sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010





E aqui acaba o ano de 2010, o ano do tigre. No horóscopo chinês, sou do signo tempestuoso do tigre, que também foi o signo correspondente a 2010. Ou seja, esse foi meu ano, e de todos nascidos em 1986. Segundo tal horóscopo:

"Este é definitivamente um ano explosivo. Começa geralmente com um estrondo e acaba com um choramingo. Um ano dado para a guerra, o desacordo e desastres de todo os tipo. Mas será também um ano grande, bold de realce). Nada será feito numa escala pequena, ou tímida. Tudo, bom e mau, pode e será levado aos extremos. As fortunas podem ser feitas e perdidas. Se você tiver uma possibilidade poderá agarrá-la mas nunca esqueça que tem grandes obstáculos pela frente."

Fonte:

http://www.hoops.pt/astrologia/tigre.htm

Bom, definitivamente foi um ano intenso, e nada melhor do que uma retrospectiva que relembre as alegrias, amarguras, tristezas, ressentimentos e vitórias desse ano que se finda.



O ano de 2010 começou com um único pensamento em minha mente: "Tenho 23 anos e nove meses de vida e nunca fiz sexo. EU PRECISO FAZER SEXO." Minha meta então era que, antes dos 24 anos, eu faria o bendito sexo pra me conhecer melhor. Não fiz sexo antes por causa de várias nêuras, problemas de aceitação interna, auto estima baixa.... enfim, sempre fui tímido e travado, e por mais que houvessem predadores querendo papar o virgem raro, ninguém chegava aos finalmentes. Eu nunca tinha me incomodado com o fato.... até 2010 começar.  A diferença é que agora eu queria. Isso mudava tudo.

Então, conheci um dos primeiros personagens da trama, o Loirinho Boizinho. Depois de um encontro intenso na "T", nós passamos a nos ver regularmente e ele se propôs a me ajudar a perder o que eu não queria mais. Mas na primeiroa vez que nos encontramos com o objetivo de entrar em um motel...... ele arregou. E lá se foi minha chance.

Então, conheci um rapaz de atitude na internet que veio de fora de São Paulo e realizou aquele desejo.

"Posso te chamar de doce?"

Apesar de ter ouvido isso na cama, eu resisti (sou anti-romântico, rsrs) e a coisa fluiu bem para uma primeira vez. Na verdade foi melhor do que ouvir:

"Posso te chamar de minha puta?"

Sim, ouvi isso na minha segunda vez...........

Acabaram-se as nêuras, paranóias e agora eu irei sair por ai desencanado transando com todo mundo, certo? Certo? Errado!!

Bom, decidi criar um blog para contar como perdi a virgindade e como seria a vida depoois desse fato. E criei este que você lê nesse instante. Nosso Lugar ao Sol. Um blog sobre a busca de um lugar, eu que sempre fui um desgarrado nesse mundo. Não demorou muito e conheci alguns leitores interessantes. O primeiro foi Ratio X, que me procurou para pedir que eu parasse de procurar a perda da virgindade. Mal sabia ele que eu estava escrevendo fatos já consumados, rsrs.

Uma pessoa que surgiu um pouco depois foi Max, um rapaz que conheci no bate-papo e que me tornei amigo. Acredito tê-lo ajudado a vencer alguns bloqueios com relação a rapazes, praticamente o obriguei a se encontrar comigo. Apesar de ter rolado altos e baixos entre nós, o máximo que aconteceu foi um selinho roubado na estação República por parte dele. Nossa amizade acabou não vingando graças a diversas pequenas mancadas que eu dei com ele e que ele deu comigo.

Talvez a pior mancada tenha sido ele se meter entre mim e meu conto de fadas, o chamado Tyler, rapaz encantador que mora na minha cidade e que conheci em um site de relacionamentos. Prometemos nos casar e passei a chamá-lo de marido. O Max descobriu e o adicionou, infernizando sua vida. Isso foi a gota d´água. Nunca encontrei Tyler. Foi uma ilusão, como muitas que vivi. Ilusões como a com Tony, rapaz que cursava filosofia e que, dois dias depois de querer me namorar, disse que não acreditava no amor....

Amor foi a palavra que ouvi de meu primeiro namorado. Não retribui:

"Não vou falar que te amo, pois é uma palavra muito forte. Falarei quando realmente sentir..."

Nunca falei. Ele me trocou por outro rapaz, dando a desculpa de que me trocava pela facilidade de namorar mulheres, já que era bi. Isso gerou em mim a necessidade da busca por pessoas resolvidas socialmente, acima de 25 e NÃO-BIS. De bis, só o chocolate.

Foi um ano intenso, pois além de ter transado pela primeira vez (e mais três vezes depois, com pessoas diferentes), eu pela primeira vez namorei um rapaz. Tiago foi único e marcante. Foi uma amizade com bônus, pois tinhamos conversas de horas a fio sem parar, nos entendíamos através das maiores ironias e a química era total. Mas sua indecisão e paranóia acabou com o relacionamento de três meses aos poucos. Foi bom enquanto durou, sinto saudades de namorar (mas não com ele).

Também foi um ano de amizades. Considero ter encontrado um novo amigo (real, já que virtual encontrei vários) nesse ano. O Primo e eu tivemos uma maneira de nos conhecer bem estranha. Primeiro conheci na internet o Turco, que me apresentou o Albano, um rapaz que parecia ter amizade com o mundo todo. Um belo dia, o Albano criou um grupal, uma conversa pelo msn com várias pessoas desconhecidas. E lá estava o Primo, que eu adicionei, sem mais nem menos.

Nos dias seguintes, ganhei pelo Catraca livre um ingresso para ver um concerto e estava na dúvida de quem chamar. Falei com várias pessoas até chegar naquele desconhecido chamado Primo na lista do msn. Propuz nosso encontro e ele aceitou. Quando nos conhecemos a química foi total: Amantes de Glee, de psicologia e de música clássica de Bach!!! A noite foi MARA, como diria ele próprio, nos divertimos HORRORES. Também houveram novas amizades como o encontro na virada cultural com o Albano e outros rapazes que conheci naquela noite, inclusive uma paixonite que tive mas que durou pouco. Mas a que prevaleceu foi a amizade com o Primo.

Ainda no campo de amizades, eu e o Fulano nos superamos: mais um ano da maior amizade de todos os tempos. Nos conhecemos na sétima série (não me perguntem que ano foi isso) e mesmo morando fora de Sampa, mantemos contato quase todos os dias e a boa notícia é que ele começou seu primeiro namoro. A Ju veio do Piaui também para passar esses últimos dias em sampa e continuamos firmes e fortes na amizade. Dessa vez eu e o Ed não passaremos a virada juntos, mas ainda assim aquela amizade que começou tímida na empresa há quase três anos continua a mesma, cheia de altos e baixos, mas sempre mantendo o respeito e a alegria merecida. O mesmo não se pode dizer de outras amizades como a de Hayashi, que conheci no mesmo ano que Fulano mas que esse ano passou por um terremoto maior do que o que aconteceu em nosso primeiro (e último) beijo. Nossa amizade acabou em uma briga por msn por eu não ter conseguido conciliar nossa amizade com suas novas e seu maridão que veio morar em Sampa. Eles foram feitos um para o outro e eu acabei sobrando. Ela até me ligou na véspera de natal, mas ai eu perguntei:

"Você vai ser uma dessas amizades de data comemorativa?"

Pareceu que nos entendemos na conversa, mas sabe quando falta algo? Quando algo se perdeu? Ficou assim, dessas amizades que você sabe que não poderá sobreviver muito.

No campo da vida acadêmica, conquistei o diploma ainda que a muito sacrifício. Assumi a responsa de colocar em prática um projeto meu no TGI/TCC, e isso me consumiu muita energia, sem contar que cuidei de 75% do projeto, além de ter que monitorar os quatro outros membros de meu grupo. Nessa empreitada, conquistei a amizade da Beata, briguei com o Bipolar, me irritei com o Homofóbico e tive que carregar o peso morto do quarto membro. Apresentamos o trabalho para a banca julgadora e tiramos 9. Não foi um dez como eu esperava, mas não ligo. Foi uma grande vitória.

Com relação à coragem, avancei algumas casas. Conheci o segurança da faculdade, me assumindo gay sem ter certeza de que ele corresponderia, acertando na mosca que ele curtia também apesar de nunca termos tido nada além de uma bela amizade; tive encontros calientes no parque, no cinema e escondido em vários lugares "proibidos" com meu ex-namorado, em um mundo que apesar de hostil, não parecia perigoso. Mas somente até acontecerem ataques de homofobia na paulista que mudaram nosso comportamento, reprimindo cada vez mais nossas atitudes, em uma guerra que parece estar sendo ganha pelo outro lado.

No quesito família, houveram bastante mudanças. Descobri que minha irmã realmente é lésbica e contei que sou gay, o que nos aproximou um pouquinho. Ela trouxe uma mulher para morar junto com ela no quarto do lado de fora de casa, como uma vida de amizade-fachada, já que meus pais (fingem que) não sabem sobre sua sexualidade. Descobri dormindo na casa de meu irmão que seu nível de homofobia está acima da taxa normal e tolerável e que talvez ele venha a se afastar de mim quando souber. Ainda assim o ajudei a fazer sua animação de final de semestre. Me orgulho por sempre ter sido comparado com meu irmão,como se fosse uma cópia dele e agora estar adiantado (formado primeiro que ele, lhe ensinando animação), tomara que ele tire uma bela lição disso.

Foi um ano de crescimento, de muita decepção e de pouco tempo pra sofrer por cada uma. Acredito que tive vários momentos bons, bem equilibrado com os ruins, senão a vida acaba monótona. Tudo veio em sua dose certa. Me conheci mais em 2010. Me livrei da acne, meu tratamento dentário entrou na reta final e minha auto-estima mostra sinais concretos de revigoração. A expectativa de 2011 é um ano de conquistar o que se começou no ano do tigre.

Agradeço a tantos leitores interessantes que surgiram pelo blog como Ratio X, Thinker, Chimera Within, Tito Fierce, Mister Thinker, jovem Urso, Sinner, Yossef, Somniator e tantos outros anônimos que contribuíram comentando no blog e gerando discussões inteligentes. Espero muito mais leitores daqui pra frente.

Para fechar, vamos aos 12 itens de destaque em minha vida em 2010:

1. A melhor frase ouvida: "E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam ouvir a música." Frase que expressa o nosso sentimento de estar só no mundo, de dançar a dança cuja música ninguém ouve, de estar em uma situação social diferente de todos os seres do planeta.... Só podia ser Nietzsche.

2. Melhor encontro: Com o Max. Eu curti e tentei manter a amizade. Não rolou.

3. Pior encontro: Com o ex- namorado do Segurança, que perguntou: "Você vai transar hoje, Rud?" Rsrsrs. Ele foi embora após minha resposta negativa.

4. O melhor momento: Transar com o 3.9 com cara de 25 e descobrir que mesmo o corpo mais perfeito não tem muito valor quando não há profundidade na relação (mesmo o melhor momento tem parte ruim, rsrs).

5. O pior momento: Descobrir que a paixonite da virada cultural tinha namorado.

6. Revelação do ano: Amizade do Primo.

7. Desilusão do ano: Perder a amizade da Hayashi.

8. Melhor discussão: Eu e o Tiago no shopping, após uma noite péssima na balada, discutindo a relação, relembrando o que dissemos, esfregando SMS enviadas um na cara do outro e terminar rindo de tudo.

9.Maior ousadia: Apresentar na banca final e defender sozinho meu projeto do julgamento da banca.

10. Eu chorei com: A morte do meu cachorro Marley, o final do filme ONCE (apenas uma vez), o final do capítulo 18 da primeira temporada de Glee e mais algumas coisas que nem lembro...

11. Uma dúvida: Será que o amor entre gays pode existir?

12. Uma certeza: 2011 será um ano de vitórias. Que venha 2011!!!!!!!!!!!!
domingo, 26 de dezembro de 2010

Fim de ano: Parte V: Idéias suicídas em um mar de acomodações



Eu e o Fulano tivemos uma conversa que rendeu a última reflexão do ano de 2010. Foi uma conversa sobre a brevialidade da vida, o medo da morte, o medo de não viver maior do que o medo de morrer, o medo da solidão no fim da vida, de se valer mais a pena viver intensamente, ainda que pouco, ou uma longa vida ainda que regrada e pobre de conteúdo.

Não há conclusões, é claro, mas a vida que vivemos não é vida. Cada vez que deixamos de falar algo, cada vez que meus pais pensam algo sobre mim e tem expectativas com relação ao que eu sou e que eu sei que não corresponderei, ainda que minta pra eles...é um pouco de mentira. Meus pais não sabem nem 10% do que tenho sido nos ultimos 6 anos............ logo, eu sou uma mentira. O fato deles não saberem que sou gay e da sociedade não saber.... me torna uma máscara social.

Não sei se o pior são pessoas preocupadas como eu ou indiferentes como muitos que conheço que vivem numa redoma, despreocupados, sabendo que levam uma vida hiper limitada e não ligam, deixam acontecer. Conheço um rapaz de 22 anos na internet, cujo único encontro foi comigo e não rolou nada, que nem pensa em mudar de vida. Eu tenho mais medo da morte lenta e solitária do que repentina. Mas tenho medo da morte repentina pela sensação de que poderia ter feito mais.

Talvez já tenha falado aqui mas cheguei a conclusão de que as pessoas precisam, em algum momento de suas vidas, de um ponto de virada. Algo que as mude por dentro e por fora e que as faça tomar atitudes e passar a viver a vida de forma diferente....... O meu problema é não ter nada disso, viver no meio termo e estar acomodado.O pior do ponto de virada é que você não pode procurá-lo, ele precisa acontecer naturalmente. Enquanto não acontece, você acaba como uma vítima de seu próprio ciclo vicioso...

Quais riscos você já correu? Quais histórias vai contar no futuro? quem você vai ser? Quem você é? A gente se lamenta de quem é mas não faz nada pra ser algo mais, pra ser diferente...... adotamos um estilo de vida e somos escravos dele. No meu caso sou o grande acomodado que terá que acordar mas que por opção continuaria dormindo, projetando sonhos e desejando que eles nunca se realizem para ter sempre o que sonhar. COMODISMO é minha palavra chave, é meu elo com um mundo falso, é o mentir todos os dias pro mundo sobre quem eu sou, e as vezes me sentir culpado por ser, por existir. O ponto de virada será nesse sentido, será acordar desse sono, dessa mediocridade e viver algo real. Poder contar sobre isso no futuro. Fazer valer a pena.

O modo de vida nos escraviza. Meu comodismo me tranformou em uma pessoa com medo da realidade da vida. Medo de trabalhar no que não gosta, medo de não conquistar o que procura. Conheço um rapaz do Maranhão pela internet que vive um estilo de vida meio mórbido, entrando em sites de morte, pintando morte, sangue e destruição. Suas histórias também são sobre a morte. Percebi que ele é escravo de seu estilo de vida. Ele não pensa no futuro, por que vive sem esperanças, querendo se matar, em adiantar o inevitável, mas o inevitável nunca vem. Uma vitima de sua tristeza intrínseca. E afirma que a tristeza lhe trás inspiação. Logo, se a tristeza lhe recompensa, por que não conviver com ela? Tristeza com compensação acaba lhe tornando escravo de seu modo de vida. Acho que vivo como ele, mas no meu caso vivo na esperança da mudança, sem provocar efetivamente a mudança. Ela é necessária, mas meu medo me trava. É um ciclo. Preciso de uma ressaca. Porém, minha familia tem historico de alcoolismo, logo nunca coloquei uma gota na boca. Um deslise poderia me condenar. É triste ter que viver lúcido pra sempre

O Fulano disse que cada vez que nos omitimos de algo, cada vez que deixamos de dizer alguma coisa e de ser quem somos durante nosso dia nós nos matamos um pouco. E então, quantas vezes você se matou hoje? No fim, temos todos um pouco de suicídas...
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Fim de ano: Parte IV: Paradigmas cíclicos



"Todo ano é tudo igual
A neve nunca vem
As chaminés que inexistem
as crianças no coral

Felicidade tem data
perdão tem lugar na mesa
familia toda reunida
e a intriga está servida."

By Rud.......................................

Bom, como já dá pra perceber, eu não sou fã de falsid..... natal.

Na teledramaturgia, geralmente o vilão fica sozinho no natal e os mocinhos em festas e jantares, felizes.......... (acho que sou o vilão nessa)

Tem aquele lance também de que aqueles que usam a internet no natal são as pessoas mais solitárias e desesperadas já vistas..... Ah, por favor. Prefiro o computador a um bando de reuniões sem sentido, mas cada um vive na fantasia que quer....

A mídia transforma o natal em um porre, acho que isso é o que eu mais odeio nele. E para piorar parece obrigação estar BEM nessa data. Eu sempre fico normal. O natal quase sempre vale mais pela lembrança do que foi do que pela beleza do que é. É como um paradigma de comportamento fadado a se repetir todos os anos, em um ciclo sem fim de consumismo desnecessário.

Para mim, essa foi a melhor expressão de natal do ano:


Mas ainda assim, feliz natal pra quem curte, hehe.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Fim de ano: Parte III: Ironias e superficialidades natalinas



Bom, como todos sabem, fim de ano trás as férias e agente meio que se abstém de diversas responsabilidades, como por exemplo esse blog, rsrs. Nada de muito empolgante tem acontecido ultimamente, mas vamos às poucas novidades.

Após me formar em Designer Digital, as coisas começaram a esquentar. Fiquei doente na semana seguinte da apresentação (um problema no intestino do qual ainda estou me recuperando) e surgiu uma entrevista de uma produtora de animação para fazer. No dia eu estava muito mal, mas pelo telefone, a mulher perguntou:

"E ai, quando pode vir?"

"Eu estou livre qualquer dia."

"Vamos resolver hoje então."

Fui, debilitado, quase me arrastando, mas chegando lá não estava sentindo dor nenhuma. Me assustei quando vi que o local era uma casinha humilde (eu esperava um prédio de uns 20 andares). Ela levou meu pendrive para a sala de produção, onde tinham dois rapazes (um deles muito lindo) e ficou admirada com a animação que fiz para o TGI. Depois fomos para a outra sala e ela me disse dos planos deles de criar um curta metragem em animação (ou seja, não é exatamente um emprego fixo). Mesmo assim fiquei contente pelas portas da área estarem finalmente se abrindo. Saí de lá e a dor voltou...

Dois dias depois o telefone tocou. Uma vaga para Logística, minha área antiga, oferecendo um horário ruim, porém um salário como nunca tinha visto antes. No início pensei em nem ir à entrevista, mas com a ajuda do Fulano pensei melhor e fui. No momento, se vier bom salário em logística, é lucro, pois poderei pagar os sites de estágio (um absurdo site de estágio pago................) e também suprir alguns desejos que tenho desde que saí da última empresa.

Uma semana após terminar a faculdade, a vida coloca diante de mim a oportunidade de Designer e de Logística.... Santa ironia. Estou esperando a resposta dos dois lados, o que vier é lucro. E ainda que nenhum venha, continuarei correndo atrás das duas áreas. Só há uma certeza no ano que entrará: Eu irei trabalhar em algo e darei os primeiros passos para construir minha carreira e independência.

No quesito "homens", estou bem tranquilo e parado. Ultimamente voltei a entrar em um site de "relacionamento" (aquele que mais parece uma feira), mas quase nada acontece por lá. A maioria das pessoas é dotada de uma superficialidade astronômica. 

O último que conheci foi um rapaz de 26 anos. Quando adicionei ele, as fotos pareciam bem legais, fomos conversando e o papo foi interessante. Às vezes eu sou tão inseguro que se a pessoa gostou de mim, eu já me afobo e dessa vez eu o chamei para ir ao cinema precipitadamente. Mandei umas fotos minhas e ele curtiu, mandando algumas dele. Foi ai que eu vi onde me meti. Era o cão chupando manga..... e eu já tinha dado meu celular.

De noite, me mandou duas mensagens, uma com o horário do filme e outra dizendo:

"Rud, curti muito vc, espero podermos ter algo ^^"

Bom, eu não via mais possibilidade de encontrá-lo, então no dia seguinte esperei ele no msn. 

"Oi, Rud, tudo bem? Viu os horários do cinema? O que acha?"

"Ahn, tem algo que eu preciso dizer... Não podemos mais nos encontrar."

Dei a velha desculpa do rolo que estava enrolado e do dia pra noite desenrolou, e que por estar com outro, não poderia encontrá-lo.

"Tudo bem, Rud... Já estou acostumado, ninguém me quer. Melhor mesmo eu ficar sozinho. As pessoas sempre me trocam. É normal."

Me bateu aquele mal estar, olha o que eu proporcionei para o rapaz cheio de esperanças em seu natal... E o pior é que eu me identifiquei com ele. No fundo eu também sou sempre trocado por algo, vivendo histórias incompletas. E depois eu ainda chamo os outros de superficiais. Mas algo que aprendi é que não podemos fazer nada de forma forçada, e eu não estava no pique de sair com alguém por hora.

O natal está chegando e nessa época minha tendência é a de não ficar muito bem... É a velha história de que a lembrança de velhos natais é sempre  melhor do que os atuais. Mas vou tentar fazer desse ano algo diferente, nem que seja pela indiferença.
domingo, 12 de dezembro de 2010

Fim de ano: Parte II: Momento de glória



Cheguei duas horas mais cedo para montar o lap top no anfiteatro e ensaiar com meu grupo. Não tivemos muito tempo para o ensaio, pois os outros grupos chegaram para testar. À medida que os minutos avançavam, eu ia ficando mais tenso. Treinei ensaiando junto com a Beata e logo chegou um rapaz de outro grupo, o que fez eu ficar bem nervoso. Se com uma pessoa eu ficava assim, imagine quando chegassem todos os prometidos...

Porém, acabou que, tirando aqueles que estudaram conosco que eu chamei (incluindo o Jé, uma figura peculiar, que eu sempre achei que era gay mas que ficava só vendo pornografia hétero nos computadores da facul), ninguém mais veio. Nem segurança, nem ex, nem marido, nem Kevin do trem.... nem meu irmão foi. A Hayashi selou o fim de nossa amizade não indo também. E confesso que fiquei aliviado. Se algum deles fosse, eu ficaria muito nervoso.

Antes de começar a apresentação, a Beata pediu que nos abraçássemos em grupo e o fizemos, como uma equipe quase que pela primeira vez. E com as energias de todos, vestindo a camiseta da nossa obra, idealizada por mim, a apresentação começou.

Após a Beata, eu falei. Contei uma sinopse da história, apresentei personagens, rascunhos, produção, plano de comunicação, site, links de internet... e por fim, uma animação de 12 minutos produzida inteiramente por mim.

Após a animação, fomos aplaudidos. Finalmente acabou. Ficamos face a face com a banca, e defendi meu trabalho de seus argumentos, de forma equilibrada e inacreditável, como nunca pensei que eu pudesse fazer. Aquele foi meu momento de glória. Minha professora orientadora me abraçou e me elogiou, dizendo que meu medo era à  toa. Fechamos a vida universitária, viramos uma página da história.

No sábado, fizemos um amigo secreto com a maior parte da turma da facul, e até que foi legal. Eu que pensei que seria um daqueles eventos em que as pessoas ficariam com falsidade... Mas foi bem interessante, apesar das piadas homofóbicas que sempre tem entre os homens machões, das quais não ri para nenhuma.

Não tem muito o que alongar desses últimos acontecimentos. Já tive uma crise pós-término de facul, meu humor nesses dias está péssimo, já fiquei eufórico e grilado com o futuro... Enfim, vivo um período de estranhamento, de chegar em casa e não ter que ajustar detalhes de um projeto. Isso é preocupante.

Nesses anos de vida universitária, vivi os mais perturbadores dilemas. Tinha o dilema de trabalhar em logística e de ter que escolher se ficava ou partia... O dilema de, se conseguisse um emprego, não ter tempo de produzir o TGI, e o pior deles: Para arranjar emprego, precisaria de cursos... e para fazer cursos, precisava trabalhar. Mas como fazer curso, trabalhar e estudar na facul? A lição que eu tiro da vida universitária não poderia ser pior: "A vida te encurrala, e você precisa saber desencurralar. E se você não souber, vai aprender na marra. Ah, se vai."
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Dicas ao Sol: A ferro e fogo



Nós, gays, levamos por nossa tragetória um estigma que nos acompanhará até o último dia de nossas vidas. Ainda que a sociedade passe por uma revolução e que todos os nossos direitos sejam reconhecidos, ainda que sejamos liberados para andar de mãos dadas, beijar no meio da rua como namorados felizes e poder sair de baladas sem medo de agressões violentas que procuram nos destruir sem piedade, que atacam a face para ferir a identidade... Ainda assim todo o processo que já presenciamos até hoje, toda a sociedade na qual estamos desde o início de nossas vidas estará marcada como ferro e fogo em nossas almas. Vivemos em uma época que não nos será segura, vivemos com nossa alma que nunca será tranquila. Talvez as gerações futuras possam desfrutar de um mundo melhor, de tolerância (essa palavra é tão forte... é como ter que "tolerar" a existência de alguém, ser "tolerado" como se fosse um fardo), de aceitação, mas nós, que nascemos nessa era em que tudo está noticiado e escancarado na mídia, em que o medo existe e é real, nunca teremos paz conosco. Haverá uma homofobia interna em nossa alma que sempre olhará para os lados e que sempre estará preocupada com os olhos da sociedade. Estamos marcados pela nossa época, vítimas de uma era que nos excluiu.

Agressões na Paulista, se é que alguém ainda não viu:


A pesquisa é velha mas parece comercial de margarina. E se os dados eram verdadeiros, tivemos um visível retrocesso.


Jô é meu herói:


Jarbor e a identidade dos homofóbicos


Por fim, uma frase muito interessante que li em um site:

"Pedofilia é crime, homossexualidade NÃO."
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Fim de ano: Parte I: Expectativas de Banca Final



Bom, essa é a última minissérie do ano, que emoção!! Nela narrarei meu fim de ano.


Para fechar com chave de ouro, junto com esse fim de ano vem minha formação acadêmica, que para mim é uma emoção à parte. Está na hora de esquecer minha falta de perspectiva para o futuro e me atentar no que deve ser feito agora: Sobreviver à banca final.


Para quem não sabe, todos os cursos (que conheço) têm o TCC, trabalho de conclusão de curso, no qual os alunos fazem um trabalho em que colocam em prática tudo que aprenderam. E meu TCC está centrado em mim, que sou o criador do roteiro e da animação da história, ficando para o homofóbico a programação, para a beata a parte textual e para o bipolar a parte gráfica e plano de comunicação. O que nos leva a meu maior desespero: Eu terei que apresentar diante de um público e banca.


Dentre as expectativas desse evento, estão o fato de eu ter chamado amigos da net, velhos companheiros de faculdade, todos os grupos ferrados da noite (cujos trabalhos eu assisti e posso dizer que em pontos técnicos o meu até supera, mas em conceito visual já não posso afirmar, deixemos o julgamento para a banca).


Eu fiz a besteira de mandar um convite a todos os meus contatos de E-mail e isso acabou incluindo amigos e ex-amigos (como a Hayashi, que eu ainda não voltei a falar e que se for, irá ser constrangedor e se não for irá definir o que somos agora um para o outro), meu ex (sim, o Thiago ficou super empolgado e vai estar lá se conseguir uma folga), o segurança ninfomaníaco (que inclusive já deu em cima do meu ex, o que fará desse encontro algo perigoso), o Kevin do trem (que não é meu atual, mas mesmo assim temos um rolinho), o Tyler, meu marido (que está sumido e provavelmente não irá, inventando depois uma desculpa) e meu irmão e sua mulher, os homofóbicos de plantão.......... Enfim, estou ferrado e tudo isso só aumenta meu nervozismo.


Assisti a todas as bancas e vi ótimos trabalhos, espero que o meu faça jus. E espero que todos torçam por mim.


De qualquer forma, o fim está próximo.
domingo, 5 de dezembro de 2010

Sensações de fim de domingo...



Aceitei que a vida se resolve por si propria, por enquanto aceito a solidão, aceito que não me aceito, aceito que o mundo não me aceita e quem sabe um dia a vida não me resolve.............
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Por que (não) choro?



Sua reação foi a que eu já esperava. Pegou na minha mão, cumprimentando-me, e virou-se, ficando em silêncio o resto do caminho. Dessa vez ficou um climão o caminho todo. Kevin pegou meu celular e limpou o número do amigo. Quando ele saiu:

"Viu, eu disse que seu amigo não gosta de mim!!"

"Não, Rud, ele é assim com todos! É muito tímido."

O Kevin me contou que na escola, quando estudavam juntos, o Zangado sofria bullyng por não ser assumido. Ele chegava até a chorar, e só assumiu depois de muito tempo. Ele e Kevin já transaram..........



No domingo, fui para a "T" e na volta, reencontrei o 4.0 no trem. Gostei muito de reencontrá-lo. Contei minha situação de desempregado e ele ficou triste.

"Eu não tenho acreditado muito em mim ultimamente."

Eu disse, desanimado.

"O que? Como assim? Quem vai acreditar em você se você não o fizer?"

Em seguida, falou do quanto sua vida lhe foi ingrata e de quantos sapos ele já tinha engolido para chegar em algum lugar.

"Nada vem nas nossas vidas sem sacrifício. E se vier fácil, vai fácil."

Às vezes escutamos o que precisamos escutar nos momentos certos. Aquele encontro me proporcionou exatamente aquilo. Alguns bancos à frente, tinha um rapaz sentado. Solitário, começou a chorar.




E chorou...

Chorou como nunca vi alguém chorar em público, para todos verem. A sua expontaneidade, sua dor intensa ali manifestada... Sem se saber por que... sem se saber o que lhe causou... E a minha vontade de sentar lá e perguntar o porquê... e os devaneios de mim consolando-o, abraçando-o e dizendo que tudo iria melhorar... quem sabe um dia, quando ele superasse aquele por quem chorava, não poderíamos ter algo e nos lembraríamos de como tudo começou, naquele vagão de trem, com aquela dúvida intrínceca: Por que choras?

Voltando a mim, após breve devaneio, o 4.0 me falou:

"Fiquei triste agora."

"Por que? Por causa dele chorando?"

"Não... Lágrimas são aprendizado.... fico triste por você... Pela situação que você está passando."

Nos despedimos na estação dele e continuei em frente, assistindo aquele rapaz chorando, solitário, contorcendo-se naquela manifestação emocionante, olhei no fundo dos olhos dele, que ao me ver olhando para ele, não se importou e continuou seu pranto, e a pergunta não queria calar. Por que? Por que? Por que?

Por que nunca senti isso? Por que não choro? Não sei quanto tempo faz desde a última vez que chorei. Não sei por que mas pareço ter trancado as lágrimas. Eu simplesmente não sinto muita vontade de chorar. Será que a minha vida é tão inerte que nem um choro sincero, nem uma lágrima honesta eu sei manifestar?

Ele se levantou. Faltava muito para minha estação, e aquele era o último trem. Lá se foi minha história não vivida, minha escolha não compartilhada, meu relacionamento não acontecido. Ele limpou suas lágrimas antes de sair, como se dissesse: "Não há ninguém que venha me consolar, é hora de levantar e partir".E se foi.

A coisa com o Kevin vai bem morna, só nos falamos por telefone, mas eu tenho o tratado como ele me trata, sem muita dedicação (disse que colocaria crédito no celular pra me ligar e não colocou e mentiu que tinha compromisso no fim de semana, depois ele falou que dormiu até as 15 hor). Coisas que começam mornas não têm futuro, sem contar que me chamou para ir ao M.O. (motel, segundo ele), sendo que nem nos conhecemos direito. Procuro algo que me tire o fôlego. Ao falar sobre seu ex, ele quase chorou. É disso que eu falo. Quando eu encontrar algo assim, valerá realmente a pena.

Mas agora não é hora de pensar nisso. Semana que vem viverei os últimos dias de vida universitária, pegarei em um microfone e apresentarei meu projeto que começou em 2004. A vida me trouxe até aqui, e chegou a hora de mostrar minha obra ao mundo.

Torçam por mim..................................................
sábado, 27 de novembro de 2010

Tremhunt: Esperando que o acaso aconteça...



Antes de começar esse post, tenho que relembrar um fato que aconteceu no meio desse ano. Fui para a faculdade atrasado e cheguei na estação, indo para o último vagão por ser mais vazio. Chegando lá, tinha um carinha. Ele estava lá parado, esperando o trem como eu e começamos a trocar olhares. Entrei no trem e ele ficou do lado de fora. Continuei olhando para ele da janela e então ele entrou, sentando um pouco a frente. Ficamos nos olhando, olhando...... e nada aconteceu.

O tempo passou, e em alguns dias que fui para a faculdade novamente atrasado, reencontrei o rapaz. O estranho foi que dessas vezes, ele começou a me olhar com cara feia, como se fosse um homofóbico. Meu "gaydar" não falha, eu sabia que aquele cara era gay, o máximo que estava acontecendo ali era ele com raiva por eu não ter tomado uma atitude. Mas ele também não tomou. Fazendo uma cara bem feia também, me sentei longe e ignorei aquela existência desaforada no vagão.

As coisas ficaram bem calmas e monótonas nos últimos meses de faculdade. Adiantamos bastante o nosso TCC/TGI e eu comecei a nem me importar com horários. Passei a ir mais tarde, afinal, só precisava ir pra supervisionar meu grupo, cuidar para que continuem trabalhando, já que minha parte eu concluí. E também relaxei nos horários. Em alguns dias, encontrei o zangado novamente, sempre com aquela cara de bravo, e em um dos dias, o vi com um amigo, rindo e conversando. O amigo? Com certeza gay também. Ignorando ambos, segui meu caminho tranquilo.

Em um determinado dia, um rapaz entrou em uma das estações e ficou de pé, de costas para onde eu estava sentado. Quando me viu, não parou de olhar para mim. Fiquei até envergonhado, de tanto que ele olhava, era coisa de torcer o pescoço mesmo. Quando fui descer, ele continuou olhando, sentando no banco e dei um sorrisinho acanhado. Ele apenas olhava, parecia extasiado. Saí do trem e caminhando pela estação, eu o vi olhar de dentro do trem....

E eu gamei nele.

Arrependido por não ter dito nada, por não ter sentado do lado dele, ignorando passar da minha estação, eu anotei o horário e decidi vir no dia seguinte no mesmo horario para poder reencontrá-lo e quem sabe acontecer algo.

No dia seguinte, cheguei à estação e esperei ansiosamente o trem no mesmo horário. Vi um rapaz na plataforma e trocamos olhares. Mas eu não estava nem ai para ele, só pensava naquele que eu ia encontrar em breve. Sentei, peguei um papelzinho e anotei meu telefone para entregar a meu príncipe encantado (kk). O rapazinho da estação sentou na outra ponta do vagão e ficou me olhando. Ele acenou com a cabeça para eu me sentar próximo a ele. Eu balancei negativamente a cabeça...

Chegando na estação em que o rapaz entrou, eu estava trêmulo. Mas ele não apareceu. Desci do trem decidido a encontrá-lo, afinal, ele poderia estar atrasado. Só depois do trem partir que me dei conta do tamanho da minha falta de auto-estima... descer atrás de homem em uma estação. Fundo do poço, com certeza. Desisti, e parti no trem seguinte.

Algumas semanas se passaram e reencontrei o rapaz que balancei negativmamrnte a cabeça na estação de novo... e ele estava acompanhado do zangado. Na verdade ele era o amigo do zangado. Uma estação antes de eu descer, o zangado desceu e eu me levantei, já que iria descer logo. Olhei para o rapazinho, que me olhava de forma tímida, e dei um sorrisinho sem dentes para ele. Ele retribuiu com uma cara de pena de sí próprio, como se tivesse dúvida das minhas intenções. Desci do trem e fui andando na plataforma. Quando vi que ele ainda me olhava, levei a mão à boca e dei um tchauzinho apenas com os dedos, de forma discreta, gargalhando sozinho depois, já imaginando o desespero do rapaz preso no trem sem poder voltar, o mesmo arrependimento que me tomou há semanas atrás.

Na semana seguinte, reencontrei o rapazinho na estação e ele caminhou decidido até mim.

"E ai, beleza?"

Perguntou, e o trem já vinha chegando.

"Beleza."

Respondi, sem aparentar interesse. Entramos e um rapaz sentou do meu lado e ele de frente para mim, com outro rapaz sentado ao lado dele. Só faltando uma estação para descer é que conseguimos sentar lado a lado. O nome dele era Kevin. Tivemos uma conversa rápida e xôxa.

"Eu vou te passar meu número..."

Eu disse, abrindo a bolsa.

"Ah, não é muito indiscreto?"

"Ah, beleza então... Nos vemos amanhã.... talvez."

Terminei, partindo e deixando-o seguir viagem.

No mesmo dia, descendo as escadas da faculdade, vi um rapaz no bebedouro e desci na frente dele. Saímos da faculdade, caminhando para a estação e parecíamos estar apostando uma corrida silenciosa, às vezes ele me passava, ai eu ia e o passava de novo. Ambos caminhavam em um determinado rítmo. Em nenhum momento ele demonstrou algum interesse. Meu "gaydar" não detectou nada. Chegando na estação, ele foi comprar passe e eu finalmente olhei para trás, ganhando a corrida. Lá embaixo, me sentei e ele veio após um tempo. Ao passar por mim, eu o olhei e ele se sentou do meu lado.

"Oi... Tudo bem?"

Perguntou, e respondi que sim. Começamos a conversar e viemos o caminho inteiro falando de faculdade e cursos. Em minha estação, tirei meu caderno e coloquei meu msn e telefone para ele, sem nem saber se ele era ou não gay. Uma pena que ele não adicionou e nem ligou.Vai ver for alarme falso.

A moral da história é que é complicado procurar o acaso, esperando que este aconteça. Se é acaso, como esperar por ele? Acaso é acaso... Não se pode esperar uma segunda chance para ter uma primeira ação e as certezas podem ser duvidosas, assim como as dúvidas acabam provando-se certas se investimos. Mas de qualquer forma, o que esperar de alguém que se encontra na caça do trem? Não muito...

Bom, pelo menos não me envolvi com o Kevin. afinal, poderia dar algum rolo com o zangado, que pelo jeito é amigo dele e um dia rolou uma faísca conosco. Melhor tudo ficar como está mesmo.

Certo?

Eu achava que sim. Mas o que acontece também não é o que achamos... Estava eu na terça feira esperando o trem e surgiu o Kevin, todo sorridente.

"Oi, Rud... Vem cá, minha amiga está aqui comigo, disse que a gente se conhece faz tempo."

Fui arrastado por ele e nós três começamos a conversar. O que achei que seria uma péssima situação até que foi legal. Do meu lado, o Kevin começou a, de braços cruzados, acariciar meu braço de forma bem discreta. Chegando na minha estação, eu peguei meu celular para ver a hora e ele pegou da minha mão, anotando o número dele. Mas eu de qualquer forma não poderia ligar.

"Acho que você deveria cabular aula hoje..."

Disse o Kevin, e eu disse que não podia. Me despedi deles e parti. O que aquele garoto estava querendo fazer lá na estação que ele desce eu não sei, mas não sou desses.

Na quarta feira, descobri um pouco mais a respeito do Kevin. Outra amiga apareceu e fomos conversando até ela decidir dormir. Então eu e ele começamos a falar de algumas intimidades. Foi ai que ele me contou de seu namoro quando tinha apenas 16 anos, com um garoto de 14. Seus olhos encheram de lágrimas nesse instante e finalmente encontrei a resposta...

Caçadores do trem também tem coração. E a resposta estava em mim o tempo todo, considerando que eu caço no trem em busca de amor cotidiano e verdadeiro. Em busca do que eu estava tendo ali, encontrando o garoto todos os dias e conhecendo aos pouquinhos. Ele começou a acariciar meu braço de novo.

"Ontem eu fiz isso também..."

"Percebi, né?"

"Posso parar se você quiser..."

"Não, não, rsrs..." 

Eu disse, quase que de imediato, e rimos muito. Em um ato impulsivo o convidei para ver Harry Potter no cinema e ele disse que estava sem dinheiro, mas que me ligaria para saber se poderiamos sair à noite.

"A aula que eu tenho hoje é muito chata, eu não quero ir... Então eu te ligo."

De tarde, me ligou e combinamos de nos encontrar às 18:20 na Barra Funda. E lá estava eu, no horário, como em raras vezes. Descendo ao metrô no horário de pico, vimos uma briga de niandertal..... quer dizer, de Palmeirenses na estação e ele ficou temeroso. Chegando ao cinema da República, ele disse não ter dinheiro MESMO e decidimos apenas caminhar. Bebemos um suco em um bar não-gay e depois saímos, conversando e rindo. Uma química legal surgiu e fomos para a pracinha quase vazia da Viera, onde atrás de uma banca finalmente ficamos.

E foi ótimo!!

O dono da banca bateu pelo lado de dentro algumas vezes e tivemos que sair. Fiquei fulo da vida, mas de longe vimos uns caras na banca bem mal encarados e pensamos: "Será que ele nos avisou para ficarmos espertos?"

Na volta, o Kevin encontrou mais um amigo (o terceiro diferente essa semana, cada dia um....) na estação e ele era MUUUITO gay, daqueles BEM afeminados mesmo. Só ao chegar na minha cidade tivemos um tempo curto juntos. Combinamos de nos ver no dia seguinte, mas eu tive que me abrir:

"Seu amigo da estação não gosta de mim, Kevin. Se você estiver com ele, não me espere..."

E por fim, na sexta feira, cheguei na estação e lá no final, avistei o Kevin com seu amigo. Decidi não ir para lá. Meu celular tocou.

"Alô? Rud? Já tá chegando? Estou aqui com meu amigo, ligando do celular dele, inclusive. Tô esperando."

Quando eu fui falar que ia me atrasar...

"O trem da plataforma dois não presta serviço, favor desembarcar."

Fui denunciado pelo auto-falante da estação de trem.

"Já estou chegando, Kevin..."

E lá fui eu, como se caminhasse para o matadouro., prestes a passar por uma situação constrangedora. Ao me aproximar dos dois, o zangado de costas e o Kevin me esperando, fiz sinal de quem corta o pescoço para ele, que riu sem jeito, e falei com uma voz doce:

"E ai, Kevin..."

Apertei sua mão, e ambos ficamos nos olhando enquanto o zangado permanecia de costas, provavelmente tinha me visto de canto de olho...

"Will, esse é o Rud."

Ele se virou, e finalmente nos encaramos.................................
sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Dicas ao Sol: Vai melhorar



Após os ataques na Avenida Paulista, que eu sempre achei (inocentemente) que era um lugar seguro, fiquei bastante perturbado e temeroso quanto a nosso presente, quanto a nosso futuro. O medo de ser quem somos, medo de sair à noite, medo de viver. Eu fiquei com medo de ir à "T" sozinho...

Encontrei um blog muito interessante que passarei a acompanhar, o qual abordou o assunto das recentes manifestações de homofobia ocorridas nos últimos tempos e o apelo da senadora Fátima do PT de rondônia sobre o assunto:

http://homofobiajaera.wordpress.com/2010/11/17/senadora-fatima-cleide-pt-rondonia/

Há algum tempo foi criada uma grande campanha nos E.U.A. em resposta a uma grande onda de suicídios de homossexuais vítimas de bullyng (agressão física e psicológica) que atingiu o país. Celebridades, grandes empresas e pessoas comuns reunindo-se para passara  mensagem de suas experiências, de suas tristezas e de como tudo melhora se você acreditar. Não há momento mais oportuno para mostrar esses vídeos aqui do que este em que São Paulo presencia a brutalidade que quase saiu impune, não fossem as câmeras de vigilância de um prédio.

Entenda a campanha pelo jornal nacional:


Ai eu achei o clip rsrs:


Esse é um depoimento bem legal de Joel Burns na câmara de Forth Worth, sobre onda de suicídios, de como ele quase desistiu e se reergueu.


Um exemplo de pessoas comuns, vlogueiros, fazendo seus vídeos, também muito interessante. Está em inglês, não consegui legendado, mas quem entende o básico consegue compreender a maior parte das palavras (digo por experiência).


Por fim, esse é um exemplo de grandes empresas participando da campanha. Há vídeos do google e do facebook mas esse da Pixar é excepcional!! Agradecimentos a Margarida da equipe Paperblog, eu conhecia a campanha mas esse foi um dos melhores vídeos!!

http://acapa.virgula.uol.com.br/site/noticia.asp?origem=home&codigo=11955&titulo=Funcion%E1rios+gays+da+Google+gravam+v%EDdeo+em+homenagem+a+jovens+discriminados


Fica a mensagem aos homofóbicos: Melhorará para nós, as vítimas. Quanto ao destino dos intolerantes... Não sei, nunca tive notícia de algum deles que tenha se dado bem. Talvez em um ponto de suas vidas eles acordem e percebam o mal que fizeram... Tomara não ser tarde.

Ah,e seguindo o exemplo da campanha dos Estados Unidos, se alguém está sofrendo preconceito, se estiver se sentindo só, se precisar de ajuda, de um ombro amigo ou de qualquer coisa, escreva: hamlethtobeornot@gmail.com

E lembre-se: Vai melhorar.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Família: Dilemas de dois armários lacrados



Continuando a minissérie de reflexão sobre quem eu sou e quem eu almejo ser daqui por diante, dessa vez vou falar de um assunto bem complexo e difícil de explicar. A família.

Em minha família atualmente, somos em quatro. Eu, meus pais e minha irmã. Meu irmão emancipou-se, mora junto com a mulher de sua vida. Cada um tem uma visão (ou não) sobre o que é ser um homossexual. E essas visões não são muito otimistas.

Eu sempre achei que meu irmão fosse liberal nesse assunto, já que conheci o amigo dele que é gay assumido e ele e todos os seus amigos aceitam de boa. MAS em um fim de semana, fui visitá-los para passar a noite lá e meu irmão foi me buscar na estação.

No carro, chegando no apartamento deles, meu irmão disse que seu amigo gay estava lá e insinuou certo preconceito com relação a ele. E pior, mais à noite meu irmão e sua mulher malharam um rapaz, amigo do amigo gay deles, taxando-o de gay e caçoando dele. E o amigo gay ria, gargalhava, sem nenhuma postura, o que só intensifica a homofobia internalizada.

No caso dos meus pais, é o clássico.:Pai católico não frequentante, mãe Cristã (apesar de ser a mais liberal de sua família de irmãs beatas que vivem num mundo paralelo aos real). Meu pai aparenta não saber o que é ser gay, um daqueles que confunde um travesti com um homossexual, e não o culpo. Sua falta de formação e interesse pelo assunto é como o da maioria dos brasileiros homofóbicos. Minha mãe parece aceitar bem melhor as coisas. Há gays na novela Tititi (que não perco nenhum episódio) que não são do tipo estereotipado. O fato de meu pai não gostar da novela é obviamente entendível. Já minha mãe gosta, argumenta algumas questões, já chegou a xingar a mãe religiosa que expulsou o gay de casa (rsrs) e eu adoro isso.

Mas o que aumenta mesmo minha estadia em meu armário lacrado é minha irmã. Ela é a irmã do meio, enquanto sou o filho mais novo. E ela.............. é gay também.

Mas minha irmã não é somente lésbica. Ela é A lesbica. Sempre desconfiei dela. O jeito truculento, a fama de valentona, as roupas. Ela cortou o cabelo e assumiu o look das mais ousadas. Fiquei contente, e pensei: Acho que agora ela vai sair do armário.

Mas não saiu.

E respeitando a hierarquia da idade, fica complicado o mais novo sair do armário e o mais velho continuar. Eu resolver essa questão pendente e ela continuar lá... é complicado. E a questão vai muito além disso. Descobri que minha irmã tinha um caso com uma prima que saiu do armário. Quando essa prima louca deixou sua casa, os familiares dela acusaram minha irmã de ser má influência a ela. E chamaram minha irmã de "Sapatão" na frente do meu pai. Nunca vi o homem espumar tanto.

Então, meu pai, que escancaradamente é mais ligado à minha irmã, nem faz idéia de que a filha é o filho que ele sempre sonhou. E eu, que ele obviamente tem distância e pouca afinidade (a que compartilho com minha mãe), sou a filha que ele teria pouco contato (não sou afeminado, estou falando na questão comportamental tipo força, atitude, ação, lógica contra minha intelectualidade, raciocínio emocional e indecisão constante).

Uma vez perguntei à minha mãe:

"Se as suspeitas sobre a Mana forem certas... se ela realmente for gay... o que a senhora faria?"

A resposta? Mais estranha do que a pergunta.

"O que eu poderia fazer? Matá-la? Isso não posso, né?!"

.......................................................................

Tenho pena dos meus pais às vezes. Ter dois filhos gays, ter um filho que já se resolveu mas que não quer ter filhos. É o fim de nossa família. E tenho pena por ter que explicar a eles que Deus ou a biologia ou a genética ou seja lá o que for... decidiu que seríamos gays... E o pior: gays covardes, sem o mínimo de perspectiva de sair do armário.

Descobri sobre minha irmã de uma forma um tanto inusitada. Estava indo para um encontro com um cara e pedi carona a ela até a estação. Chegando próximo à estação, eu perguntei:

"E ai, tá namorando?"

"Enrolada...."

Exitando um pouco, perguntei...

"É aaaa......."

E ela me olhou com espanto.

"A?! Você... sabe?!"

"Óbvio, né Mana..."

Então nos tornamos mais íntimos, mas não ao ponto de trocar confissões. Atualmente ela trouxe uma garota para morar com ela em seu quarto. Meus pais sabem que as duas dormem na MESMA cama e caem na história de que minha irmã está apenas acolhendo uma amiga.

Caem mesmo?!

Não sei... Só sei que o brilhante armário de minha irmã ofusca o meu discreto armário trancafiado. A meta é que assim que eu tenha estrutura para sair de casa, revele à minha mãe. Não sei se meu pai precisa saber, nem se merece saber. Mas ela tem que saber quem eu sou... tem que me conhecer e eu preciso saber se mesmo depois disso nossa ligação continuará. Afinal, ela é a mais importante pra mim em todo esse jogo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Erradicação do mal inominável



Quando vi a notícia de que homossexuais foram atacados por homofóbicos na Avenida Paulista às seis da manhã de ontem, me lembrei de todas as vezes que passei naquele mesmo ponto naquele horário sozinho, até mais cedo. Provavelmente os jovens agredidos vieram da "T", onde costumo ir sempre. Nesse fim de semana, por pouco não varei a noite por lá, só me faltou a companhia...


Essas coisas me fazem pensar sobre esses tempos modernos em que estamos vivendo e em como a homofobia é estúpida e banal. O pior de tudo é que é um dos males que mora na mente humana facilmente influenciável pelos parametros sociais retrógrados. Seja por machismo, seja por valores religiosos, a homofobia se manifesta e destrói sem piedade. E o pior é a impunidade dos agressores e ver nossos irmãos sendo espancados, humilhados e feridos por apenas serem quem são e terem coragem de assumir, diferente desse bando de selvagens que muitas vezes são covardes e só se manifestam em bando.

Já presenciei muita homofobia, seja comigo ou no cotidiano. Por eu não aparentar ser gay (pelo menos até abrir minha boca) o preconceito nunca se manifestou contra mim na rua com desconhecidos, mas em todas as empresas em que trabalhei, aconteceram casos de homofobia. Não sei se desconfiavam de mim ou se apenas falavam por que não sabiam da verdade. O fato é que eu sempre saía com a auto-estima pior do que entrava. Uma vez eu estava no trem e saí na minha estação. Um gay todo rebolante estava andando na minha frente e atrás vinha um rapaz afrobrasileiro que falava ao celular. Eis o que ele dizia:

"Tinha uma coisa aqui perto de mim no vagão que deu vontade de dar umas porradas.... Por que não?! Ah, não dá! Ele é preto. Bater em preto é crime, ai é embaçado!"

Sim, eu ouvi isso...

Infelizmente a inconsequência e a falta de estudos e informação são as coisas que mais alimentam a homofobia. Jovens "vida loka" que saem em grupos provocando bullyng social por onde passam, o qual vai crescendo e acaba nas agressões que por não sofrerem punições vão se expandindo.... E ninguém faz nada.

Não podemos esperar a lei áurea nos salvar, precisamos de revoluções como as mulheres que se organizaram e mostraram aos homens que tinham seu espaço na sociedade. Quando o homem entendeu que nem tudo deveria ser como está nas escrituras sagradas e superou seu machismo, considerando que em famílias modernas os homens de verdade dividem tarefas de casa com suas companheiras, a sociedade mudou (principalmente a ocidental, que parece evoluir mais rápido). O mundo está em constante mudança mas apesar disso o preconceito continua escolhendo suas vítimas. Sempre o machismo quer ter alguém para oprimir, para mostrar que é superior, que é poderoso com relação à minoria. Mas o que não toma consciência é que essa minoria cresce, se organiza e deixa de aceitar com passividade seu retrocesso comportamental que beira o status patológico. É isso que a comunidade GLTB precisa: Organização, passeatas com objetivo (não carnavalesco como parada gay), protestos, força na política para criação de leis anti-homofobia, criação e organização de forças sociais e quem sabe até religiosas (há religiões criadas para gays), que sabemos influenciar muito em todos os aspectos políticos.

Isso é um desabafo diante dos acontecimentos, provavelmente estou falando algumas besteiras, mas tinha que dizer algo em solidariedade a eles, que mesmo sem conhecer me causam um aperto no coração por não ter podido ajudar ou coisa do tipo. Precisamos sempre imaginar que no andar da carroagem social, mais cedo ou mais tarde esses eventos isolados acabam por nos atingir. É pensando nisso que reforço uma conscientização por parte de todos nós. NÃO A HOMOFOBIA!!!!!!!!!!!
sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Persona: Quem sou e quem gostaria de ser



Nos últimos posts tenho feito uma série de perspectivas com relação ao que eu almejo. Já passei pelo quesito afetivo, profissional... E agora vem o mais complexo: O quesito pessoal.

Traçar um perfil psicológico do que eu tenho sido nos últimos dez anos e no que eu quero ser daqui para frente é uma tarefa complexa e talvez não possa colocar tudo em um único post, mas vou tentar.

Há dez anos atrás, eu tinha 14 anos e estava na 7° série do ensino fundamental. Foi nesse ano que eu conheci as duas pessoas mais importantes de minha vida: O fulano e a Hayashi. Melhores amigos, eles me ensinaram muito. Na 7° série eu era um garoto deslocado, que vivia com o grupinho dos menos inteligentes e bagunceiros. Nesse ano, foi a transição em minha vida, pois fui para o grupo dos nerds (do qual nunca mais saí).

Com o término do colegial, me tornei uma pessoa reclusa. Dessas que não curte sair, e que quando sai parece ser uma obrigação e até um grande evento, e que tudo que acontece quando sai merece ser postado num blog................................

O que posso dizer é que sou recluso. Prefiro sair sozinho ou com apenas um amigo, para que eu seja o foco de sua atenção e para que eu só precise conversar com essa pessoa. Grupos me incomodam. Aprecio a solidão do meu quarto. O problema dessa personalidade isolada é que as pessoas "sociais" acabam se afastando de você. E acabo sozinho sem gostar, já que não é mais por opção, é por ter sido cortado. Já cortei pessoas da minha vida, já fui cortado da vida de muitas pessoas.

O que mais me angustia é a inércia. É a sensação de que em dez anos pouco mudou. Quando encontro com amigos do colégio que não falava faz tempo, vejo que eles estão sempre casados, amando ou felizes em sua vida resolvida. Em dez anos sou o mesmo garoto que não trabalha, que nunca amou ninguém e que está aqui, parado no tempo, vivendo na casa dos pais, esperando algo acontecer.

Tenho quatro amigos de sangue (daqueles que contaria que matei alguém), sendo duas héteros e dois gays. Uma das héteros mudou-se para o Piauí, e nosso contato é raro por E-mail... A outra hétero, Hayashi. Nossa amizade vivia em um constante equilíbrio, já que nós dois só tinhamos um ao outro, considerando que seus verdadeiros amigos ficaram em sua outra cidade, onde ela vivia. E tudo ia bem. Compartilhamos juntos o sonho da mudança, de encontrarmos pessoas por essa vida que nos guiassem para novos caminhos. Mas desejamos isso juntos. O caso é que ela foi a um evento (para o qual me chamou) em que trabalharia uma semana como apoio, e eu não fui. Lá, ela encontrou o que procurava. Além de ter conhecido o amor da sua vida, encontrou amigos e contatos pessoais e profissionais que mudaram tudo.

E eu...

Bom, eu fiquei. Acompanhando da estação mais um trem que se vai. Hayashi me levou para um encontro com seu mais novo grupo, e a sensação foi desastrosa. Fiquei deslocado diante daquele papo super nerd. Simplesmente eu não estive presente no lugar ao sol deles, eu era a peça fora do tabuleiro. Foi uma noite péssima. O que se seguiu foi uma amizade enfraquecendo-se cada vez mais. Sempre que ela me chamava, eu não podia ir por falta de grana e por não querer ficar novamente deslocado. Eu estava perdendo-a.

E a situação culminou no fim de semana em que ela me chamou para ir ao cinema e eu disse que só iria se conseguisse que um de meus amigos fossem. Ela considerou que eu estava chamando seu namorado e sua amiga de "nada", já que minha presença só seria confirmada caso eu conseguisse levar alguém. Disse ainda que eu tinha que mudar e que não dava pra ficar como eu estava, com medo de conhecer gente. Disse que queria me ajudar. E fechou com chave de ouro.

"Mas faz assim.... nem vá... não quero favores e desculpa... NUNCA mais tento lhe ajudar. Se é feliz assim fique desse jeito."

O que a hayashi não entende é que ela teve seu "Turning point", ela teve a grande virada em sua vida, aquele momento em que ela juntou oportunidade com atitude e conheceu um novo mundo. Ela mudou. Eu não.

Não devemos querer forçar ninguém a mudar. E não devemos também nos forçar a mudar. Eu tentei fazer isso me encontrando com um grupo gay de rapazes na virada cultural e de lá não tirei nenhuma amizade proveitosa (O Albano só serviu pra que eu conhecese o Primo, nada mais). Eu ainda não cheguei a um ponto em que diga que esse é o ponto de virada, e quando eu chegar, espero poder levar aqueles que mais amo comigo, não virar as costas para eles como alguns. O fato é que minha "melhor amiga" conheceu o homem de sua vida e essa história é velha: Quando amamos e nos entregamos demais à essa pessoa, todo o restante parece perder a importância. Mas existem duas questões muito perigosas em se esquecer de quem é importante:

1. Essa pessoa pela qual você vira as costas para seu mundo pode não durar para sempre na sua vida (relacionamentos começam e podem se acabar).

2. Voltar com o rabo entre as pernas pedindo colo pode ser bem constrangedor e a mágoa e o buraco deixado em quem você abandonou pode ser grande demais.

Bom, eu sempre acreditei em nossa amizade, mas essa é a primeira vez em que não sinto vontade alguma de buscá-la. É a primeira vez em que me sinto leve. Amizades não devem ser um fardo. Devem nos deixar bem. Mas eu considero que essas sacudidas podem ser um reforço caso a amizade seja real. Se é que não é real só para um dos dois lados...

Voltando à questão de estar no mesmo ponto em que estava há dez anos, devo ressaltar que fiz progressos.

Eu conheci a noite gay paulistana, que me salvou de muitos tempos de solidão

Eu escapei do exército e com curso profissionalizante entrei para a área de Logística

Descobri o designer como profissão e me identifiquei muito

Coloquei aparelhos nos dentes, que estão melhorando muito

Estou em tratamento de acne em sua reta final, o que para mim é muito importante resolver, já que minha auto-estima é um ponto a ser trabalhado

Consultei uma psicóloga para me encontrar (apesar da pobre estar meio perdida)

Superei todas as nêuras iniciais de ir pra cama com um cara (o que me trouxe de presente nêuras novas e quentinhas saídas do forno)

Tive um relacionamento de três meses que me fez ter uma idéia do que é gostar, sentir ciúmes e superar no término

Me formarei no fim do ano

Acho que esses são os progressos e as mudanças que nos últimos anos fizeram a grande diferença entre o que eu era e o que eu sou. Nossa, lendo isso me sinto tão pequeno com relação aos progressos alheios...

Em contrapartida, há muito mais que preciso trabalhar em mim:

Socialização

Encontrar lugares em que me sinta bem em estar sem sofrer discriminação ou me sentir obrigado a ir

Sair mais de casa e não parecer um velho com medo do mundo e da vida

Fazer contatos profissionais

Me tornar um ser multicultural (essas pessoas legais que conhecem o mundo da cultura como cineastas de curtas, médias e longas, fãs disso e daquilo)

Me tornar um Webmaníaco (será que eu quero isso?) conhecedor das tendências e do que rola na rede, ainda que somente por caráter profissional

Ter perto de mim pessoas que queiram estar

Saber terminar relacionamentos

Saber começar relacionamentos

Abandonar a noite paulistana (a idade chegando, preciso de novas opções)

Desbravar novos horizontes

Arranjar emprego

Arranjar alguém com quem compartilhar a vida

Colocar sonhos e expectativas para fora da gaveta

Viajar mais

E sair do armário...

Acho que um ser humano nunca deve alcançar o conceito da perfeição, nunca deve estar somente de passagem curtindo o momento sem se importar e nunca deve estar pleno. O ser humano é falho, e admitir que erra é o princípio da superação de sí próprio. Pessoas que chegam ao ponto de dizer: "Eu mudei e estou muito feliz assim" são aquelas que estacionaram em um porto seguro e que vivem satisfeitas pelo que conquistaram, como velhinhos na varanda. O que vale na vida é o desafio de escalar montanhas e olhar do topo dela para as mais altas. Se eu não mudei ainda, é por que não tenho pressa. Aprecio o vento no topo de cada mntanha, sem medo de deslizar e recomeçar do zero. "Sou errado, sou errante, sempre na estrada, sempre distante".

Minha frase em homenagem à estagnação e ao tédio: 

"Nada é mais crítico do que a força exercida pelo tédio que consome minha existência com sua falta de lirismo e renovação."

Boa sorte aos amigos ausentes...