sábado, 12 de fevereiro de 2011

As portas do novo mundo: Apresentando: O simpatizante



No primeiro dia de um novo destino, não um que eu desejei, mas pelo contrário, um que sempre temi, fui na parte da tarde fazer integração na empresa, apesar de meu horário ser de manhã, excepcionalmente naquele dia eu tinha médico no período da manhã. Finalmente meu tratamento de ácne com o remédio Roiacutan acabou e eu não teria mais os efeitos colaterais de secura nos lábios que por mais de seis meses me atormentavam. Após mais de dez anos com ácne, finalmente meu rosto está limpo e fiquei muito feliz com o fechamento de mais um ciclo. Agora teremos que ver os resultados a longo prazo e em seguida tratar as quase apagadas cicatrizes com outros remédios.

Na empresa, cheguei debaixo do sol quente, atrasado por não saber ao certo a localização da empresa e lá estava o homofóbico. Apenas falei "oi" sem nem cumprimentá-lo com a mão. Conversamos um pouco e chegou a hora de ir pra sala. Sozinho, olhei à minha volta a fim de identificar um gay solitário. Lá estava ele. Um mestiço de japonês com brasileiro, sentando-se sozinho. Mesmo sem ninguém ao lado dele, sentei próximo. Dei um sorrisinho simpático e ele retribuiu, fazendo algum comentário sobre a sala que não me lembro.

"Qual seu nome?"

"Rud, e o seu?"

"Billy, tudo bem?"

Era o primeiro contato em um ambiente hostil. Fiquei contente que havia sido rápido. Durante a integração, conversamos um pouco e eu estava cada vez mais convencido que o cara era gay.

"Nossa, tem umas mina daora aqui, né meu..."

Ele disse, e então, como uma bexiga que murcha, como um farol que se apaga, como um pirulito caindo no chão, todas as minhas expectativas se esvaíram.

"É, tem..."

Eu disse, sem o menor ânimo. Fiquei pensativo. Eu tinha prometido a mim mesmo que não iria mais mentir com relação à minha sexualidade em nenhum lugar, e ali seria um bom local pra começar. Era hora de ser autêntico.

"Olha a foto da minha mina... ela é bem gostosa, é mais velha, tem 27."

"Pow, legal..."

No intervalo, descemos ao pátio e me sentei. Billy começou a falar no celular com a tal "mina". Eu não fiquei ouvindo a conversa, porém em um trecho, ele falou em voz alta:

"Lá no orkut, a sua foto do lado daquela bicha..."

Meu sangue ferveu. Será possível que eu era um imã de homofóbicos? Me levantei e ao meu lado, um rapaz olhou igualmente raivozo pro Billy, que sentiu o olhar do rapaz, que era visivelmente gay e estava visivelmente ofendido. Billy afastou-se e comecei a encarar um rapaz que retribuiu. Nos encaramos um tempo mas o Billy voltou. Era um homofóbico atrapalhando minha caça...

Voltamos à sala e surgiram novos elogios às mulheres. Estava de saco cheio.

"Dei uma mancada lá no intervalo. Falei 'bicha ' perto de um gay, ele me olhou com uma cara..."

"É, eu reparei..."

"Cara, eu não tenho problema nenhum com gay... eu conheço muita gente desse meio, saio eu, minha mina e muito gay. Vou nas balada e pego as mina, tá ligado, as lésbica..."

"Sei..."

Era minha deixa:

"Já foi na 'T'?"

Ele me olhou com um pouco de espanto.

"Conheço a 'T' de nome.... você também curte o negócio?"

"Sim, curto muito esse negócio todo."

A partir daí, viramos MA (melhores amigos) quase que instantâneamente, falando abertamente sobre a maioria das coisas de forma tranquila e aberta. Descemos ao banheiro junto a outras pessoas e ele me perguntou:

"Mas e ai, já beijou mina alguma vez?"

"Hmm... não, nunca..."

"Caraca, então você é 100%"

"Isso ai..."

De volta à sala, ficamos identificando os gays e as lésbicas, só de olhar dava pra sacar muitos. A cada gesto denunciador de alguns, nos olhávamos e ríamos... Ficamos muito íntimos, trocamos orkut e msn, muito legal o contato.

Próximo à hora de ir embora, Billy disse que seria muito legal se fizéssemos o treinamento juntos, mas ele tinha escolhido o horário da madrugada pra trabalhar, enquanto eu estava no da manhã. Concordei que seria bem legal estarmos juntos e a responsável pela integração veio falar os horários de treinamento.

"Só os três nomes que eu falar irão fazer treinamento de manhã, os outros será a tarde."

Meu nome foi o segundo a ser dito. Eu estava de manhã. Mesmo chateado, Billy disse que dali em diante seríamos grandes companheiros de saída e papo pela net e pelas baladas da vida. Na estação de trem (fomos juntos) nos despedimos e voltei pra casa otimista. Se todas as pessoas que eu conhecer nessa fase forem assim, estarei em boas mãos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Cara, já comentei no seu blog uma vez. Vou comentar de novo. Nesse trecho voce diz:
"De volta à sala, ficamos identificando os gays e as lésbicas, só de olhar dava pra sacar muitos. A cada gesto denunciador de alguns, nos olhávamos e ríamos...". Muitos desses podem ser gays e lesbicas e outros q vcs nao perceberam podem ser gays e lesbicas pq vc mesmo disse nesse post q achava q esse cara fosse gay (e ele nao era) e ele não percebeu q vc era gay (e vc é).

James disse...

Tem razão, anonimo friend. As possibilidades são infinitas, mas infelizmente não dá pra saber quem é e quem não é de verdade, a não ser que se conheça e se aprofunde com cada um. ^^

Stênio disse...

Não me canso de ler suas histórias... Caramba, que reviravolta, já estava pronto para odiar o Billy, e a sua sinceridade trouxe para perto de ti um grande amigo... gostei muito!!!