebado. Velho, solitário e se afogando na bebida. Esse é sem dúvida meu maior pesadelo. E ele morreu sozinho em seu quarto...

Acho que prefiro uma morte rápida e indolor. Estar aqui e de repente PUF... Morrer sem nem perceber.

Em meio à atmosféra de morte que envolveu meu grupo na faculdade, o Bipolar contou a história de seu primo de 23 anos. Sentiu uma dor no estômago e ao ir ao médico, descobriu ter um cancer irreversível. Seis meses de sofrimento, e a morte. Um ano mais novo que eu... perdendo a vida.

Eu gostaria de morrer antes dos meus pais pra não sofrer com a morte deles, ao mesmo tempo que sei que os pais não merecem sofrer com a perda de um filho. Fico então em cima do muro. A primeiria vez que tomei consciência da importância de se pensar na morte foi no terceiro colegial, aula de filosofia. Meu professor nos fez ler textos sobre a morte e fez uma introspecção, na qual escrevi muito da vida em que estava vivendo. Naquele dia tomei consciência de que pensava, logo existia...

"No momento da morte entendemos a vida", já dizia o Capitão Nascimento.

Ok, ok, esse brainstorm foi horrível e mórbido, mas eu garanto que pra mim foi bom desabafar uma carga negativa que estava pairando sobre minha cabeça. Me sinto mais leve agora...
sábado, 16 de outubro de 2010

Paralisia



Passando pra dizer que estou sem net novamente. Até a volta!!
terça-feira, 12 de outubro de 2010

Experiência 3.9 e 4.5


Eu e Alehandro marcamos de nos encontrar na sexta feira, mas chegou no dia e ele disse que teria que ir na irmã dele e só poderia me pegar às dez, o que acarretaria no fato de eu ter que dormir na casa dele, para meu desespero. Não que eu não seja maduro suficiente pra dormir na casa de um homem, mas há diversos níveis de intimidade pra eu ficar a vontade com esse evento.


Pensei bem e quase desisti, mas resolvi aceitar dormir lá. Nos encontramos na estação e ele quase me arrastou para o Autorama, um estacionamento onde os gays ficam paquerando e se pegando a noite toda, mas eu (chato que só eu) falei que não queria ir. Então caminhamos pra casa dele mas antes passamos em uma pizzaria, onde ele comprou uma pizza (nããão...) e levou junto para comermos.


Na casa dele, conheci o gato que estava doente (típico, homem de 39, mora sozinho, tinha que ter um gato). O gato ficou me encarando, não pareceu gostar de mim. Me perguntei quantos outros garotos aquele gato não ficou encarando até hoje...


Após enchermos o bucho de pizza, ele colocou o gato na cozinha e começamos a nos beijar. Apagou a luz e acendeu uma outra, daquelas de balada que fazem o branco brilhar, e sua roupa era toda branca. Com aquele corpo monumental (o mais perfeito que eu já vi ao vivo) ele me envolveu e................


O que eu tenho a dizer é que essa foi minha mais plena experiencia em vida... Antes dessa noite eu era menino, e então virei homem, rsrs. Foi inesquecível, incrível, estonteante.


Depois de tudo, tomamos banho, ele me mostrou seu album de fotografias, falou sobre seu emprego no laboratório de física, onde transformam materiais dentro de uma caixa, e fiquei fascinado com ele, com seu poder de persuasão e com seu jeito com rapazes mais novos (convenhamos que um três ponto nove interessar um dois ponto quatro não é fácil). Dormimos na mesma cama, sem contato, e consegui dormir legal. De manhã, acordei primeiro e fiquei olhando-o dormir. E minha cabeça então começou a viajar.


Eu não me apaixonaria por um homem desse, mesmo com todos esses atributos. Desde o princípio eu determinei que ele seria apenas um rapaz com o qual eu faria sexo, e minha mente não permitiu nenhum tipo de aprofundamento, nenhuma centelha de pensamento de ter algo além daquela noite inesquecível. Eu não deixaria que nenhum sentimento me tomasse por que jamais confiaria em um homem com a vida que ele leva, com o perfil de onde o encontrei (o que não passa de um preconceito meu [?!?]). O fato é que nem olhando-o dormir e achando-o lindo com aquele rosto sem nenhum sinal da idade, eu consegui imaginar um "e se" entre nós.


Pela manhã, não nos beijamos, pareciamos dois conhecidos que dividiram a cama e que acordaram de manhã e partiram, mas a conversa que tivemos foi legal e natural. Eu disse que curti muito a noite e ele me deixou na estação. Não marcamos mais nada, nem sei se marcaremos. Após dormir no trem, vim caminhando pra casa e pensando.


"Eu tive o cara mais bonito que podia ter, com o corpo mais perfeito e que me deu a noite mais perfeita que eu podia esperar... Isso pra mim é suficiente. Mas não quero ficar nesse jogo, quero alguém que não precisa ser perfeito, que não precisa ser o melhor de cama, mas que possa me aprofundar legal... Alguém que durma abraçadinho e que, ao acordar, continue gostando de mim..."


Sim, eu sou chato, podem falar. Mas.... que foi bom... ah, isso foi...



No domingo, decidi ir na "T", pra variar. Não peguei ninguém, pra variar mais ainda, só fiquei encantado com um cara que sentou do meu lado após dar dois foras e com o qual não tive coragem de conversar, mesmo ele olhando disfarsadamente pra mim.


O destaque da noite foi o pós-balada. Na Sé, algumas pessoas perguntaram-me como chegar ao Anhangabaú e eu disse que era uma estação depois. Ai, quando entraram no trem, um rapaz e um senhor disseram que eles estavam indo pelo sentido contrário. Eu virei bravo e falei que não, que estavam certos, ai os dois reconheceram que erraram e eu fiquei feliz (super feliz, rsrs). O senhor rindo de sua (burrice) confusão sentou-se no banco à minha frente.


Na Barra funda, desci as escadas e na estação cruzei com o senhor novamente.


"Oh, nos encontramos de novo!!"


Eu nem me lembrava mais dele. Mas ai ele me relembrou quem era.


"Prazer, Hamil."


"Rud."


"Mora aonde, Rud?"


"Zona Oeste..."


"E vem de onde?"


"Da balada..."


"Qual?"


Dei uma rizadinha sem jeito, e então falei.


"'T'"...


"Ah, a 'T', faz tempo que não à frequento...."


Ai que me toquei. O cara era gay. Achei aquele papo um saco (se fosse um cara bonito eu adoraria), e estava decidido a dormir quando entrássemos no trem. Mas ai ele perguntou:


"Namora?"


E eu respondi:


"Terminei."


Comecei a contar toda a história, o por que de ele ter terminado comigo e tudo mais. E então, após falar um pouco que devia ter sido melhor assim, pois bissexuais são as pessoas mais confusas que existem, ele disse:


Fui casado com um homem por 14 anos... eu desisti de tudo na minha vida por ele. Hoje não tenho apoio da família, e ele também não. Dividimos tudo juntos. Mas ele terminou. Hoje, se arrepende. Me liga, diz que me ama, mas me feriu muito. Não tem volta."


"Nossa, foi tão duro assim que não possa ser perdoado?"


"Foi. Amor é complicado. Hoje tenho 45 anos... Vivo minha vida plenamente por mim. Esse é o segredo."


"Sabe que é isso que eu procuro? Amor. Esses dias tive a melhor noite da minha vida com um cara mais velho, foi ótimo... Mas não sentir o amor tem me incomodado."


"Não fala isso, é ruim demais. O amor só trás renúncia, só anula a você mesmo. O amor não trás nada de bom. Como diria Raul Seixas: 'Quando lhe jurei meu amor, eu traí a mim mesmo...'"


Depois de todo o discurso dele, eu disse, simplesmente:


"É? Mas você sentiu isso. Você amou, sofreu, sorriu e chorou. O ser humano sem isso não é nada... Me diz o que seria da sua vida sem esses 14 anos?!"


Ele, depois de uma bomba dessa, não pôde retrucar. Eu ganhei, e novamente fiquei feliz. O amor é uma necessidade absoluta, afinal...


Se minha vida fosse uma série, com temas por capítulo, esse tema seria a da idade, da velhice chegando, tempo de decisões. Conheci o Alehandro, 39 anos, que me fez ver estrelas e deixou claro que dividir a vida com alguém não é uma possibilidade, conheci o Hamil, 45 anos, que talvez tenha deixado de acreditar no amor... e começo a me questionar novamente: Que raios a vida faz com as pessoas que acaba matando esse amor? Ir na "T" a 5 anos e ver seu público vagarosamente envelhecer... Me faz pensar se as possibilidades de ter um lugar não estão diminuindo ao invés de aumentar. O medo só aumenta junto às rodas dos ponteiros do relógio, no passar dos dias, dos meses, dos anos....
quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Uma resposta à vida...



Essa é uma continuação indireta, mais como uma explicação sobre o post anterior.

Antes de terminar com o Tiago, eu tinha conhecido um rapaz chamado Alejandro (não é o da música), mas eu, como rapaz fiel, disse estar namorando e não poder fazer nada. Mesmo assim o mantive no msn e após terminar com o rapaz, vi nele uma possibilidade, não de namorar, por que pelo perfil já dá pra se imaginar bem o que ele quer, mas só para sair junto e ver o que rolava.

Alehandro
Idade: 39 anos ( o mais velho que já conheci)
Formado e mestrado na USP
Conheci: Perfil de uma rede social gay, só fotos sem camisa (e sem cabeça)
Mora: Sozinho

Provavelmente leva um rapaz por semana (senão por dia) pra casa dele e não quer compromisso sério. Beleza, é tudo que eu preciso agora nessa vida de solteiro.


Fui até a estação dele já imaginando o tribufú que iria encontrar. Afinal, 39 anos, as fotos deviam ser da juventude, considerando que tinha o corpo mais belo que já vi...

E quando ele chegou... não é que era gato? Só o nariz que era grande como já tinha visto nas fotos, mas um corpo lindo, sarado, jamais aparentaria a idade que diz ter. Fiquei louco pra conhecer a casa dele e curtir aquela sexta feira a noite como uma pessoa normal e resolvida... mas como estamos falando da minha vida, onde nada normal pode acontecer...

"Então, Rud, infelizmente não vou poder te levar em casa... Meu gato (ele tinha falado do gato doente dele) piorou e está vomitando sangue, a casa está uma bagunça."

Fiquei triste, mas fomos andar no shopping e deu pra conhecê-lo bem conversando.

Após horas no shopping onde comemos e caminhamos falando dos preços absurdos dos produtos nas lojas chiques (até 60 mil reais nas vitrines), saímos e começamos a caminhar. O papo foi bem legal, superou minhas espectativas.

Chegamos então ao assunto sobre relacionamentos antigos (acho que eu inspiro as pessoas a falarem sobre isso). Eis o que eu ouvi.

"Já me apaixonei uma vez. Ele me motivou a me assumir. Foi uma grande mudança na minha vida. Como eu era novo, acabei fazendo a burrada de trair... e ele descobriu, terminando tudo. Por cinco anos fiquei apenas pensando nele, fiquei mal, eu amava demais."

Sim, o amor... O doce veneno do amor. É disso que eu falo, é isso que eu prcuro. Um amor que mova montanhas, que destrua paradigmas, que me fala gritar ao mundo:

EU SOU GAY!!!! EU SOU GAAAAAYYYYYYYYY!!!!!

Um amor que me faça rir e chorar, que lhe faça sentir-me vivo. Eu realmente nunca amei ninguém, em meus plenos 24 anos, e isso me motivou a escrever o meu post anterior, "o Crepúsculo do homem". Estou angustiado, uma parte de mim quer tacar o f#$da-se e sair por ai transando com os caras sem ligar pra sentimentos enquanto a outra quer encontrar esse amor que me faça querer viver eternamente e querer morrer por ele... Tenho medo de acordar aos trinta e olhar pro passado, vendo tudo aquilo que eu podia ter sido e não ter mais tempo de ser... Crise de meia idade...

Eu e Alejandro ficamos ao descer até a República e foi bem legal. Claro que comparações são inevitáveis. O beijo do Tiago era mais selvagem, mais intenso, mas ainda assim curti... É questão de desacostumar.

Indo embora, passamos diante de um bar gay só de homens bem mais velhos e ele disse que não queria ficar assim, velho e solitário na porta de um bar esperando os rapazes mais jovens passarem... Aquela noite foi um verdadeiro tapa na minha cara, como se a vida perguntasse:

"E agora? O que você quer, Rud? O que você procura? Você se acha jovem? Você não acha que está envelhecendo? Será que um dia você será como Alejandro? Um homem mais velho, formado, morando sozinho, e marcando encontros pela internet pra ter uma boa transa? Será que você é capaz de amar?"

Não soube responder a essas questões... espero um dia saber...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Crepúsculo do Homem



Então o menino acordou
e ao olhar-se no espelho
viu todos os anos que lhe deixaram
concluindo perder a aposta
da corrida com o tempo



Então o menino acordou
não mais com a juventude de outrora
mas com a consciência que a idade lhe trouxe



O menino acordou
desejando a alegria da mocidade
e a esperança do futuro brilhante



Mas o menino já era homem
desgastado com suas responsabilidades
em busca de seu lugar no mundo
Ainda que viva em um mundo
que não foi feito para ele



O menino que dormiu demais
acordou para a perda da incência
tornando-se aquilo que mais temia



Acordou o menino sonhador
que já não podia dormir
fadado ao destino dos homens
solitários no vale sem amor



Então o menino sonhou
que, depois de um homem se tornar
poderia ser como era
apesar de matar o menino



E acordando ainda menino
o homem se viu a chorar
no espelho da cruel reflexão
nesse mundo sem ter seu lugar



Vivendo na vida não vivida
do tempo não aproveitado
da época não marcada
na dança jamais dançada
o menino finalmente dormiu...
sábado, 2 de outubro de 2010

Revide: Enfim o rompimento que não aconteceu



Bom, apesar de ter terminado com o Tiago, as coisas começaram a soar estranhas quando percebi que ele continuava a me ligar todos os dias e falar de todos os assuntos que tratávamos enquanto namorávamos. Uma situação bizarra, considerando que aguentamos ladaínhas quando temos a pessoa ao nosso lado para vivenciar os lados bons (beijos, sexo e ademais). Sem esses fatores, não tinha por que manter um relacionamento a distância.

Eu e o Ed, cheios de saudade da famosa "T", combinamos de ir lá no fim de semana. O Tiago então me telefonou e disse que iria lá também, o que me deixou bem incomodado. Eu queria cair na pista e beijar quem tivesse vontade, não encontrar o ex e ficar em um canto conversando. Então eu falei:

"Tiago... não me leva a mal, mas você poderia não ir na "T" nesse fim de semana?"

Claro que ele achou estranho:

"Por que?"

"Eu não estou pronto pra ver você ficando com ninguém, ainda que não tenhamos nada. A idéia de ver você com alguém por enquanto me incomoda. E não podemos mais nos privar de ficar com outros, já que estamos solteiros. Mas não queria que você fosse."

Por incrível que pareça ele pareceu entender e disse que iria tentar ir a outra balada. Eu realmente travaria se o visse lá na "T".

Chegando no domingo, fui cedinho à balada e quando pisei no local, visualisei um cara lindo com uma calça do exército, corrente no pescoço, camiseta preta, cabelo arrepiado, porte bem maduro (do jeito que eu gosto) e acabei sendo vítima da OBI da noite (aquela pessoa que não te deixa pensar em mais ninguém durante toda a noite). O Ed chegou e ficamos lá sentados conversando (fazia tempo que não saíamos), enquanto eu encarava o homem do exército.

Mais pro meio da noite, eu estava lá de boa do lado de fora da pista e avistei um rapaz que logo me reconheceu e veio me cumprimentar: Era o michel, melhor amigo do Tiago (só nos conhecíamos por Orkut). Ele então me deu a (chata) notícia de que o Tiago estava na balada. Não acreditei e quando entrei na pista, avistei o Tiago. Dei meia volta e desci as escadas. Minha noite acabou.

Lá embaixo, o reencontrei (parando teatricalmente diante dele enquanto a multidão dançava ao nosso redor) e fui conversar com ele. Foi nosso primeiro papo com climão. Horrível. Lá em cima, ele reapareceu e tentou me agarrar, mas eu o empurrei.

"Vem, eu sei que você tá empolgado."

"Toca aqui pra ver se eu tô empolgado!!"

Antes só de vê-lo, eu já ficava todo aceso. Ele tocou e não havia empolgação alguma, ficando sem graça. Um tempinho depois, encontrei os amigos do Tiago e ficamos de papo. Ele sentou no colo de um outro amigo (o primeiro rapaz que ele ficou na vida) e eu fiquei de boa, saindo logo depois, me despedindo deles.

Não encontrei mais o cara do exército nem tive ânimo de investir em ninguém ali. Foi um fim de noite bem desagradável. No dia seguinte, o Tiago me ligou.

"Nossa, foi mesmo muito constrangedor nós dois lá... Espero que um dia a gente se acostume. Eu sei que tinha um cara lá a fim de mim mas nem tive coragem de tentar nada."

Só fiquei escutando. Comecei a perceber que quase tud que ele fala é como se fosse um teste pra ver o quanto chega meu ciúmes. Se ele soubesse o quão desencanado estou.

Essa situação não estava mais me agradando. Tudo que eu precisava nesse momento era de espaço, não posso ficar todo dia falando com meu ex. Não consigo ser amigo de ex. Cada vez que ele me ligava, me irritava mais. Foi então que aconteceu.

"O que a Hayashi falou sobre nosso rompimento?"

Ele perguntou.

"Não lembro, mas uns amigos meus para os quais contei as cachorradas que você me falou só falaram mal de você."

"Eu imagino."

"Um deles até disse que você não foi homem suficiente..." (quem disse isso foi um dos meus leitores no msn, rsrs)

"Vem você e seu amigo e ensino aos dois o que é ser homem."

Não sei o que deu em mim, uma fúria incontrolável guiou minhas palavras naquele instante e eu pronunciei a seguinte sentença:

"HOMEM NÃO É SÓ ISSO, ENVOLVE MUITO MAIS. PRINCIPALMENTE CARÁTER. MAS ISSO É UMA COISA QUE VOCÊ AINDA NÃO TEM, É MUITO NOVO..."

Ele fez o que eu deveria ter feito quando ele me falou aquelas barbaridades. Desligou na minha cara. Claro que eu fiquei mal, mas não retornei a ligação. Contei essa história pro Primo, ainda chateado, e ele me aconselhou a não procurar mais, por que seria melhor manter a distância.

No dia seguinte, o Segurança me deu uma bronca, falando que o que eu fiz foi errado e que eu devia pedir desculpas. Decidi fazer o que meu coração mandava, e ele, que sempre se arrepende quando fala coisas duras, me mandou ligar.

Liguei, e não fui atendido.

De noite, liguei de novo e nada.

Então, mais a noite, meu telefone tocou. Era ele. Eu já tinha tudo em mente: Ia pedir desculpas mas ia dizer que precisava de mais espaço, que precisamos nos distanciar enquanto o rompimento é recente.

Atendi:

"Oi... Por que você desligou na minha cara ontem?"

"Ah, chegou gente aqui no serviço..."

"Hmmm, mentira. Você ficou chateado com o que eu disse."

"Não fiquei."

"Ficou sim que eu sei."

"Não, de boa."

(Nessa hora deveriam sair as desculpas da minha boca, mas quem disse que a boca obedece...)

Após silêncio constrangedor, ele perguntou:

"Só me ligou pra isso?"

(Aqui eu deveria ter dito: Claro que não, você sabe que prezo nossa amizade.... Porém acho que ambos precisamos de um tempo...)

"Só!"

Eu respondi.

"Então vou voltar ao trabalho. Tchau."

"... Tchau..."

E assim... aconteceu o rompimento que não tinha acontecido...