sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Por que (não) choro?



Sua reação foi a que eu já esperava. Pegou na minha mão, cumprimentando-me, e virou-se, ficando em silêncio o resto do caminho. Dessa vez ficou um climão o caminho todo. Kevin pegou meu celular e limpou o número do amigo. Quando ele saiu:

"Viu, eu disse que seu amigo não gosta de mim!!"

"Não, Rud, ele é assim com todos! É muito tímido."

O Kevin me contou que na escola, quando estudavam juntos, o Zangado sofria bullyng por não ser assumido. Ele chegava até a chorar, e só assumiu depois de muito tempo. Ele e Kevin já transaram..........



No domingo, fui para a "T" e na volta, reencontrei o 4.0 no trem. Gostei muito de reencontrá-lo. Contei minha situação de desempregado e ele ficou triste.

"Eu não tenho acreditado muito em mim ultimamente."

Eu disse, desanimado.

"O que? Como assim? Quem vai acreditar em você se você não o fizer?"

Em seguida, falou do quanto sua vida lhe foi ingrata e de quantos sapos ele já tinha engolido para chegar em algum lugar.

"Nada vem nas nossas vidas sem sacrifício. E se vier fácil, vai fácil."

Às vezes escutamos o que precisamos escutar nos momentos certos. Aquele encontro me proporcionou exatamente aquilo. Alguns bancos à frente, tinha um rapaz sentado. Solitário, começou a chorar.




E chorou...

Chorou como nunca vi alguém chorar em público, para todos verem. A sua expontaneidade, sua dor intensa ali manifestada... Sem se saber por que... sem se saber o que lhe causou... E a minha vontade de sentar lá e perguntar o porquê... e os devaneios de mim consolando-o, abraçando-o e dizendo que tudo iria melhorar... quem sabe um dia, quando ele superasse aquele por quem chorava, não poderíamos ter algo e nos lembraríamos de como tudo começou, naquele vagão de trem, com aquela dúvida intrínceca: Por que choras?

Voltando a mim, após breve devaneio, o 4.0 me falou:

"Fiquei triste agora."

"Por que? Por causa dele chorando?"

"Não... Lágrimas são aprendizado.... fico triste por você... Pela situação que você está passando."

Nos despedimos na estação dele e continuei em frente, assistindo aquele rapaz chorando, solitário, contorcendo-se naquela manifestação emocionante, olhei no fundo dos olhos dele, que ao me ver olhando para ele, não se importou e continuou seu pranto, e a pergunta não queria calar. Por que? Por que? Por que?

Por que nunca senti isso? Por que não choro? Não sei quanto tempo faz desde a última vez que chorei. Não sei por que mas pareço ter trancado as lágrimas. Eu simplesmente não sinto muita vontade de chorar. Será que a minha vida é tão inerte que nem um choro sincero, nem uma lágrima honesta eu sei manifestar?

Ele se levantou. Faltava muito para minha estação, e aquele era o último trem. Lá se foi minha história não vivida, minha escolha não compartilhada, meu relacionamento não acontecido. Ele limpou suas lágrimas antes de sair, como se dissesse: "Não há ninguém que venha me consolar, é hora de levantar e partir".E se foi.

A coisa com o Kevin vai bem morna, só nos falamos por telefone, mas eu tenho o tratado como ele me trata, sem muita dedicação (disse que colocaria crédito no celular pra me ligar e não colocou e mentiu que tinha compromisso no fim de semana, depois ele falou que dormiu até as 15 hor). Coisas que começam mornas não têm futuro, sem contar que me chamou para ir ao M.O. (motel, segundo ele), sendo que nem nos conhecemos direito. Procuro algo que me tire o fôlego. Ao falar sobre seu ex, ele quase chorou. É disso que eu falo. Quando eu encontrar algo assim, valerá realmente a pena.

Mas agora não é hora de pensar nisso. Semana que vem viverei os últimos dias de vida universitária, pegarei em um microfone e apresentarei meu projeto que começou em 2004. A vida me trouxe até aqui, e chegou a hora de mostrar minha obra ao mundo.

Torçam por mim..................................................

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