domingo, 14 de março de 2010

Como meus amigos souberam? Parte I: Hayashi



Minha relação com Hayashi sempre foi das melhores e mais saudáveis. Nos conhecemos de forma inusitada: Eu, no intervalo da sexta série, pedi um pedaço do lanche dela na maior cara de pau. E ela me deu. Mas foi na sétima série que caímos na mesma sala e eu novamente fui até ela na base do puro interesse, com uma revista em japonês do Sonic, jogo que eu era super fã na época (ainda gosto do porco espinho), pedindo que ela traduzisse pra mim. Mas ela era naturalizada daqui e não entendia muito de japonês. Ainda assim, começamos a conversar e por dois anos, fomos os melhores amigos um do outro.

No final da oitava série, ela disse que precisava conversar na saída. A casa dela era virando a esquina de um morro. No caminho para casa ela me explicou que sua família teria que partir da cidade e que ela não sabia ao certo para onde. Na esquina da sua casa, ela ainda disse: "Você não vai fazer nada?" Tá, eu era lerdo demais pra perceber o que aquilo queria dizer. Hayashi partiu e eu me desesperei, cheguei a chorar escondido em casa, pensando por que a pessoa que eu tanto amava tinha que partir.

No colegial, ainda nos correspondemos por cartas e conversávamos horas no telefone, ela gastava um cartão telefônico por fim de semana, contando sua vida, conversando sobre diversidades em um rítmo que só fluia conosco. Ainda éramos amigos.

Mas o tempo passou, e suas cartas pararam. Seus telefonemas sessaram. O colegial acabou e descobri minhas preferências até então reprimidas.

O tempo passou. Voou. E eu enterrei a Hayashi dentro de mim, tendo somente suas cartas como memória. Um dia, então, recebi sua ligação, há uns três anos atrás ou menos, não me recordo ao certo. Ela estava em São Paulo e havia se lembrado de mim. Tivemos nosso encontro na Sé e passamos a reservar dias para sair juntos e conversar. Aos poucos, resgatamos aquela amizade há tanto perdida. Mas eu tinha mudado, e de um jeito ou de outro, ela teria que saber.

Fomos no centro comercial e deu uma chovidinha, ficamos bem próximos nos protegendo e ela contou que seu primeiro beijo foi se protegendo da chuva com um cara. Eu comecei a ficar com medo. Um dia, tínhamos voltado de sampa e estávamos cansados, então sentamos nos banquinhos próximos à esquina dela, falando de relacionamentos. Ela me contou como era difícil arranjar alguém, estando em São Paulo praticamente isolada de tudo que um dia teve. Contou que tinha medo de se relacionar. Eu à insentivei a continuar, disse que havia alguém lá fora esperando por nós. Levei-a até a porta da sua casa e então, antes de partir, ela me roubou um beijo, virando-se imediatamente e partindo. Segurei minha boca enquanto caminhava para casa. Como eu sonhei com aquele beijo, e agora que havia aquela possibilidade... eu estava pirando. Um detalhe interessante é que no mesmo dia deu aquele terremoto em São Paulo. Carma? Destino? Aviso dos céus??

Até então, eu nunca havia contado pra ninguém que eu era gay. Mas eu não poderia ficar com ela e arriscar tudo. Ela disse que quando um relacionamento não dava certo, ela simplesmente desaparecia. E eu já tinha perdido uma vez.

Não passou nem uma semana, era um sábado. Depois do trabalho, passei em uma lan house para fazer uns downloads e conversar no msn. Hayashi estava lá, e começamos a conversar. Ela foi bem direta (pelo msn é fácil) dizendo por que não poderíamos tentar, enquanto eu só dizia que não podia, que era complicado, etc.

"Complicado por que? Você por acaso tem alguma doença ou é gay, sei lá, coisa do tipo? Somos livres e desempedidos. E a gente se gosta!!"

Depois de muita conversa e dela desabafar muito,eu disse que não podia completá-la nesse quesito.

"Por que não?"

"Digamos que o que você falou lá em cima... seja verdade..."

"O que?"

Eu copiei e colei o trecho em que ela me questionou de ser gay. Ela não acreditou. Por muito tempo me questionou "você está brincando comigo, né?" "Eu não acredito" "Tem certeza ou só está falando isso pra gente não ter nada?"

No fim, ela aceitou, dizendo que tínhamos que nos encontrar. Nos encontramos e foi dificil falar do assunto no início, mas aos poucos ela compeendeu e aceitou o fato. Às vezes temos longas discussões sobre o que é o Homossexualismo, sobre o que pode ter acontecido comigo, rs. Mas não há por que discutir. Tudo estava dentro de mim, só precisava se libertar. Agradeço aos céus por hoje ter essa japonesa ao meu lado, agora namorando e tudo, espero que nunca mais suma, espero que seja até que a morte nos separe!! Te amu, japoneusa!!

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