sábado, 3 de dezembro de 2011

Odisséia do Menino Devasso: Parte II: Persistência do vazio



E como o furacão que atingiu Dorothy e a levou para o mundo de OZ, no qual ela enfrentou seus medos e sua obscuridade, minha vida transformou-se em um grande tornado arrastando a tudo pela onda da descasualidade. Entrei na onda de curtir o momento, e por um tempo, foi bom.

Primeiro veio o Raimundo, um cara do site de bate-papo mais mercadão que conheço. No mesmo dia, marcamos na cidade aqui perto, para ir ao cinema. Estava caindo uma chuva fraca, mas nos encontramos e curtimos. Conversamos, caminhando no que parecia ser a direção do shopping, mas então ele interrompeu o caminho e parou em um motel. Entrei.

Rolou só o básico, não me senti tão bem para realizar completamente, mesmo por que não é de meu costume conhecer e já transar. Mas nos satisfizemos. E sumimos, sem ter que dizer nada. Ficou subentendido que não passaria daquele lance.

Na balada, conheci um cara de quase dois metros, e em clima de caça, fiquei olhando para ele, até que rolou uns beijos e nos entendemos bem. Até uma dança aconteceu, e foi incrível. Mas não nos ligamos mais.

Foi então que, no bate papo, conheci Fabiano, um cara bem legal. Marcamos de ir a um cinema ver o lançamento da segunda parte do Harry Potter 7, e foi um papo divertido, uns beijos discretos na saída do cinema. Realmente curti, e no MSN, tentei marcar algo, porém ele disse que estava com uns amigos em casa, que dormiram por lá. Mais tarde, vi escrito no MSN dele “balada the week hj a noite”. Deletei sem dó.

De volta à balada, semanas depois, vi o Fabiano, que ao me ver caminhou até mim, e quase me beijou, mas segurei no peito dele.

“Não lembra de mim?”

“Claro que lembro!”

Respondi, com raiva. Ele em seguida saiu, fazendo-se de vítima. Me impressiona a cara de pau das pessoas. Dançando na pista, me aproximei de um cara baixinho, e bem gato, que dançava todo animado. Dancei perto dele, e em determinado momento, encostei atrás dele, encoxando-o (nunca tinha feito isso...). Ele gostou, tirou a camisa, e pude ver aquele peitoral gostoso. Nos beijamos e caminhamos embora juntos.

“Só tem um problema.... eu moro em Campinas. Não é sempre que venho pra cá.”

Era bom demais para ser verdade. Tinha que ter um empecilho. Ele pegou o carro no estacionamento da balada e me levou até a estação.

Conversamos por e-mail durante a semana, combinando de se ver no domingo. Chegando o dia, achei o encontro meio vago. Me pegou, entramos no carro e acelerou para um motel. Combinamos que não ia rolar o sexo (de novo), e rolou umas brincadeiras. Achei-o meio parado. Com tudo aquilo de corpo e sem oferecer uma pegada boa.

Passei por um período de recesso. Sem encontros, sem homens, sem balada. Só trabalhando. Mas a necessidade de ter alguém sempre fala mais alto, vindo de fininho, e vai dominando aos poucos. Era hora de voltar a ativa. Mal sabia eu o que estava por vir...

domingo, 18 de setembro de 2011

Odisséia do Menino Devasso: Parte I: Homens, Sexo e rock´n Roll


Após a desilusão com o EX-Marido, decidi não ser mais o garoto inocente. Decidi deixar de ser o tonto que fica esperando o príncipe do cavalo branco. Afinal, nunca tive uma OBI sequer que fosse possível ter algo mais do que um sonho. O Marido era essa esperança. E ela morreu. 

Foi então que decidi avacalhar e partir para o descompromisso. O melhor local pra encontrar algo rápido e sem aprofundamento é a internet, e lá fui eu utilizar esse veículo pra conseguir me satisfazer. 

Entrei na rede social “Troca-Troca” (extinta, ao que parece, pois sumiu da web) e conheci um rapaz. Morava na cidade vizinha, e marcamos para o mesmo dia. Trocamos telefone. Voz legal, decidi sair com ele. Ficou de me buscar na estação de carro. Quando chegou, senti uma mistura de medo e adrenalina. Era a primeira vez que eu entrava no carro de um cara. 

Fomos para o shopping de Osasco, conversando mais sobre os ex-casinhos dele do que outra coisa. Achei o papo divertidinho, mas confesso que não estava no clima de conhecer para algo sério. 

“Hoje em dia ninguém quer nada com nada, Rud, todos só querem saber de sexo. Por isso ainda estou solteiro.” 

“Sim, é complicado, Tito... É complicado mesmo.” 

No shopping, não achamos horários para filmes, e então decidimos ir pra casa dele. Ser práticos. Nos beijamos no carro, nada de extra. Mas meu objetivo não era só ficar no beijo. 

Ao chegar em sua casa, me deparei com aquela bagunça, não pude deixar de me incomodar. Na verdade tudo ali estavam me incomodando. Os beijos dele, o fato de estarmos tirando a roupa. Não era pra ser assim. Eu estava entediado. Então, abri minha boca em meio aos beijos dele e disse: 

“Já dominou alguém?” 

Acho que todos já devem ter visto na vida ao menos um videozinho mais hardcore que fosse, com homens dominando rapazes mais fracos, com um ar de superioridade. O Tito nunca tinha feito... 

Nunca TINHA feito... 

Naquela noite, aquele tédio se transformou em uma das experiências mais interessantes que eu tive. O romântico, enfim, morreu, dando lugar ao devasso adormecido.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O fim de uma saga



E aconteceu que, como todos sabem, eu e o Tyler, vulgo "Marido", estávamos trabalhando no mesmo local, por coincidência ou ironia do destino. Nesse ínterim, fiz amizade com uma bela moça, Sunshine, que sentou-se ao meu lado (ela era da equipe do segundo andar, mas veio fazer um trampo no local, e nos tornamos amigos com facilidade). Ela também tornou-se amiga do Tyler, e em uma festinha de confraternização de aniversariantes do mês, eu o encontrei. Ele apertou minha mão, olhando nos meus olhos, e depois saiu. Fiquei observando-o de longe, de amizade junto a outros que eu desconfiava serem gays do setor de cima. Como eu podia ser tão deslocado naquele lugar? Todos pareciam ter um lugar. Até a Sunshine tinha sua equipe.


Um dia fui lanchar com a Sunshine e o Tyler surgiu. Conversamos um pouco. Falaram sobre o show da Katy Perry e eu fiquei na minha. Como a Sunshine podia ser tão cega de não ver que ele era gay? E como ele podia ser tão hipócrita e ficar tão na defensiva? Um ar de tensão ficou pairando entre nós três. A Sunshine me contou que o Tyler tinha lhe dito que se ela não namorasse, ele a pediria. Eu devia ter dito: “É, ele diz isso pra todos...”
Algumas vezes o yler foi no meu local de trabalho e eu (tonto) ficava esperando ao menos um cumprimento. Nem isso acontecia.
Então, os meses se passaram, e fiquei sabendo que o contrato do Tyler iria vencer, tal como o da Sunshine, ambos temporários. Fiquei triste principalmente por ela. Minha única companheira. Ela conseguiu destacar-se nos últimos dias e continuar efetiva na empresa, mas Tyler não teve a mesma sorte.
Alguns dias antes do fim para o Tyler, eu voltava do banheiro e ele surgiu no corredor.
“Ei, estou indo almoçar, quer vir?”
Perguntou, e eu me lembrei de todas as chances que ele teve de me fazer aquele convite e do quanto insisti para que acontecesse.
“Não, vou mais tarde.”
Ali, me libertei... 
No dia do Tyler partir, ele foi ao meu setor. Despediu-se de sua amiga no local, e nem olhei para ele. Ele partiu sem nem olhar para mim. Assim, terminou aquele sonho de uma pessoa inocente. Eu sempre acreditei em suas palavras enquanto era online e irreal. Mas então, quando tornou-se real, vi a verdade de uma pessoa muito mal resolvida emocionalmente. E me vi nele. Mas ao contrário dele, ao menos não minto mais pra mim.
O último resquício de um romântico esperançoso morreu com aquele adeus silencioso. Chegou a hora de nascer um Rud prático, desprovido de sentimentalismo. Assim é o mundo gay. Frio, carnal e mentiroso, e preciso sobreviver nele...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Eu juro que tentei



Há uns tempos atrás, escrevi a última postagem desse blog. Estava perfeita. Música escolhida, palavras finais bonitas, uma grande lição de moral final e definitiva, digna de mim, melancólico, dramático e esperançoso como sempre.

Quando terminei de escrever e estava pronto pra postar, acabei apertando um botão que fez apagar TODA a mensagem e o auto-save do site se encarregou de destruir meu desfecho perfeito. Perdi tudo.

Duas coisas que eu aprendi com isso: Não escrever nunca mais no editor do blog (estou em um bloco de notas) e que talvez aquilo que achamos que seja o certo em determinado momento não seja o certo para o resto da vida. Não estou pronto pra cancelar esse espaço, ainda que fique em divida com meus poucos e bons leitores (alguns até temem que eu esteja morto, rsrs [não sou suicida, gente!! Nem tendencia eu tenho, heh]). Porém, eu o criei em um momento da minha vida em que precisava criar, em que tinha um objetivo, e agora, meio que as coisas por aqui perderam um sentido. Mas não estou pronto pra dizer adeus. Minha rotina mudou, meu mundo mudou, uma nova fase começou, tão exaustiva que eu não tenho forças pra relatar aqui. Se algum dia o tiver, espero que o faça. Se não, ao menos ao fim dessa fase talvez as coisas venham a mudar.

Enfim, aos que tiverem paciencia, penso que essa é uma pausa involuntária, uma busca pelo lugar ao sol do lugar ao sol, pelo sentido de continuar postando aqui. Se eu não encontrar um sentido, volto pra me despedir, mas se o encontrar, terei o prazer que agora me falta de escrever.

Amo esse espaço.... e gosto muito dos comentários de todos. Desculpem o retiro e abandono, mas AINDA não é o fim.

Abraços a todos.
quarta-feira, 8 de junho de 2011

Dicas ao Sol: Não gosto de meninos



Sem muito o que dizer...

domingo, 15 de maio de 2011

Virada Cultural nada especial: Entre o peão e o designer



Já faz um bom tempo que não posto, e por mais que eu sinta que há necessidade de colocar um ponto final nesse blog pra que ele termine com dignidade e não seja simplesmente desses que caem no esquecimento total, algo me diz que ainda não é hora.

Ultimamente, minha vida tem sido uma sucessão de fatos estranhos e sem nexo. Eu costumo encontrar facilmente um sentido para tudo, mas dessa vez está bem complicado. Vou tentar não fazer mais posts tão grandes e tentar postar mais, o que não tenho no momento é tempo pra fazer aqueles posts enormes. Ainda assim quero resgatar um pouco do que o blog era, mesmo por que aqui virou um drama só.

Finalmente liguei o botãozinho do F%#$ODA-se na empresa e deixei de lado as pessoas que não gostam de mim. Aprendi que tenho que gostar de quem gosta de mim e dane-se os outros. E funcionou bem. As coisas não me abalam mais. Seja conversas em grupo que não me envolvem, seja panelinhas. Estou de fora de tudo isso. E percebi que é o melhor que faço. Tanto stress psicológico pra nada, simplesmente não vale a pena.

A virada cultural desse ano, ao contrário do ano passado que foi um ótimo evento, foi meio que um fiasco. Tentei contato com várias pessoas que disseram que iriam e na hora "h" simplesmente desapareceram. Como companhia, tive um ex-ficante da "T", falei dele aqui mas não lembro o nome que lhe dei aqui e nem achei o post em que falei dele. Enfim, ele teve a pior noite de sua vida. Antes de me encontrar, encontrou seu ex, que, bêbado, quebrou seu cartão de débito. Fomos ao show do Sepultura na praça da Luz a meu pedido, pois a banda iria fazer uma performance com uma orquestra. O show foi perfeito até a banda começar a cantar e cadeiras de plástico (burramente) colocadas para que as pessoas se sentassem começassem a voar... Pensei que ia morrer no local, com as pessoas tentando fugir das cadeiras e do arrastão. Tivemos que pular o alambrado e correr, foi bem excitante. Meu parceiro teve o celular roubado e isso estragou a noite. Nos deitamos no gramado da praça do Anhangabaú e a noite não estava muito boa. Resultado: Voltamos antes do amanhecer. Quatro horas cheguei em casa...

Semanas se passaram, sozinho naquele estudio, sem ligar pra ninguém. Tive que fazer plantão em um sábado, no qual entrei nove da manhã para sair às duas. Dinho foi comigo e não é que até rolou um papo sobre músicas, câmeras fotográficas e outras coisas interessantes?! Na hora da saída, cruzamos com um rapaz na porta do estúdio, um que sempre cumprimento, e ele perguntou:

"Que horas você entrou?"

"Nove."

"E já está indo embora? Não acredito, tô aqui desde as seis..."

Descendo as escadas com o Dinho, ele disse:

"Por que você não o mandou ir estudar? Odeio esses peões miseráveis..."

O que o sr. Dinho não sabia era que eu já tinha sido um peão como aquele e até senti um certo orgulho disso. O que o sr. Dinho não sabia é que eu era mais feliz quando era um peão, pois conheci pessoas maravilhosas. Me vi entre o peão e o designer, e estranhamente me identifiquei mais com a humildade do que tinha sido. Nunca deixarei essa humildade pra trás, muito melhor do que ser esse tipo de gente com a qual estou convivendo...
domingo, 1 de maio de 2011

Dicas ao Sol: Sobre homens, grupos de homens, e a decadência do contemporâneo



Faz tempo já que não dou dicas por aqui, então vamos a um rápido post.


Esse video é bem legal, vejam com paciência:





E aqui, uma sintese de tudo que tenho vivido, vlog muito bom esse:





Eu renego todo tipo de panelinha e grupo, viver só é minha sina voluntária...
sexta-feira, 22 de abril de 2011

Inatividade



Como a maioria dos que lêem deve ter reparado, a frequencia de Posts por aqui tem sido escassa. Os motivos são muitos, mas a principal razão é a falta de interesse que tenho de narrar a vida cotidiana que tenho levado atualmente. Simplesmente não tenho o que dizer, melhor não dizer nada. O que posso dizer é que depuz minhas armas e estou deixando a vida acontecer. Sempre fui de correr atrás das pessoas a minha volta, de dar minha cara a tapa, de lutar por amizades que tive. Lutei muito pra segurar as pessoas perto de mim. E o resultado foi o esperado. Todos se foram. O momento não é mais de lamento, mas de reflexão. Avaliar onde errei, pra que um dia, se conhecer pessoas novas, não me torne um fardo a elas, não me torne alguém a quem não se quer por perto. Mudei de estratégia. Quem quiser partir, que parta. Não vou forçar minha presença na vida de ninguém, não tenho esse direito. Sou um fardo a mim, imagino aos outros.

Há duas frase que acho bem interessantes:

"Seja indispensável na vida de alguém." e "não vou tratar como prioridade quem me trata como opção". São frases de efeito de orkut e msn, mas acho-as interessantes, dizem muito sobre esse período.

Na primeira frase, falhei feio. A segunda diz respeito a uma frase que ouvi de uma pessoa sobre amizade e opção que prefiro não repetir. Por um tempo, fui o melhor amigo dos meus amigos. Acho que esse tempo se foi. Como diria os Beatles, let it be, deixe estar.

Ontem estava procurando um namorado.... hoje tenho que reconstruir toda minha vida... faz parte.
quarta-feira, 6 de abril de 2011

Degradação social e o desejo de partir



Caminho em uma frequencia diferente do fluxo de minha própria vida, e não me entendo. De verdade. Realizei finalmente meu objetivo e por um tempo, foi bom. Mas depois de um tempo, percebi que por mais que eu lutasse pra me encaixar, eu não consigo. Sou uma carta fora do baralho deles. Esse post infelizmente é um desabafo, antes que eu cometa uma besteira.

Há tempos, anos a fio, não pensava em me matar. Essa noite, voltando pra casa, eu pensei novamente. Saltar do alto do Banespa no Anahngabaú foi um pensamento que me deu um friozinho na barriga, mas cheguei à conclusão que seria uma morte muito feia. Queria uma morte bonita. Desejei que Deus, em sua sabedoria, me mandasse seu anjo da morte hoje. Que fosse rápido e indolor, um tiro no peito esmigalhando esse coração seco, sem amor, sem importância. Eu finalmente responderia o maior mistéiro da vida, pronto pra voltar a viver, ou pra reencontrar quem se foi, ou mesmo pra simplesmente deixar de existir... até quem sabe encarar o que ninguém jamais imaginou, posto que a morte pode ter sido imaginada como é, ou pode ser como algo que jamais ninguém pensou.

Enfim, foi um pensamento de fraco, mas sou fraco. Tão fraco que não tenho coragem de tirar minha própria vida, acreditem, se tivesse esse post não estaria no ar. Não estou querendo pena de ninguém, nem que se preocupem comigo. Ainda que seja fraco, sou forte o suficiente pra continuar levantando, ainda que seja penoso.

O pesar se deve ao mal que assola toda a humanidade moderna para os que abrem seus olhos. Estamos todos sós. Mas o pior não é apenas se sentir só, e sim ter provas conclusivas dessa constatação. Começou há quase um mês no meu novo emprego. As pessoas que conheci, oito de uma equipe de tratadores de imagem, aos poucos demonstraram não ter nenhum interesse em minha integração com eles. Sempre que precisei de ajuda, recorri à minha supervisora, sentada ao meu lado, a que me colocou lá, que conhecia meu irmão dos tempos de um emprego em que trabalharam e que pareceu a única disposta a um diálogo interessante. O restante da equipe, nada. Nenhuma conversa direcionada a mim, todas as piadas que faziam era de um repertório interno que só eles entendiam, vindo de vídeos vistos e fatos vividas, apelidos com suas próprias histórias e situações que eu não compreendia. Até ai tudo bem, pensei. Eles devem demorar pra aceitar um novo membro no grupo, é normal um estranho invadindo seu espaço.

Mas então, em uma sexta feira, ouvi de um deles que o rapaz novo, que entraria segunda feira, era um amigo de um dos membros da equipe. Eles começaram a rir do nome engraçado do rapaz e um deles falou algo que é melhor ter ouvido do que ser surdo:

"Esse ai já vai entrar enturmado na equipe."

Dito e feito. Segunda feira, a supervisora me mudou de lugar pra ponta da fila, sentando-me ao lado de Dinho, o rapaz que, em momentos em que a supervisora não estava, me auxiliava (com muita má vontade). E eu, involuntariamente, escutei TODO o treinamento que ele deu ao novato, muito do que se eu tivesse recebido quando entrei, não teria tido tantos problemas. Em um momento, o rapaz saiu da sala e seu amigo que o indicou perguntou:

"E então, o que achou do rapaz?"

"Parece bem legal!!"

Não parecia. Era como eu, meio timido, meio acanhado, não tinha dito nada de legal até então. A única coisa que o fazia legal era o fato de todos o terem elegido o novato legal. E eu, o cara chato, mudo, deslocado.

Hoje, terça, segundo dia do rapaz, já estavam aos risos, compartilhando histórias sobre os apelidos que nunca entendi, prometendo mostrar todos os repertórios de vídeos que eles vêem e riem, para que o novato se integre a eles, contando o sentido de suas piadas internas, puxando diversos assuntos aleatórios que sempre que tentei puxar com o Dinho e ele apenas respondia sem prolongar assunto. Comparei cada frase, cada atitude, cada riso. Em dois dias, o novato conseguiu aquilo que de início tentei, mas depois desisti: entrar para a equipe.

E o que não é essa solidão no emprego senão uma grande metáfora de minha existência? Minha meia dúzia de amigos ou mora há quilómetros de São Palo e quando vêm pra cá não têm interesse em sair ou já se arranjaram e estão amando, sem tempo pro que restou da amizade. Não tenho amigos senão por telefone, minha vida é vazia de pessoas a quem possa abraçar e acreditar que gostam de mim. Não sei amar e não sei se alguém algum dia já me amou ou ao menos gostou de mim incondicionalmente, com minhas falhas e erros, torto como sou. Não sei me integrar. Ando solitário por essa vida. Nunca me importei até hoje, vendo aqueles risos daquelas pessoas parecendo ignorar minha existência:

"Estou treinando você por que se seu amigo o fizesse, ele só te zoaria. Vamos deixar a zoeira entre nós pra daqui mais ou menos uma semana, quando tiver mais intimidade, quando você for um brother nosso."

Pérolas que eu ouço o dia todo direcionadas ao novato, como se me ignorassem ao lado, ouvindo tudo. Não quis me matar por essa idiotisse de não estar integrado às pessoas que trabalho, mesmo por que converso nos intervalos com vários do andar de cima. A questão é que pareço não estar integrado à própria vida que levo. No fundo de mim, nesse escuro sem fim, não encontro paz. Estou só, sou só, e nada nem ninguém pode mudar isso. Chego à constatação de que NÃO CONSIGO ESTAR SATISFEITO NUNCA.

Se eu morresse, demoraria quanto tempo pra cada amigo meu, à distância, descobrir? Dias, talvez meses, talvez nem soubessem. Enfim, vou cavando minha própria cova social, afundando no desespero silencioso de mais uma vez ter sido quase feliz. Sempre quase amei, quase me satisfiz, quase sosseguei. Por sorte ou azar, pra morte não há quase... Nesse ritmo, terei quase vivido, e isso não quero jamais. Novamente busco minha salvação em algum objetivo desconhecido, por que só o que me move é a expectativa. Como não as tenho, me falta forças pra caminhar. Buscarei objetivos pra não definhar nos pensamentos fúnebres.
segunda-feira, 4 de abril de 2011

Retiro



Sem pensar em um plano B
Falhei em minhas expectativas.
Com esperança, confiei que a competência vencesse
e ainda que tivesse prometido não desanimar
desanimei.

Já diz o velho ditado
que quando a vida nos quer castigar
atende nossos desejos
não foi diferente comigo
mesmo na vitória não encontro conforto.

Tudo que eu quero é não me importar
tudo que eu quero é ignorar a opinião alheia
é desconsiderar a importância do outro
quero independência pessoal

quero respirar por mim mesmo
quero não precisar de ninguém
ainda que isso me torne menos humano
Pra que humanidade em um mundo
que se esqueceu de acreditar?

Quero correr
quero saltar
mas sou preso ao outro
por que os olhos alheios
pesam tanto sobre meus ombros?

Retiro-me de meus projetos
de minhas esperanças
de minhas falhas
Estou me fechando
na escuridão de dentro de mim
e não há luz...

não houve luz...
sexta-feira, 18 de março de 2011

Forasteiro silencioso e o significado da felicidade



"O novo é necessário.
Mas ninguém gosta do novo.
O novo incomoda.
Tudo era bom antes da chegada do novo.
A mudança é a quebra da estabilidade.
Viva a tradição. Descartem o novo..."

Tenho vivido dias solitários nas últimas semanas. Como sempre, a vida mostra que mesmo me dando algo, ela tira outra coisa pra manter o equilíbrio natural que povoa minha vida. Sou eternamente insatisfeito, logo, infeliz por natureza. A infelicidade parece um vírus que não me abandona.

Como vocês acompanharam nos últimos Posts, eu finalmente conquistei meu lugar ao sol no quesito de emprego, o que me deixou muito satisfeito. Porém, por mais que eu esteja (e estou, acreditem) adorando a nova experiência, eu fui o único a entrar no meu setor, o que criou um clima estranho no ambiente. Me sinto um invasor. No local, que eu achei poder ser um local de oportunidades em achar alguém no mínimo interessante, o que encontrei foram pessoas bem resolvidas, jovens, alguns com filhos, cheias de pequenos preconceitos de prache da sociedade, piadinhas contra homossexuais rolando natural e constantemente, como se ser "viado" fosse como ser uma aberração e como se chamar o outro de "viado" aumentasse a própria masculinidade, vários papos entre eles que eu não entendo por que não estou inserido na linguagem deles... Enfim, há uma microsociedade formada e eu sou o forasteiro silencioso. Só falo quando tenho dúvidas, e eles são bem atenciosos, mas não se esforçam pra me integrar na equipe.

Resumindo... o preço da satisfação parece estar sendo pago. Me sinto só...

Aproveitando a abordagem, decidi definir a felicidade, na minha opinião. Felicidade pra mim não existe. Ao menos, não como é conhecida. Aquela felicidade do eterna e prometida, nunca poderia ser vivenciada, mesmo porque é impossível o mundo sem uma balança entre contrários. Eu considero a felicidade como nível de satisfação. Estar feliz é estar satisfeito. Estar infeliz te obriga a a se mover, a procurar a satisfação. O objetivo de todos, seja trabalhando, seja estudando, amando, seja fazendo o que quer que faça, é a busca da satisfação própria e das pessoas a sua volta. Pra mim, quando estamos satisfeitos com um aspecto de nossas vidas, os outros se afloram pra nos dar mais motivação em busca da satisfação completa. E ela não existe e não pode existir. No momento em que estivermos satisfeitos em todos os aspectos, de duas uma: Ou estaremos nos iludindo, ou nossa vida perdeu o sentido. Olhem nos orkuts e Msns da vida, estão cheios de pessoas "felizes", "satisfeitas" e "contentes". Questionem esses perfis. Eles trazem as pessoas mais rasas do mundo. Ninguém é ou está feliz o tempo todo, isso é mera ilusão, e graças a Deus que é, pois pensem como seria um mundo de plena satisfação! Que chato...

Então, um brinde à insatisfação e a infelicidade que nos move em prol de nossos objetivos. Abaixo o culto da felicidade que nos quer obrigar a ser rasos e contentes. Ser feliz holywoodianamente parece ser uma obrigação de nossa sociedade, e não à culpo. Analisando sociedades anteriores, a mulher não tinha direito à satisfação, era submissa, e o homem vivia pra trabalhar e trabalhava pra viver e sustentar a família. Plenamente heterocentrista, sem variações. O mundo mudou, direitos foram alcançados e a felicidade pareceu um direito conquistado, um dever social. Se estou feliz, atraio pessoas. Se sou depressivo, às afasto. Pois pra mim as pessoas mais interessantes desse mundo são aquelas que tomaram consciência de que não podem ser plenamente felizes, mas que lutam por um mundo diferente, por uma vida melhor, por uma causa inexplicável, que não se contentam com o tédio de viver satisfeito com pouco. Os heróis, os revolucionários, os escritores, os gênios não pensam na satisfação própria, mas do mundo em que vivem, da satisfação geral, pois essa causa a sua, ainda que a alcancem através da própria angústia exposta. 

Aproveite os poucos momentos de satisfação que tiver, pois eles lhe serão raros e únicos. Aproveite cada momento de angústia que viver, pois este será responsável por seu crescimento cada vez maior e lhe conscientizará de que precisa encontrar a sí próprio e a própria satisfação. Vamos rumo à felicidade, ao lugar ao sol, à satisfação ou ao que quer que a nomeiem, pois viver por ela, ainda que utopia, é a única coisa que nos vale a pena.
domingo, 13 de março de 2011

Amor eterno e incondicional...

"Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo."

O Pequeno Principe



Hoje vou falar sobre o amor. O amor em sua forma mais incondicional existente. O amor mais puro de todo o universo. Hoje vou falar de um ser que mudou o rumo da minha vida nos últimos onze anos, mais especificamente nos quatro ou cinco últimos. Seu nome era Xuxa, uma cachorra que viveu junto conosco por todo esse tempo, nos trazendo alegrias, preocupações e transformando nossas vidas de forma inimaginável.





Xuxa, que nunca soubemos de qual raça era (talvez uma mistura de Yorkshire com vira-lata), dessas que não crescem muito, foi sempre pequenininha, porém altiva e forte. Chamávamos de cachorra metida, pois passava com o rabão empinado e parecia ser chefe dos cachorros do quintal, sendo a mais velha da trupe. Cachorros vieram e cachorros foram, mas ela perdurou. Como moramos em um quintal familiar, inicielmente ela pertencia às nossas primas. Mas um fato mudou tudo alguns anos atrás.

Xuxa engravidou. Como todos sabem, cachorras quando engravidam vão ter os filhotes em locais escondidos. Ela se escondeu perto de minha casa, dentro de uns entulhos, e minha mãe, vendo aquilo, ajudou acomodando-a e a seus filhotes quando esses nasceram.

Mais ou menos um mês depois, deu uma enchente aqui no quintal, e, desesperada, a Xuxa subiu em um local mais alto, uivando pra que alguém salvasse seus filhotes. Minha mãe foi quem os salvou e colocou junto dela. Após desmamarem, as filhotes foram dadas, mas daquele salvamento nasceu o maior amor que eu já vi. Xuxa abandonou seus donos antigos, ficando na nossa porta, às vezes entrando em casa. Criamos um cantinho pra ela com uma almofada e ela passou a viver aqui. Sempre que eu ia no banheiro, passava por ela e ela me acompanhava até a porta, esperando que eu saísse. Quando saía, à enchia de carinho e ela, toda manhosa, ficava choramingando. Pode-se ter certeza que nenhum bicho recebeu mais carinho nesse mundo do que ela.

Quando minha mãe saía pra algum lugar, a Xuxa ficava agitada, apreensiva e estressada, correndo pelos cantos farejando. O sossego só vinha quando minha mãe chegava. Ai era só festa. Ela sempre pulava e agarrava com suas patas nossas cochas, abaixando sua cabeça enquanto fazíamos carinho, choramingando como um filhote carente.

Decidimos não arriscar outra gravidêz e mandamos castrar a Xuxa. No dia em que a mulher veio buscá-la para castrar e a colocou na jaulinha, ela ficou nos olhando com aqueles olhões e nos bateu a primeira preocupação. Não aguentava ver aqueles olhos gigantes me encarando sem poder fazer nada. Mas ela voltou bem, e a médica disse que durante a castração, encontrou um princípio de câncer nela, mas conseguiu retirar antes que fosse um perigo. Se não à tivéssemos castrado, provavelmente teria durado mais alguns meses. Sua vida foi prolongada por anos.

Passei a me preocupar muito com a Xuxa quando soube que por duas vezes o carro tinha parado em cima dela, e ao invés de se esquivar, ela se encolhia no meio da rua. Sempre que um carro derrapava na rua ou brecava, eu corria pra ver se ela estava bem. Estabeleci uma relação quase de pai com ela, cuidando e dando todo o amor possível.

No fim do ano passado a orelha dela inchou e tivémos que levar ao veterinário pra fazer uma punsão (enfiar uma agulha pra tirar o sangue). Foi um dos momentos mais horríveis da minha vida ter que segurá-la pra realizar o procedimento sem anestesia devido á idade dela. Ela ficou com um cone na cabeça, desesperada pra poder coçar a orelha e no primeiro dia, desapareceu sem deixar pistas. Desesperado, fui atrás dela, correndo pelo bairro sem saber pra onde ir. Sentei no degrau de um bar fechado e pedi que ela estivesse bem, desesperado. Meu maior medo era que ela sumisse. Quando voltei pra casa, descobri que ela se refugiou debaixo da cama da sua antiga dona. Nunca fiquei tão aliviado.

No natal de 2010, sem nada pra fazer, eu passei com ela, que latia conta as bombas enquanto eu à abraçava, desejando um novo ano ótimo a ela. Compartilhamos muitos momentos juntos, repletos de felicidade. Ela ia de manhã fazer caminhada com minha mãe, se divertindo no parque aqui do lado de casa. Estava presente em todas as reuniões de família, era super lambida com as visitas, sempre esperando carinho.

Então, há dois meses mais ou menos, percebemos um inchaço em uma de suas mamas. Não achamos ser nada grave mas o inchaço aumentou e levamos no veterinário. A doutora diagnosticou como câncer (havia voltado) e disse que viajaria na próxima semana e poderia fazer a operação na semana seguinte. Esperamos, cometendo o maior erro de nossas vidas. Xuxa foi levada pra operação na semana seguinte e ficamos apreensivos no dia. Recebi a ligação e a doutora pediu pra eu ir com minha mãe até lá. Logo que chegamos, mesmo sem dizer uma palavra, ela começou a latir desesperada, presa numa jaula, provavelmente só sentiu nosso cheiro. A doutora disse que o câncer era irreversível e que a única opção era esperar. Quando o momento chegasse, teríamos que levá-la ao sacrifício. Com o pelo raspado bem curtinho (ela sempre foi peluda), Xuxa voltou pra casa, comendo na sua vasilhinha de comida. Vendo aquela cena, me dei conta da situação e comecei a chorar. Nos próximos dias, demos todo o amor possível a ela, já que era a única coisa que podíamos fazer. Ela foi forte o tempo todo. Colocamos uma almofada bem macia no quarto que era da minha irmã e ela passou a dormir lá, mas antes de dormir, ficava sempre na sala enquanto estávamos aqui, do lado da perna da minha mãe, fazendo parte de todos os momentos possíveis. Quando não queria comer, dávamos a ração na boca dela, que fazia um esforço. Um dia cheguei do serviço e me sentei do lado dela, colocando sua cabeça no meu colo. Cada vez que eu parava de fazer carinho, ela levantava a pata querendo mais. Dei comida na boca dela e fiquei lá o maior tempão. Sua respiração ficou bem difícil nos últimos dias, pois o câncer espalhara-se por todos os seus órgãos. Ontem, antes de dormir, passei no quarto dela e, como há muito tempo não fazia, ela abanou o rabo pra mim, que passei a mão nela antes de ir, sem nem imaginar ser uma despedida.

Hoje minha mãe me acordou dizendo que ela tinha falecido e fui me despedir. Prefiro pensar que ela morreu dormindo. Fomos enterrá-la perto da estrada e foi impossível conter as lágrimas e se lembrar dos bons momentos. Xuxa não morreu, apenas partiu, e está viva em nossos corações. Tenho certeza que há um local reservado pra todas essas almas que mudam nossas vidas com seu amor incondicional e sua alegria. Vou sempre me lembrar desse amor, por que tirando o familiar e de amizades mais próximas, foi o único que senti em plenitude e sinceridade. Só queria ter certeza de que um dia vou reencontrá-la e que um dia vou poder novamente lhe fazer carinho em algum lugar. Nessas horas a gente perde a fé, perde tudo. De que valem as conquistas se a gente perde quem ama? Espero que ela saiba que foi amada por nós, e que esteja olhando por nós lá de cima.

Boa viagem, Xuxa, e obrigado por nos proporcionar os melhores anos de nossas vidas.
sexta-feira, 11 de março de 2011

Caminhos cruzados: Apresentando: Aquele que não podia ser encontrado



A vida é mesmo muito engraçada, cheia de embaraços, um "castelo de caminhos cruzados" (ótimo livro), um emaranhado de entrelaços cósmicos estranhos e bizarros. Aquelas certezas no interior do poço parecem elucidar-se lá do fundo da escuridão do esquecimento, querendo voltar. Sim, a vida é mesmo uma batalha entre os destinos invisíveis se digladiando numa arena dentro de nós. Os últimos acontecimentos, um deles em especial, selaram os últimos tempos de minha vida com chave de ouro.

Tudo começou no ano passado, quando fui na turma da noite e vi um rapazinho em um dos grupos de designer que achei muito lindinho. Convidei ele e seu grupo para assistirem minha apresentação de TCC e eles foram, foi bem legal.

Voltando ao presente, decidi nã ficar em casa esperando a segunda feira de carnaval, na qual eu trabalharia (injustamente, porém sem nem ligar, já que estava muito empolgado pra começar) e ir à "B" (cansei da "T") me acabar na pista. Fui à balada e quase me perdi pra chegar lá, mas consegui. Aguardei a entrada na fila e entrei. Foi bem legal a balada, inclusive o show que teve, dos quais não sou fã, foi bem interessante, assisti inteiro e curti. Em um momento do show, vi do outro lado do palco um rapaz. Quando vi, fiquei encantado. Ele me deu umas olhadas do outro lado do palco, meio desconfiado, e fiquei olhando sem parar. Então, me bateu uma dúvida:

"Eu conheço esse rapaz!"

Fiquei encafifado. Quem era ele? Eu lembrei de sua fisionomia de algum lugar. Após o término do show na pista principal, fui para a pista mais tranquila e sentei no sofá, ficando de boa. O rapazinho apareceu naquela pista também e ficou conversando com um amigo. Foi então que eu recordei.

Sim, era o designer da turma da noite.

Mas não tinha certeza. Será que era ele? Fiquei intrigado o resto da noite, e até nos cruzamos de novo, mas ele meio que virou a cara... deixei quieto. Fui embora pensativo: A balada foi boa, mas acho que tenho problemas com balada, pois não me acabo de dançar como a maioria e saio de lá faltando algo. Que careta eu sou....

Bom, cheguei em casa e só me restava esperar o dia seguinte, primeiro dia em um emprego novo com tudo novo de novo. E o medo de novo também. Só o que eu queria é parar de aprender. Tive um mês de aprendizado no teleatendimento e agora terei novos processos de aprendizagem. Isso cansa. Não que esteja reclamando, só estou observando.

Dia seguinte, fui pra nova empresa. Ansioso, empolgado, temeroso. Seria o único novato na equipe, o único a entrar, conhecer um grupo já formado. Bateu a insegurança natural. Cheguei e esperei até encontrar uma mulher da qualidade, Katia, que me levou para conhecer a equipe do estúdio que fica em uma porta ao lado da operação, com uma porta de metal escrito "Somente pessoal autorizado". Me senti importante. Conheci a equipe que dali em diante dividiria experiências (na verdade, por ser feriado, só tinham dois da minha equipe, de webdesigners, mais três da equipe de vídeo e fotografia e mais duas da equipe de multimidia, todos dividindo o mesmo espaço, o estúdio. Os rapazes foram bem hospitalheiros com minha chegada, mas não fiquei por lá muito tempo. A Katia fez questão de me levar ao terceiro andar para conhecer a equipe de produção, que trabalha em conjunto com os designers (sempre quis dizer "os designers" incluindo-me na equipe, em voz alta, hehe). Agradecerei a Kátia por toda minha vida por esse tour.

No andar de cima, conheci a equipe de produção, conheci a equipe de qualidade (com um rapaz que achei muito gato) e caminhei para a terceira fileira, do pessoal responsável por livros. O primeiro rapaz girou a cadeira e meus olhos encararam sua face. Nossas mãos se cumprimentaram, selando uma resposta à pergunta que ficou aberta há tempos. Como um flashback de filme, me veio à mente a primeira conversa que tive com aquele rapaz encantador pelo msn, com o qual combinei de me casar, e que depois ficou me mandando mensagens por diversos meios de comunicação como orkut, sms... rapaz que morava na mesma cidade que eu e que, no fim das contas, acabei nem me encontrando, achando ser apenas uma relação ilusória, um produto de minha imaginação. Vocês, caros leitores, se lembram de Tyler? O também chamado aqui no blog de "marido"? Pois é... ele existe. E naquele instante único, apertamos as mãos, saindo faíscas dos olhos mediante nosso reconhecimento imediato. Destinos cruzados, afinal...

Continuei cumprimentando as outras pessoas, esquecendo nomes, esquecendo fisionomias e Katia se sentou comigo explicando o sistema da empresa, mas suas palavras pareciam estar em outra lingua, eu a via falando e não estava entendendo, eu só conseguia pensar naquela troca de olhares, naquele destino selado, naquele instante.

Descemos, e de tarde, após o almoço, mandei mensagem no celular do Tyler, perguntando se era ele que eu tinha conhecido na empresa. Não obtive resposta. O restante do dia foi aprender o que eu ia fazer dali em diante. Mecher no Mac é um desafio à parte e vendo os rapazes mechendo no Photoshop, vi que terei que ralar pra chegar ao nível deles. O desafio será grande. Cheguei em casa, mandei mensagem pelo orkut ao Tyler. Nada de resposta também. Comecei a ficar irritado. Afinal, era ele ou não era?

Desisti de correr atrás. Tyler sempre foi um rapaz reservado, e eu acredito que ele não iria querer ter contato comigo na empresa, o que poderia, na cabeça dele, revelar seu segredo ou algo do tipo. Decidi deixar pra lá.

No dia seguinte, finalmente conheci a equipe toda de trabalho, todos me zoaram por começar no feriado e foi legal. São 7 webdesigners, mais eu e a supervisora, Andréia, amiga do meu irmão que fez a entrevista. Sentei ao lado dela, que começou a ensinar os processos. Aos poucos estou pegando bem. Ela me levou para o andar superior pra conhecer a chefia e passei na fileira do Tyler. Não olhei para ele, só de canto de olho, e ele estava vitrado no computador. Descemos, e voltei a trampar de boa. No fim da tarde, recebi uma mensagem dele:

"Você não recebeu meu sms pelo jeito, não é?"

Respondi que não, e ele disse que tentou mandar aos meus dois celulares. Disse que não recebi nada e pedi que ele reenviasse o que tinha mandado. Não obtive resposta. Enviei mais duas mensagens e nada. Isso me deixou irritado de novo. Pedi à minha supervisora pra me deixar ir me desligar do teleatendimento no dia seguinte e ela deixou, mas eu ainda teria que ir trabalhar a tarde.

No trem, indo para a empresa, mandei uma mensagem sincera ao ex-marido:

"Olha, cara, na boa, não quero atrapalhar sua vida. Sou um cara bem discreto como você, mas vou respeitar se não quer ter contato comigo. Desejo tudo de bom pra você, não vou forçar a barra. Só queria te conhecer em nome da amizade que um dia tivemos. Boa sorte ai, man..."

Não deu nem cinco minutos, recebi uma mensagem dele falando que queria almoçar comigo mas que não respondi as mensagens dele, pedindo que eu não fizesse o que ameassei (tá vendo como pressionando as mensagens dele chegam?). Ele combinou de almoçarmos juntos amanhã. Realmente esse é um dos períodos mais compensadores de minha existência, mas não tenho expectativas com o rapaz, procuro nesse instante uma boa amizade com ele. Já chega o quanto fomos precipitados no início da relação. Agora é esperar pelos próximos acontecimentos que hão de vir. Minha supervisora disse que no dia seguinte entraria uma equipe de novos integrantes no setor de livros, em que o Tyler trabalha, e eu iria assistir as explicações deles pra ficar por dentro. Bateu um medo de ver o rapaz na minha frente, duvido que consigo prestar total atenção no que me explicarem...

Enfim, como escrevi no msn: "Caminhante, não há caminho. Faz-se o caminho ao andar." Metade de mim está resolvida, agora só falta o coração...
quinta-feira, 3 de março de 2011

Aborto expontâneo: Apresentando: O Webdesigner



"É terrível morrer de sede no mar. Porque haveis então de salgar a vossa verdade de modo a que não mate já a sede?"

Essa frase genial escrita por Nietzsche, meu filósofo maluco predileto, tem sido a moral de minha vida nos últimos tempos. Principalmente a primeira parte. Como é possível tanto gay no mundo, como um mar, e nem unzinho se interessar por mim? Como pode um mundo projetado por designers, artistas e estagiários e nenhuma vaga sobrar pra mim? Como pode tanta injustiça? Esse poderia ser um post sobre as injustiças do mundo e sobre as frustrações pessoais de alguém que acordou para o fato de ser um zero à esquerda; MAS NÃO É.




Esse é um post sobre justiça. Um post da entrega da vida a quem está morimbundo, de ar ao afogado. Esse post é sobre redenção e justiça.

Como eu disse anteriormente, para trabalhar em teleatendimento, eu tive que me desligar da racionalidade, vivendo sem pensar, sem refletir. E estava funcionando. Porém, no dia em que encontrei meu irmão na estação de trem, contei de minha situação atual. No dia seguinte, recebi um e-mail dele pedindo que eu enviasse um e-mail à sua amiga que trabalhava na área, para que ela tentasse me ajudar.  Mandei o currículo. Afinal, não custava nada, apesar da falta de fé na área. Continuei trabalhando. Comecei a atender, e até pensei que levava jeito pra coisa, sem me estressar com os clientes e rindo à toa de muitas situações. Um dia, cheguei e caminhei à minha PA (mesa de atendimento), passei pelo corredor e meus olhos encararam um rapaz bem interessante. Ele olhou para mim. Faíscas saíram dos olhares. Me encarando encará-lo, ele me mostrou um jóia. Correspondi simpaticamente e fui trabalhar otimista de que várias oportunidades surgiriam ali.

Foi então que, na segunda feira, estava em meio a um atendimento e meu telefone tocou. Pedi que esperasse e atendi quase embaixo da mesa (proibido entrar celulares na operação). Era um agendamento de entrevista. Em designer. Fiquei otimista, fui pra casa e vi o e-mail confirmando no dia seguinte para estar lá às nove da manhã. Eu teria que faltar na empresa. Se eu passasse, não precisaria me preocupar com a falta, mas e se eu não passasse? Que explicação daria? Enfim, decidi ir, inventaria uma intoxicação alimentar tratada em casa.

Fui à entrevista em uma cidade a meia hora da minha, em uma empresa visinha à que trabalhei de logística pela primeira vez, para a qual tinha mandado meu currículo de designer. Achei estranho, pois não sabia como meu currículo tinha ido parar na empresa visinha e não na que eu enviei. Na entrada, conheci uma moça bem legal, formada em jornalismo e concorrente à minha vaga, aspirante à área de criação tanto quanto eu. Conversamos bastante na recepção, subindo com uma turma grande de pessoas para as quais foi explicado mais sobre a empresa. Depois, fomos fazer uma prova. Específica na área. Português, matemática e produção. Bem difícil. Descemos um por um para entrevistas individuais. De designer, eu tinha apenas três acompanhantes, incluindo a jornalista. Uma outra entrevistadora desceu, e me cumprimentou. Então, diante da quase certeza de que seria somente mais uma tentativa frustrada de entrar para a área... DEUS EX MACHINA...

"Você é o irmão do RRR, não é?"

Era a amiga do meu irmão. ERA ELA. Fizemos uma entrevista leve e tranquila. Me explicou sobre a vaga, sobre não precisar de experiência, sobre a perfeição que seria. No final, perguntou: "Pronto pra começar?" e eu confirmei.

No fim da tarde, tive a confirmação. Eu estava contratado. Foi uma festa só. Minha mãe ficou feliz, o que é raro (ela disse que teleatendimento não era pra mim). Pensei na empresa em que estava, no que diria no dia seguinte pra sair, em tudo que aconteceu nos últimos tempos. É tão bom sentir-se vivo, sentir as mudanças na vida acontecendo, sacudir a poeira da comodidade. Enfim, é bom demais ter um post positivo pra postar aqui, pra variar.

E não acabou por ai. Fui à empresa no dia seguinte pra me desligar daempresa e no caminho, cruzei com uma colega do trampo, contando que estava indo pra cair fora. Fomos conversando até que de repente, cruzei os olhos com o Tulio (o rapaz que eu acabei gostando e acabou não respondendo meus recados). Minha colega foi embora e eu fiquei conversando com ele (quase uma hora e meia). Ele explicou que o único contato que tinha comigo era pela net e que como eu estava sem net, ficava difícil. Também disse que acabou limpando meu número sem querer (tá, ninguém cai nessa) e fiquei sabendo um pouco mais dele e vice-versa. Ele mora em São Paulo com a irmã mas  a família mora em Santos, o que me deixou um pouco receoso, pois ele vive indo pra lá. Mas receoso por que se nada temos? Marcamos de ir num cinema (quer que eu pague, já que agora tenho um bom emprego), e vamos combinar. Em um momento, chegamos ao assunto de eu às vezes ser iludido pelas pessoas, e ele então disse:

"Você tem que tomar cuidado, Rud. As pessoas são más por natureza, e por natureza maior ainda os homens são safados. Não digo isso na questão amorosa ou de relacionamento, mas isso inclui seus amigos também. Tome sempre cuidado para que não te machuquem."

Gostei do que ele disse, pois coube bem na minha ilusão de curtí-lo no primeiro encontro e de ficar abalado com seu sumisso. Não posso me apegar tão fácil às pessoas assim, para meu próprio bem. Foi um papo ótimo.

Chegando na empresa, falei com minha supervisora. Vi o rapaz que me deu jóia há uns dias atrás e ele não me viu. Virei a cabeça e vi minha Mini-obi lá no fundão, atendendo. Olhei para a operação e vi o caos instaurado. Me senti então aliviado por estar deixando o local, que apesar de eu ter gostado, não era pra mim no fim das contas. Minha supervisora perguntou o que houve e eu comuniquei que estava deixando a empresa por ter conseguido emprego na minha área. Ela perguntou qual área e eu disse que era designer. Daquele dia em diante, eu iria ser instruído por um novo supervisor, e ela pediu que ele fizesse meu desligamento. Ele me levou para o segundo andar, para um local mais tranquilo.

Chegando lá, expliquei os motivos do desligamento e ele começou com um discurso.

"O que tem lá na outra empresa que não temos aqui? Olha, aqui também temos webdesigner. Eu sempre falo às pessoas que nada é como a gente planeja, que nem sempre podemos dar um passo maior do que nossas pernas e que às vezes surge uma oportunidade e que não estamos prontos pra ela."

Eu então revidei:

"Ok, mas como você vai saber se está pronto ou não se nunca tentar? Eu prometi a mim mesmo que iria meter as caras esse ano."

"Ok, isso é verdade, mas as vezes acabamos nos precipitando. As vezes temos que ter paciência, principalmente nós que não nascemos com a bunda virada pra lua. Eu por exemplo, sou formado em TI, e estou aqui na empresa como supervisor sabendo que a bagagem que eu adquiri aqui irá me levar longe quando eu sair daqui. Um amigo meu me ofereceu uma vaga uma vez para que eu trabalhasse na Microsoft... e eu recusei, pois sabia que eu não tinha repertório ou bagagem pra trabalhar lá."

Fiquei mudo. E um pouco triste. Mas, mais do que tudo, inconformado. Que raios de pensamentos imbecís eram os daquele cara? RECUSAR MICROSOFT? Eu iria sem repertório, sem bagagem, com a cara e a coragem!!!!!!!!! O rapaz do jóia veio para o lanche e fiquei de olho nele, com a esperança de poder comunicar minha saída e quem sabe não conseguir seu telefone... Mas ele nem me viu.

Enfim, ele me convenceu de que seria melhor me desligar apenas quando tivesse certeza de que os exames médicos seriam positivos e tal. Achei legal da parte dele se importar comigo (ok, ele só se importa com mais um funcionário em sua equipe e em não ter o trabalho de me desligar....). Peguei minha carteira de trabalho e parti. De tarde, teria o exame médico e entrega de documentos. Correu tudo bem, não encontrei minha colega jornalista, será que ela passou? 

A carga horária do novo emprego é um pouco pesada (considerando que no atendimento eram 6 horas), e já me avisaram que não teremos feriado (trampar no carnavalzão) mas o importante é ter webdesigner na carteira e começar a trilhar no caminho certo. Sabia que 2011 não me decepcionaria. Agradeço ao apoio de todo mundo que disse pra eu acreditar e esperar. Segui a dica e aconteceu. A sede foi, enfim, saciada e uma nova fase começa. Essa foi somente a primeira batalha.


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pequenas desilusões: Apresentando: A mini- Obi



Fiquei sem net por um tempo, por isso a falta de atualizações por aqui..... 

Bom, entrei no emprego de telatendimento e desde então tenho desligado minha cosciência para tentar sobreviver aos fatos que tenho passado. A vida tomou rumos inesperados e prometi que 2011 será um ano de experimentação e busca de minha identidade profissional. É o ano de eu desengavetar projetos. Mas enquanto não tenho grana pra pagar minhas contas nada disso é possível. Então estou dedicando esse tempo ao trabalho e no interim, escrevendo muito meus livros pra tentar a sorte na editora.

A experiência como teleatendimento é algo totalmente novo, e somente o fato de estar trabalhando já deu um UP em minha vida, ainda que em algo indesejado. Em três semanas conheci mais gente que no último ano em que passei, e essa é a parte boa de se ter uma vida social.

No primeiro dia de treinamento, fui para a última fileira e avistei na fileira da frente um rapaz de olhos verdes, cabelos arrepiados, brinco na orelha e tímido em seu canto. Aproveitei que a fileira dele estava praticamente vazia e pulei para ao lado dele. Tudo indicava, segundo minha primeira impressão, que se tratava de um gay. Quando ele abriu a boca, eu tive certeza. Tinha uma voz estranha, bem afeminada, porém misturada a um jeito meio mano para disfarsar. Quase não conversamos durante a aula, mas justo meu computador estava sem net e eu tive que ler as coisas com ele. Começamos a conversar mais. Seu nome era Reinan.

Em um certo momento, uma mulher comentou que na empresa, os homens mais bonitos eram todos gays. Então, o Reinan disse "geeeentiiii", de uma forma bem gay, começando a soltar as asinhas. Achei estranho ele zoar daquele jeito. Minhas suspeitas caíram por terra. Reinan não era gay. Ele começou a contar das meninas que pegava, andando no intervalo com uma garota que estava em seu "esquema". Para falar de mulheres, recorria ao rapaz do meu lado, Mauricio, um mulato alto e gostoso, que estava gostando de uma menina da sala e atá chegou a ter um lance com ela.

Com o tempo, a amizade com o Reinan foi crescendo. Na prova, nos ajudamos, nos intervalos, ficavamos conversando, foi bem interessante. Algo estúpido começou a crescer dentro de mim. Cada vez que via seu sorriso, cada vez que ele fazia uma piada, rindo bobamente, eu ia me encantando mais e mais. Não demorou muito...

....nasceu uma mini-Obi...

Tenho pretenção a causas impossíveis. É triste quando isso acontece. A verdade é que minhas expectativas frustradas criaram isso tudo. Na segunda semana de treinamento, conheci um rapaz na internet e tivemos um papo legal sobre querer namorar. Aproveitando que ele estuda na Barra funda assim como eu trabalho por lá, combinamos de nos encontrar no dia seguinte. O esperei na catraca, cheguei bem mais cedo do que o horário. De repente, meu irmão surgiu, contando estar indo ao tabalho e contei onde estava trabalhando. Avistei o rapaz, Tulio, do outro lado da catraca e, enquanto conversava com meu irmão, sinalizei para que ele esperasse. Após meu irmão partir, fui ao encontro dele.

Ele me acompanhou até a porta da empresa, e eu gostei muito de conhecê-lo. Fiquei bastante empolgado em ter algo com ele, em reencontrá-lo, e no fim do encontro perguntei se poderíamos nos encontrar de novo, ele disse que sim. No mesmo dia, minha internet cortou e pela lanhouse, enviei meu telefone pedindo que ele me ligasse. Ele disse então por scrap que tinha algo importante pra me dizer mas que contaria quando sua net voltasse. Limpou meu recado dos telefones e não enviou os dele e nem mais nenhuma mensagem. Foi um baque, e pra esquecer, comecei com essa palhaçada de investir forças no impossível.

Durante o treinamento, acabei criando uma mentira pra me encaixar. Uma garota perguntou se eu já tinha namorado e eu falei que sim:

"Namorei por três meses... mas não deu muito certo."

"Por que não?"

"Por que eu estava no fim da faculdade e estressado, foi um período muito difícil e a gente acabou brigando muito... Tentamos ser amigos mas mesmo assim não deu certo."

O Maurício ouviu nossa conversa e, identificando-se com a situação, veio conversar depois.

"Estou na fase da amizade com minha ex, mas também nao está dando certo."

"Ah, cara, desiste... mulheres são muito complicadas..."

Que merda, o que eu sabia sobre mulheres pra falar. Me senti ordinariamente patético naquele dia, mas não vou mentir mais. As vezes será difícil, mas vou tentar ao máximo ser verdadeiro. Comecei a atender no emprego há dois dias atrás. O primeiro foi um caos, o segundo até que foi melhor. O bom de teleatendimento é que tem muito gay  (porém até agora a maioria me pareceu esnobe e se sentindo meio superior) e não me sinto tão reprimido, porém preciso criar coragem pra ser eu mesmo...

Minha mais nova OBI me adicionou no orkut e vi que ele está namorando. Minha internet voltou e acho que posso tentar seguir em frente... Tomara.
domingo, 13 de fevereiro de 2011

Feliz aniversário, Nosso Lugar ao Sol



Parabéns pra você, Nosso Lugar ao Sol.

Finalmente ele completou um aninho de existência, e nada melhor do que uma mudança no visual pra acompanhar esse fato. Nunca pensei que seria capaz de escrever um blog regular por tanto tempo, e espero que possa durar ainda muitos anos.

Esse blog começou com uma idéia simples de contar meu cotidiano. A idéia é que ninguém que eu conheço ao vivo soubesse de sua existência, porém as coisas mudaram drasticamente em um ano. Tive alguns contratempos com alguns leitores, outros aceitaram até bem ter suas vidas ainda que em pseudônimos citadas no blog. Enfim, um ano se passou e pretendo criar algumas novidades. Uma delas é a sessão de contos (gays e por que não, não gays também!) que farei. Poderão ser minisséries ou capítulos únicos (quando em minha vida não estiver acontecendo nada muito interessante),  além de colaborativos (se os leitores tiverem contos publicados em outros lugares ou mesmo sem terem sido publicados) Nosso Lugar ao Sol estará aqui para isso. O foco do blog se deslocará um pouco, não sendo unicamente sobre mim, mas expandindo horizontes e contando histórias fictícias também. 

Com o tempo novas mudanças surgirão. Espero que meus leitores continuem me acompanhando pacientemente como sempre fizeram e agradeço a companhia de todos. Deixem comentários sobre o que acharam do novo visual, se a maioria não tiver curtido eu volto à versão antiga, rsrs.

O antigo logo, Nosso Lugar ao Sol Vitória, fiz seguindo o conceito visual de ornamentos bem descolados e modernos, com espirros de tinta e vários detalhes, com um homem no canto. O ano de criação do blog, 2010, foi um ano em que tive muitas vitórias e realizações, por isso o clima festivo do logo. 

O novo logo segue essa mesma linha, mas com uma cor mais fria, que tem mais a ver comigo e com esse momento vivido, chamado Nosso Lugar ao Sol Search (busca), pois já ficou claro que esse ano será um ano de busca de objetivos e de novos caminhos e realizações (espero eu). Além de mostrar ANO II escrito, situando os leitores, mostra também um outro homem com uma interrogação, a velha busca do homem da minha vida pra dividir com ele meu lugar ao sol. Os dois homens ainda estão separados, quem sabe esse ano ainda não se juntem... 

Espero que tenham gostado, e aqui fica a versão antiga pra matar a saudade:


Enjoy the new year...
sábado, 12 de fevereiro de 2011

As portas do novo mundo: Apresentando: O simpatizante



No primeiro dia de um novo destino, não um que eu desejei, mas pelo contrário, um que sempre temi, fui na parte da tarde fazer integração na empresa, apesar de meu horário ser de manhã, excepcionalmente naquele dia eu tinha médico no período da manhã. Finalmente meu tratamento de ácne com o remédio Roiacutan acabou e eu não teria mais os efeitos colaterais de secura nos lábios que por mais de seis meses me atormentavam. Após mais de dez anos com ácne, finalmente meu rosto está limpo e fiquei muito feliz com o fechamento de mais um ciclo. Agora teremos que ver os resultados a longo prazo e em seguida tratar as quase apagadas cicatrizes com outros remédios.

Na empresa, cheguei debaixo do sol quente, atrasado por não saber ao certo a localização da empresa e lá estava o homofóbico. Apenas falei "oi" sem nem cumprimentá-lo com a mão. Conversamos um pouco e chegou a hora de ir pra sala. Sozinho, olhei à minha volta a fim de identificar um gay solitário. Lá estava ele. Um mestiço de japonês com brasileiro, sentando-se sozinho. Mesmo sem ninguém ao lado dele, sentei próximo. Dei um sorrisinho simpático e ele retribuiu, fazendo algum comentário sobre a sala que não me lembro.

"Qual seu nome?"

"Rud, e o seu?"

"Billy, tudo bem?"

Era o primeiro contato em um ambiente hostil. Fiquei contente que havia sido rápido. Durante a integração, conversamos um pouco e eu estava cada vez mais convencido que o cara era gay.

"Nossa, tem umas mina daora aqui, né meu..."

Ele disse, e então, como uma bexiga que murcha, como um farol que se apaga, como um pirulito caindo no chão, todas as minhas expectativas se esvaíram.

"É, tem..."

Eu disse, sem o menor ânimo. Fiquei pensativo. Eu tinha prometido a mim mesmo que não iria mais mentir com relação à minha sexualidade em nenhum lugar, e ali seria um bom local pra começar. Era hora de ser autêntico.

"Olha a foto da minha mina... ela é bem gostosa, é mais velha, tem 27."

"Pow, legal..."

No intervalo, descemos ao pátio e me sentei. Billy começou a falar no celular com a tal "mina". Eu não fiquei ouvindo a conversa, porém em um trecho, ele falou em voz alta:

"Lá no orkut, a sua foto do lado daquela bicha..."

Meu sangue ferveu. Será possível que eu era um imã de homofóbicos? Me levantei e ao meu lado, um rapaz olhou igualmente raivozo pro Billy, que sentiu o olhar do rapaz, que era visivelmente gay e estava visivelmente ofendido. Billy afastou-se e comecei a encarar um rapaz que retribuiu. Nos encaramos um tempo mas o Billy voltou. Era um homofóbico atrapalhando minha caça...

Voltamos à sala e surgiram novos elogios às mulheres. Estava de saco cheio.

"Dei uma mancada lá no intervalo. Falei 'bicha ' perto de um gay, ele me olhou com uma cara..."

"É, eu reparei..."

"Cara, eu não tenho problema nenhum com gay... eu conheço muita gente desse meio, saio eu, minha mina e muito gay. Vou nas balada e pego as mina, tá ligado, as lésbica..."

"Sei..."

Era minha deixa:

"Já foi na 'T'?"

Ele me olhou com um pouco de espanto.

"Conheço a 'T' de nome.... você também curte o negócio?"

"Sim, curto muito esse negócio todo."

A partir daí, viramos MA (melhores amigos) quase que instantâneamente, falando abertamente sobre a maioria das coisas de forma tranquila e aberta. Descemos ao banheiro junto a outras pessoas e ele me perguntou:

"Mas e ai, já beijou mina alguma vez?"

"Hmm... não, nunca..."

"Caraca, então você é 100%"

"Isso ai..."

De volta à sala, ficamos identificando os gays e as lésbicas, só de olhar dava pra sacar muitos. A cada gesto denunciador de alguns, nos olhávamos e ríamos... Ficamos muito íntimos, trocamos orkut e msn, muito legal o contato.

Próximo à hora de ir embora, Billy disse que seria muito legal se fizéssemos o treinamento juntos, mas ele tinha escolhido o horário da madrugada pra trabalhar, enquanto eu estava no da manhã. Concordei que seria bem legal estarmos juntos e a responsável pela integração veio falar os horários de treinamento.

"Só os três nomes que eu falar irão fazer treinamento de manhã, os outros será a tarde."

Meu nome foi o segundo a ser dito. Eu estava de manhã. Mesmo chateado, Billy disse que dali em diante seríamos grandes companheiros de saída e papo pela net e pelas baladas da vida. Na estação de trem (fomos juntos) nos despedimos e voltei pra casa otimista. Se todas as pessoas que eu conhecer nessa fase forem assim, estarei em boas mãos.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Saudações ao novo ciclo: Apresentando: O homofóbico



Olá, desculpem, a falta de posts novos, o Nosso Lugar anda meio parado mas isso tem um motivo. Finalmente comecei a trabalhar e a vida está do jeito que deve ser... correria pura. Sem contar que no fim dessa semana haverá a colação de grau da facul, finalmente. O ciclo se fechará.

Bom, não arranjei emprego na minha área. Depois de muito pensar, de noites sem dormir, de reflexão e auto-punição, decidi entrar em uma área que não tem nada a ver comigo, começar uma fase nova. Tinha que ser algo bem ruim, a ponto de todos os dias eu desejar não estar ali, que eu não me acomodasse mas fosse suficiente pra pagar as contas e trabalhasse poucas horas por dia pra me sobrar tempo de continuar buscando na minha área. Então eu cheguei à única conclusão possível: Teleatendimento.

Tá, essa é uma área que qualquer um entra, é uma vergonha pra alguém formado entrar pra esse ramo.... mas a necessidade falou mais alto e ficar sem internet como está ameassado aqui em casa (considerando que só eu estou utilizand-a) é algo fora de questão.

Participei de uma entrevista para uma empresa perto de minha cidade, só precisava pegar um trem. Porém, não havia horário da parte da manhã e fiquei em um grupo de espera. Mas decidi não esperar. Na mesma tarde daquela entrevista, fui participar de outra. Chegando lá, a entrevistadora fez uma seleção com um por um e enquanto esperava, fiz amizade com duas garotas bem legais. Na sala, haviam dois gays (super) andrógenos e uma das minhas companheiras olhou e deu rizada, dizendo:

"Na antiga empresa em que eu trabalhava tinham uns gays... a maioria era."

Sorri, querendo que ela soubesse que eu era. Mas não falei nada, não saio por ai espalhando que sou nem levantando a bandeira. Após todas as entrevistas, a entrevistadora falou:

"Os nomes que eu chamar não se adequaram ao perfil da empresa e podem sair."

Em um momento gayfriendly, eu disse:

"Boa sorte, meninas."

No fim,entre os nomes saiu o meu. Então eu disse tchau a elas, que disseram ao mesmo tempo, sem combinar, um "Aaaaahhhh" de lamento. Mas a empresa era a maior bocada, eu mesmo quis desistir quando ela falou da vaga, ainda bem que decidiram por mim.

Na semana seguinte, fui procurar emprego no centro comercial da minha cidade. Na primeira agencia que entrei, avistei vagas de teleatendimento e perguntei detalhes. Pagaria um salário baixo, porém sem atrazos e sem faltas, subia mais duzentos reais. Seisa horas por dia, tinha no horário da manhã. Tudo que eu procurava. Decidi voltar ao centro comercial para tentar a sorte na parte da tarde.

Fiz a entrevista, e após assistir a um show de horrores de pessoas com o 2° grau completo que não sabem falar "problema" sem acrescentar um "r" onde não deveria ter um, recebi a notícia de que tinha passado. No dia seguinte, teria que estar à partir das dez da manhã na empresa e levei todos os documentos. Após longa caminhada, achei o local. Porém, não tinham mandado da agência as fichas e provas que eu fiz, então eu tinha que refazer tudo. A mulher disse que só tinha vagas para o período da tarde, o que me fez levantar e ir até ela:

"Eu vim para as vagas da manhã que disseram na agência que inha. Caso não tenha, não vou ficar."

Ela então disse que poderia encaixar e fiquei. Fui reentrevistado e consegui passar novamente. Durante a entrevista, fiquei olhando um rapaz bem bonito de 18 anos sentado na cadeira. Segunda feira eu teria que voltar à empresa para exames médicos e etc.

E lá estavaeu novamente segunda feira. A fila do local era desesperadamente gigante. Primeiro passava pela triagem, depois exame médico, abria conta e por fim entrega de documentos. Cheguei às 15 e saí às 19. Lá, conjheci um rapaz e conforme íamos passando pelos processos, íamos nos reencontrando e conversando. Era um desses machistas.

"Já trabalhou na área de teleatendimento?"

"Já, na outra empresa eram 10% homens. O resto só mulher e viado."

Quase que eu falei: "E viado não é homem?" Mas deixei quieto, não estava a fim de começar uma briga. Fiquei o tempo todo de olho em um rapaz de óculos tipo nerd, cabeça raspada, braços fortes não-malhados e voz meio grossa, meio fina, bem enigmática que chegou... simplesmente o homem perfeito. Só seu jeito de andar, forçando uma macheza duvidável me incomodava. Só fiquei de olho. No final, fui embora com o homofóbico deixando minha carteira. Por que só atraio homofóbicos? Não conheci nenhum gay nesse processo de seleção. Saí de lá selando uma nova fase da minha vida. Não é a melhor fase do mundo, não chega nem perto, mas dou saudações ao novo e à morte da rotina que me matava aos poucos. Na estação, me despedi do homofóbico, não fiquei esperando ele recarregar seu cartão. Não tenho que pensar no bem estar de gente desse tipo...