sexta-feira, 18 de março de 2011

Forasteiro silencioso e o significado da felicidade



"O novo é necessário.
Mas ninguém gosta do novo.
O novo incomoda.
Tudo era bom antes da chegada do novo.
A mudança é a quebra da estabilidade.
Viva a tradição. Descartem o novo..."

Tenho vivido dias solitários nas últimas semanas. Como sempre, a vida mostra que mesmo me dando algo, ela tira outra coisa pra manter o equilíbrio natural que povoa minha vida. Sou eternamente insatisfeito, logo, infeliz por natureza. A infelicidade parece um vírus que não me abandona.

Como vocês acompanharam nos últimos Posts, eu finalmente conquistei meu lugar ao sol no quesito de emprego, o que me deixou muito satisfeito. Porém, por mais que eu esteja (e estou, acreditem) adorando a nova experiência, eu fui o único a entrar no meu setor, o que criou um clima estranho no ambiente. Me sinto um invasor. No local, que eu achei poder ser um local de oportunidades em achar alguém no mínimo interessante, o que encontrei foram pessoas bem resolvidas, jovens, alguns com filhos, cheias de pequenos preconceitos de prache da sociedade, piadinhas contra homossexuais rolando natural e constantemente, como se ser "viado" fosse como ser uma aberração e como se chamar o outro de "viado" aumentasse a própria masculinidade, vários papos entre eles que eu não entendo por que não estou inserido na linguagem deles... Enfim, há uma microsociedade formada e eu sou o forasteiro silencioso. Só falo quando tenho dúvidas, e eles são bem atenciosos, mas não se esforçam pra me integrar na equipe.

Resumindo... o preço da satisfação parece estar sendo pago. Me sinto só...

Aproveitando a abordagem, decidi definir a felicidade, na minha opinião. Felicidade pra mim não existe. Ao menos, não como é conhecida. Aquela felicidade do eterna e prometida, nunca poderia ser vivenciada, mesmo porque é impossível o mundo sem uma balança entre contrários. Eu considero a felicidade como nível de satisfação. Estar feliz é estar satisfeito. Estar infeliz te obriga a a se mover, a procurar a satisfação. O objetivo de todos, seja trabalhando, seja estudando, amando, seja fazendo o que quer que faça, é a busca da satisfação própria e das pessoas a sua volta. Pra mim, quando estamos satisfeitos com um aspecto de nossas vidas, os outros se afloram pra nos dar mais motivação em busca da satisfação completa. E ela não existe e não pode existir. No momento em que estivermos satisfeitos em todos os aspectos, de duas uma: Ou estaremos nos iludindo, ou nossa vida perdeu o sentido. Olhem nos orkuts e Msns da vida, estão cheios de pessoas "felizes", "satisfeitas" e "contentes". Questionem esses perfis. Eles trazem as pessoas mais rasas do mundo. Ninguém é ou está feliz o tempo todo, isso é mera ilusão, e graças a Deus que é, pois pensem como seria um mundo de plena satisfação! Que chato...

Então, um brinde à insatisfação e a infelicidade que nos move em prol de nossos objetivos. Abaixo o culto da felicidade que nos quer obrigar a ser rasos e contentes. Ser feliz holywoodianamente parece ser uma obrigação de nossa sociedade, e não à culpo. Analisando sociedades anteriores, a mulher não tinha direito à satisfação, era submissa, e o homem vivia pra trabalhar e trabalhava pra viver e sustentar a família. Plenamente heterocentrista, sem variações. O mundo mudou, direitos foram alcançados e a felicidade pareceu um direito conquistado, um dever social. Se estou feliz, atraio pessoas. Se sou depressivo, às afasto. Pois pra mim as pessoas mais interessantes desse mundo são aquelas que tomaram consciência de que não podem ser plenamente felizes, mas que lutam por um mundo diferente, por uma vida melhor, por uma causa inexplicável, que não se contentam com o tédio de viver satisfeito com pouco. Os heróis, os revolucionários, os escritores, os gênios não pensam na satisfação própria, mas do mundo em que vivem, da satisfação geral, pois essa causa a sua, ainda que a alcancem através da própria angústia exposta. 

Aproveite os poucos momentos de satisfação que tiver, pois eles lhe serão raros e únicos. Aproveite cada momento de angústia que viver, pois este será responsável por seu crescimento cada vez maior e lhe conscientizará de que precisa encontrar a sí próprio e a própria satisfação. Vamos rumo à felicidade, ao lugar ao sol, à satisfação ou ao que quer que a nomeiem, pois viver por ela, ainda que utopia, é a única coisa que nos vale a pena.
domingo, 13 de março de 2011

Amor eterno e incondicional...

"Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo."

O Pequeno Principe



Hoje vou falar sobre o amor. O amor em sua forma mais incondicional existente. O amor mais puro de todo o universo. Hoje vou falar de um ser que mudou o rumo da minha vida nos últimos onze anos, mais especificamente nos quatro ou cinco últimos. Seu nome era Xuxa, uma cachorra que viveu junto conosco por todo esse tempo, nos trazendo alegrias, preocupações e transformando nossas vidas de forma inimaginável.





Xuxa, que nunca soubemos de qual raça era (talvez uma mistura de Yorkshire com vira-lata), dessas que não crescem muito, foi sempre pequenininha, porém altiva e forte. Chamávamos de cachorra metida, pois passava com o rabão empinado e parecia ser chefe dos cachorros do quintal, sendo a mais velha da trupe. Cachorros vieram e cachorros foram, mas ela perdurou. Como moramos em um quintal familiar, inicielmente ela pertencia às nossas primas. Mas um fato mudou tudo alguns anos atrás.

Xuxa engravidou. Como todos sabem, cachorras quando engravidam vão ter os filhotes em locais escondidos. Ela se escondeu perto de minha casa, dentro de uns entulhos, e minha mãe, vendo aquilo, ajudou acomodando-a e a seus filhotes quando esses nasceram.

Mais ou menos um mês depois, deu uma enchente aqui no quintal, e, desesperada, a Xuxa subiu em um local mais alto, uivando pra que alguém salvasse seus filhotes. Minha mãe foi quem os salvou e colocou junto dela. Após desmamarem, as filhotes foram dadas, mas daquele salvamento nasceu o maior amor que eu já vi. Xuxa abandonou seus donos antigos, ficando na nossa porta, às vezes entrando em casa. Criamos um cantinho pra ela com uma almofada e ela passou a viver aqui. Sempre que eu ia no banheiro, passava por ela e ela me acompanhava até a porta, esperando que eu saísse. Quando saía, à enchia de carinho e ela, toda manhosa, ficava choramingando. Pode-se ter certeza que nenhum bicho recebeu mais carinho nesse mundo do que ela.

Quando minha mãe saía pra algum lugar, a Xuxa ficava agitada, apreensiva e estressada, correndo pelos cantos farejando. O sossego só vinha quando minha mãe chegava. Ai era só festa. Ela sempre pulava e agarrava com suas patas nossas cochas, abaixando sua cabeça enquanto fazíamos carinho, choramingando como um filhote carente.

Decidimos não arriscar outra gravidêz e mandamos castrar a Xuxa. No dia em que a mulher veio buscá-la para castrar e a colocou na jaulinha, ela ficou nos olhando com aqueles olhões e nos bateu a primeira preocupação. Não aguentava ver aqueles olhos gigantes me encarando sem poder fazer nada. Mas ela voltou bem, e a médica disse que durante a castração, encontrou um princípio de câncer nela, mas conseguiu retirar antes que fosse um perigo. Se não à tivéssemos castrado, provavelmente teria durado mais alguns meses. Sua vida foi prolongada por anos.

Passei a me preocupar muito com a Xuxa quando soube que por duas vezes o carro tinha parado em cima dela, e ao invés de se esquivar, ela se encolhia no meio da rua. Sempre que um carro derrapava na rua ou brecava, eu corria pra ver se ela estava bem. Estabeleci uma relação quase de pai com ela, cuidando e dando todo o amor possível.

No fim do ano passado a orelha dela inchou e tivémos que levar ao veterinário pra fazer uma punsão (enfiar uma agulha pra tirar o sangue). Foi um dos momentos mais horríveis da minha vida ter que segurá-la pra realizar o procedimento sem anestesia devido á idade dela. Ela ficou com um cone na cabeça, desesperada pra poder coçar a orelha e no primeiro dia, desapareceu sem deixar pistas. Desesperado, fui atrás dela, correndo pelo bairro sem saber pra onde ir. Sentei no degrau de um bar fechado e pedi que ela estivesse bem, desesperado. Meu maior medo era que ela sumisse. Quando voltei pra casa, descobri que ela se refugiou debaixo da cama da sua antiga dona. Nunca fiquei tão aliviado.

No natal de 2010, sem nada pra fazer, eu passei com ela, que latia conta as bombas enquanto eu à abraçava, desejando um novo ano ótimo a ela. Compartilhamos muitos momentos juntos, repletos de felicidade. Ela ia de manhã fazer caminhada com minha mãe, se divertindo no parque aqui do lado de casa. Estava presente em todas as reuniões de família, era super lambida com as visitas, sempre esperando carinho.

Então, há dois meses mais ou menos, percebemos um inchaço em uma de suas mamas. Não achamos ser nada grave mas o inchaço aumentou e levamos no veterinário. A doutora diagnosticou como câncer (havia voltado) e disse que viajaria na próxima semana e poderia fazer a operação na semana seguinte. Esperamos, cometendo o maior erro de nossas vidas. Xuxa foi levada pra operação na semana seguinte e ficamos apreensivos no dia. Recebi a ligação e a doutora pediu pra eu ir com minha mãe até lá. Logo que chegamos, mesmo sem dizer uma palavra, ela começou a latir desesperada, presa numa jaula, provavelmente só sentiu nosso cheiro. A doutora disse que o câncer era irreversível e que a única opção era esperar. Quando o momento chegasse, teríamos que levá-la ao sacrifício. Com o pelo raspado bem curtinho (ela sempre foi peluda), Xuxa voltou pra casa, comendo na sua vasilhinha de comida. Vendo aquela cena, me dei conta da situação e comecei a chorar. Nos próximos dias, demos todo o amor possível a ela, já que era a única coisa que podíamos fazer. Ela foi forte o tempo todo. Colocamos uma almofada bem macia no quarto que era da minha irmã e ela passou a dormir lá, mas antes de dormir, ficava sempre na sala enquanto estávamos aqui, do lado da perna da minha mãe, fazendo parte de todos os momentos possíveis. Quando não queria comer, dávamos a ração na boca dela, que fazia um esforço. Um dia cheguei do serviço e me sentei do lado dela, colocando sua cabeça no meu colo. Cada vez que eu parava de fazer carinho, ela levantava a pata querendo mais. Dei comida na boca dela e fiquei lá o maior tempão. Sua respiração ficou bem difícil nos últimos dias, pois o câncer espalhara-se por todos os seus órgãos. Ontem, antes de dormir, passei no quarto dela e, como há muito tempo não fazia, ela abanou o rabo pra mim, que passei a mão nela antes de ir, sem nem imaginar ser uma despedida.

Hoje minha mãe me acordou dizendo que ela tinha falecido e fui me despedir. Prefiro pensar que ela morreu dormindo. Fomos enterrá-la perto da estrada e foi impossível conter as lágrimas e se lembrar dos bons momentos. Xuxa não morreu, apenas partiu, e está viva em nossos corações. Tenho certeza que há um local reservado pra todas essas almas que mudam nossas vidas com seu amor incondicional e sua alegria. Vou sempre me lembrar desse amor, por que tirando o familiar e de amizades mais próximas, foi o único que senti em plenitude e sinceridade. Só queria ter certeza de que um dia vou reencontrá-la e que um dia vou poder novamente lhe fazer carinho em algum lugar. Nessas horas a gente perde a fé, perde tudo. De que valem as conquistas se a gente perde quem ama? Espero que ela saiba que foi amada por nós, e que esteja olhando por nós lá de cima.

Boa viagem, Xuxa, e obrigado por nos proporcionar os melhores anos de nossas vidas.
sexta-feira, 11 de março de 2011

Caminhos cruzados: Apresentando: Aquele que não podia ser encontrado



A vida é mesmo muito engraçada, cheia de embaraços, um "castelo de caminhos cruzados" (ótimo livro), um emaranhado de entrelaços cósmicos estranhos e bizarros. Aquelas certezas no interior do poço parecem elucidar-se lá do fundo da escuridão do esquecimento, querendo voltar. Sim, a vida é mesmo uma batalha entre os destinos invisíveis se digladiando numa arena dentro de nós. Os últimos acontecimentos, um deles em especial, selaram os últimos tempos de minha vida com chave de ouro.

Tudo começou no ano passado, quando fui na turma da noite e vi um rapazinho em um dos grupos de designer que achei muito lindinho. Convidei ele e seu grupo para assistirem minha apresentação de TCC e eles foram, foi bem legal.

Voltando ao presente, decidi nã ficar em casa esperando a segunda feira de carnaval, na qual eu trabalharia (injustamente, porém sem nem ligar, já que estava muito empolgado pra começar) e ir à "B" (cansei da "T") me acabar na pista. Fui à balada e quase me perdi pra chegar lá, mas consegui. Aguardei a entrada na fila e entrei. Foi bem legal a balada, inclusive o show que teve, dos quais não sou fã, foi bem interessante, assisti inteiro e curti. Em um momento do show, vi do outro lado do palco um rapaz. Quando vi, fiquei encantado. Ele me deu umas olhadas do outro lado do palco, meio desconfiado, e fiquei olhando sem parar. Então, me bateu uma dúvida:

"Eu conheço esse rapaz!"

Fiquei encafifado. Quem era ele? Eu lembrei de sua fisionomia de algum lugar. Após o término do show na pista principal, fui para a pista mais tranquila e sentei no sofá, ficando de boa. O rapazinho apareceu naquela pista também e ficou conversando com um amigo. Foi então que eu recordei.

Sim, era o designer da turma da noite.

Mas não tinha certeza. Será que era ele? Fiquei intrigado o resto da noite, e até nos cruzamos de novo, mas ele meio que virou a cara... deixei quieto. Fui embora pensativo: A balada foi boa, mas acho que tenho problemas com balada, pois não me acabo de dançar como a maioria e saio de lá faltando algo. Que careta eu sou....

Bom, cheguei em casa e só me restava esperar o dia seguinte, primeiro dia em um emprego novo com tudo novo de novo. E o medo de novo também. Só o que eu queria é parar de aprender. Tive um mês de aprendizado no teleatendimento e agora terei novos processos de aprendizagem. Isso cansa. Não que esteja reclamando, só estou observando.

Dia seguinte, fui pra nova empresa. Ansioso, empolgado, temeroso. Seria o único novato na equipe, o único a entrar, conhecer um grupo já formado. Bateu a insegurança natural. Cheguei e esperei até encontrar uma mulher da qualidade, Katia, que me levou para conhecer a equipe do estúdio que fica em uma porta ao lado da operação, com uma porta de metal escrito "Somente pessoal autorizado". Me senti importante. Conheci a equipe que dali em diante dividiria experiências (na verdade, por ser feriado, só tinham dois da minha equipe, de webdesigners, mais três da equipe de vídeo e fotografia e mais duas da equipe de multimidia, todos dividindo o mesmo espaço, o estúdio. Os rapazes foram bem hospitalheiros com minha chegada, mas não fiquei por lá muito tempo. A Katia fez questão de me levar ao terceiro andar para conhecer a equipe de produção, que trabalha em conjunto com os designers (sempre quis dizer "os designers" incluindo-me na equipe, em voz alta, hehe). Agradecerei a Kátia por toda minha vida por esse tour.

No andar de cima, conheci a equipe de produção, conheci a equipe de qualidade (com um rapaz que achei muito gato) e caminhei para a terceira fileira, do pessoal responsável por livros. O primeiro rapaz girou a cadeira e meus olhos encararam sua face. Nossas mãos se cumprimentaram, selando uma resposta à pergunta que ficou aberta há tempos. Como um flashback de filme, me veio à mente a primeira conversa que tive com aquele rapaz encantador pelo msn, com o qual combinei de me casar, e que depois ficou me mandando mensagens por diversos meios de comunicação como orkut, sms... rapaz que morava na mesma cidade que eu e que, no fim das contas, acabei nem me encontrando, achando ser apenas uma relação ilusória, um produto de minha imaginação. Vocês, caros leitores, se lembram de Tyler? O também chamado aqui no blog de "marido"? Pois é... ele existe. E naquele instante único, apertamos as mãos, saindo faíscas dos olhos mediante nosso reconhecimento imediato. Destinos cruzados, afinal...

Continuei cumprimentando as outras pessoas, esquecendo nomes, esquecendo fisionomias e Katia se sentou comigo explicando o sistema da empresa, mas suas palavras pareciam estar em outra lingua, eu a via falando e não estava entendendo, eu só conseguia pensar naquela troca de olhares, naquele destino selado, naquele instante.

Descemos, e de tarde, após o almoço, mandei mensagem no celular do Tyler, perguntando se era ele que eu tinha conhecido na empresa. Não obtive resposta. O restante do dia foi aprender o que eu ia fazer dali em diante. Mecher no Mac é um desafio à parte e vendo os rapazes mechendo no Photoshop, vi que terei que ralar pra chegar ao nível deles. O desafio será grande. Cheguei em casa, mandei mensagem pelo orkut ao Tyler. Nada de resposta também. Comecei a ficar irritado. Afinal, era ele ou não era?

Desisti de correr atrás. Tyler sempre foi um rapaz reservado, e eu acredito que ele não iria querer ter contato comigo na empresa, o que poderia, na cabeça dele, revelar seu segredo ou algo do tipo. Decidi deixar pra lá.

No dia seguinte, finalmente conheci a equipe toda de trabalho, todos me zoaram por começar no feriado e foi legal. São 7 webdesigners, mais eu e a supervisora, Andréia, amiga do meu irmão que fez a entrevista. Sentei ao lado dela, que começou a ensinar os processos. Aos poucos estou pegando bem. Ela me levou para o andar superior pra conhecer a chefia e passei na fileira do Tyler. Não olhei para ele, só de canto de olho, e ele estava vitrado no computador. Descemos, e voltei a trampar de boa. No fim da tarde, recebi uma mensagem dele:

"Você não recebeu meu sms pelo jeito, não é?"

Respondi que não, e ele disse que tentou mandar aos meus dois celulares. Disse que não recebi nada e pedi que ele reenviasse o que tinha mandado. Não obtive resposta. Enviei mais duas mensagens e nada. Isso me deixou irritado de novo. Pedi à minha supervisora pra me deixar ir me desligar do teleatendimento no dia seguinte e ela deixou, mas eu ainda teria que ir trabalhar a tarde.

No trem, indo para a empresa, mandei uma mensagem sincera ao ex-marido:

"Olha, cara, na boa, não quero atrapalhar sua vida. Sou um cara bem discreto como você, mas vou respeitar se não quer ter contato comigo. Desejo tudo de bom pra você, não vou forçar a barra. Só queria te conhecer em nome da amizade que um dia tivemos. Boa sorte ai, man..."

Não deu nem cinco minutos, recebi uma mensagem dele falando que queria almoçar comigo mas que não respondi as mensagens dele, pedindo que eu não fizesse o que ameassei (tá vendo como pressionando as mensagens dele chegam?). Ele combinou de almoçarmos juntos amanhã. Realmente esse é um dos períodos mais compensadores de minha existência, mas não tenho expectativas com o rapaz, procuro nesse instante uma boa amizade com ele. Já chega o quanto fomos precipitados no início da relação. Agora é esperar pelos próximos acontecimentos que hão de vir. Minha supervisora disse que no dia seguinte entraria uma equipe de novos integrantes no setor de livros, em que o Tyler trabalha, e eu iria assistir as explicações deles pra ficar por dentro. Bateu um medo de ver o rapaz na minha frente, duvido que consigo prestar total atenção no que me explicarem...

Enfim, como escrevi no msn: "Caminhante, não há caminho. Faz-se o caminho ao andar." Metade de mim está resolvida, agora só falta o coração...
quinta-feira, 3 de março de 2011

Aborto expontâneo: Apresentando: O Webdesigner



"É terrível morrer de sede no mar. Porque haveis então de salgar a vossa verdade de modo a que não mate já a sede?"

Essa frase genial escrita por Nietzsche, meu filósofo maluco predileto, tem sido a moral de minha vida nos últimos tempos. Principalmente a primeira parte. Como é possível tanto gay no mundo, como um mar, e nem unzinho se interessar por mim? Como pode um mundo projetado por designers, artistas e estagiários e nenhuma vaga sobrar pra mim? Como pode tanta injustiça? Esse poderia ser um post sobre as injustiças do mundo e sobre as frustrações pessoais de alguém que acordou para o fato de ser um zero à esquerda; MAS NÃO É.




Esse é um post sobre justiça. Um post da entrega da vida a quem está morimbundo, de ar ao afogado. Esse post é sobre redenção e justiça.

Como eu disse anteriormente, para trabalhar em teleatendimento, eu tive que me desligar da racionalidade, vivendo sem pensar, sem refletir. E estava funcionando. Porém, no dia em que encontrei meu irmão na estação de trem, contei de minha situação atual. No dia seguinte, recebi um e-mail dele pedindo que eu enviasse um e-mail à sua amiga que trabalhava na área, para que ela tentasse me ajudar.  Mandei o currículo. Afinal, não custava nada, apesar da falta de fé na área. Continuei trabalhando. Comecei a atender, e até pensei que levava jeito pra coisa, sem me estressar com os clientes e rindo à toa de muitas situações. Um dia, cheguei e caminhei à minha PA (mesa de atendimento), passei pelo corredor e meus olhos encararam um rapaz bem interessante. Ele olhou para mim. Faíscas saíram dos olhares. Me encarando encará-lo, ele me mostrou um jóia. Correspondi simpaticamente e fui trabalhar otimista de que várias oportunidades surgiriam ali.

Foi então que, na segunda feira, estava em meio a um atendimento e meu telefone tocou. Pedi que esperasse e atendi quase embaixo da mesa (proibido entrar celulares na operação). Era um agendamento de entrevista. Em designer. Fiquei otimista, fui pra casa e vi o e-mail confirmando no dia seguinte para estar lá às nove da manhã. Eu teria que faltar na empresa. Se eu passasse, não precisaria me preocupar com a falta, mas e se eu não passasse? Que explicação daria? Enfim, decidi ir, inventaria uma intoxicação alimentar tratada em casa.

Fui à entrevista em uma cidade a meia hora da minha, em uma empresa visinha à que trabalhei de logística pela primeira vez, para a qual tinha mandado meu currículo de designer. Achei estranho, pois não sabia como meu currículo tinha ido parar na empresa visinha e não na que eu enviei. Na entrada, conheci uma moça bem legal, formada em jornalismo e concorrente à minha vaga, aspirante à área de criação tanto quanto eu. Conversamos bastante na recepção, subindo com uma turma grande de pessoas para as quais foi explicado mais sobre a empresa. Depois, fomos fazer uma prova. Específica na área. Português, matemática e produção. Bem difícil. Descemos um por um para entrevistas individuais. De designer, eu tinha apenas três acompanhantes, incluindo a jornalista. Uma outra entrevistadora desceu, e me cumprimentou. Então, diante da quase certeza de que seria somente mais uma tentativa frustrada de entrar para a área... DEUS EX MACHINA...

"Você é o irmão do RRR, não é?"

Era a amiga do meu irmão. ERA ELA. Fizemos uma entrevista leve e tranquila. Me explicou sobre a vaga, sobre não precisar de experiência, sobre a perfeição que seria. No final, perguntou: "Pronto pra começar?" e eu confirmei.

No fim da tarde, tive a confirmação. Eu estava contratado. Foi uma festa só. Minha mãe ficou feliz, o que é raro (ela disse que teleatendimento não era pra mim). Pensei na empresa em que estava, no que diria no dia seguinte pra sair, em tudo que aconteceu nos últimos tempos. É tão bom sentir-se vivo, sentir as mudanças na vida acontecendo, sacudir a poeira da comodidade. Enfim, é bom demais ter um post positivo pra postar aqui, pra variar.

E não acabou por ai. Fui à empresa no dia seguinte pra me desligar daempresa e no caminho, cruzei com uma colega do trampo, contando que estava indo pra cair fora. Fomos conversando até que de repente, cruzei os olhos com o Tulio (o rapaz que eu acabei gostando e acabou não respondendo meus recados). Minha colega foi embora e eu fiquei conversando com ele (quase uma hora e meia). Ele explicou que o único contato que tinha comigo era pela net e que como eu estava sem net, ficava difícil. Também disse que acabou limpando meu número sem querer (tá, ninguém cai nessa) e fiquei sabendo um pouco mais dele e vice-versa. Ele mora em São Paulo com a irmã mas  a família mora em Santos, o que me deixou um pouco receoso, pois ele vive indo pra lá. Mas receoso por que se nada temos? Marcamos de ir num cinema (quer que eu pague, já que agora tenho um bom emprego), e vamos combinar. Em um momento, chegamos ao assunto de eu às vezes ser iludido pelas pessoas, e ele então disse:

"Você tem que tomar cuidado, Rud. As pessoas são más por natureza, e por natureza maior ainda os homens são safados. Não digo isso na questão amorosa ou de relacionamento, mas isso inclui seus amigos também. Tome sempre cuidado para que não te machuquem."

Gostei do que ele disse, pois coube bem na minha ilusão de curtí-lo no primeiro encontro e de ficar abalado com seu sumisso. Não posso me apegar tão fácil às pessoas assim, para meu próprio bem. Foi um papo ótimo.

Chegando na empresa, falei com minha supervisora. Vi o rapaz que me deu jóia há uns dias atrás e ele não me viu. Virei a cabeça e vi minha Mini-obi lá no fundão, atendendo. Olhei para a operação e vi o caos instaurado. Me senti então aliviado por estar deixando o local, que apesar de eu ter gostado, não era pra mim no fim das contas. Minha supervisora perguntou o que houve e eu comuniquei que estava deixando a empresa por ter conseguido emprego na minha área. Ela perguntou qual área e eu disse que era designer. Daquele dia em diante, eu iria ser instruído por um novo supervisor, e ela pediu que ele fizesse meu desligamento. Ele me levou para o segundo andar, para um local mais tranquilo.

Chegando lá, expliquei os motivos do desligamento e ele começou com um discurso.

"O que tem lá na outra empresa que não temos aqui? Olha, aqui também temos webdesigner. Eu sempre falo às pessoas que nada é como a gente planeja, que nem sempre podemos dar um passo maior do que nossas pernas e que às vezes surge uma oportunidade e que não estamos prontos pra ela."

Eu então revidei:

"Ok, mas como você vai saber se está pronto ou não se nunca tentar? Eu prometi a mim mesmo que iria meter as caras esse ano."

"Ok, isso é verdade, mas as vezes acabamos nos precipitando. As vezes temos que ter paciência, principalmente nós que não nascemos com a bunda virada pra lua. Eu por exemplo, sou formado em TI, e estou aqui na empresa como supervisor sabendo que a bagagem que eu adquiri aqui irá me levar longe quando eu sair daqui. Um amigo meu me ofereceu uma vaga uma vez para que eu trabalhasse na Microsoft... e eu recusei, pois sabia que eu não tinha repertório ou bagagem pra trabalhar lá."

Fiquei mudo. E um pouco triste. Mas, mais do que tudo, inconformado. Que raios de pensamentos imbecís eram os daquele cara? RECUSAR MICROSOFT? Eu iria sem repertório, sem bagagem, com a cara e a coragem!!!!!!!!! O rapaz do jóia veio para o lanche e fiquei de olho nele, com a esperança de poder comunicar minha saída e quem sabe não conseguir seu telefone... Mas ele nem me viu.

Enfim, ele me convenceu de que seria melhor me desligar apenas quando tivesse certeza de que os exames médicos seriam positivos e tal. Achei legal da parte dele se importar comigo (ok, ele só se importa com mais um funcionário em sua equipe e em não ter o trabalho de me desligar....). Peguei minha carteira de trabalho e parti. De tarde, teria o exame médico e entrega de documentos. Correu tudo bem, não encontrei minha colega jornalista, será que ela passou? 

A carga horária do novo emprego é um pouco pesada (considerando que no atendimento eram 6 horas), e já me avisaram que não teremos feriado (trampar no carnavalzão) mas o importante é ter webdesigner na carteira e começar a trilhar no caminho certo. Sabia que 2011 não me decepcionaria. Agradeço ao apoio de todo mundo que disse pra eu acreditar e esperar. Segui a dica e aconteceu. A sede foi, enfim, saciada e uma nova fase começa. Essa foi somente a primeira batalha.