domingo, 15 de agosto de 2010

Depois: Zona de conforto perante um céu de núvens escuras...



Após o desapontamento, cheguei em casa e comecei a pensar no Tiago. De uma forma diferente. Ele não mandou mensagem, não ligou, simplesmente sumiu. Então mais à noite eu liguei pra ele.



"Decidi ir no shopping fazer compras. Pensar na vida, sei lá."



Foi o que ele disse. Depois diz que não é gay, mas tudo bem. Expliquei de novo que não fiquei com raiva dele mas sim da situação e ele pareceu entender. Conversamos até descontraídos com a situação...








No dia seguinte, acordei de mal humor relembrando o acontecimento do dia anterior e na saída da faculdade, começamos a conversar por SMS.



"Rud, mudaram meu dia de folga. Agora é segunda feira..."



"Legal. Mas ainda assim é ruim. O que se faz de bom numa segunda?"



"Não sei. Vê um lugar legal pra gente ir?"



PS: Odeio que eu tenha sempre que escolher pra onde sair.



"Não, é sua vez de ver. Bom mesmo era quando você folgava na quarta feira."



"Pra mim segunda é um ótimo dia."



"É, acho que não faz diferença, considerando que você não sai pra nenhum lugar que pessoas normais saem.."



"Tipo qual?"



"Barzinho por exemplo..."



"Hmm. É, sei que as coisas estão difíceis pra gente. Sinto que você vai me deixar."



"Se eu quisesse te deixar, já o teria feito. A gente tá tentando, não tá?"



"Tá, mas preciso descobrir se é isso que eu quero."



"Como assim? Descobrir se é gay?"



"Também... Mas preciso descobrir se é isso que eu quero em relação a nós... Ao que você quer... Se eu posso te dar o que você quer e ser quem você quer que eu seja."



Até passei minha estação de trem, tendo que descer na estação seguinte pra voltar. Fiquei desconfortável com a idéia dele partir... De tudo acabar de novo antes de começar... Justo agora que estava tão perto de ter algo legal com alguém. Pensei nas noites solitárias em baladas que odeio, em salas de bate papo, em orkut e msn com aquelas conversas chatas quando se quer conhecer aguém, na insegurança de agradar o outro, em ficar mandando fotos, à mercê do julgamento alheio... Enfim, todo o processo que esse um mês e meio com o Tiago me fez esquecer.



Mas isso me fez levantar uma nova HIPÓTESE: A zona de conforto. Será que estou com o Tiago apesar dos pesares por ele ser bom pra mim ou por eu estar confortável nessa situação? Dúvidas, dilemas...



Não sei, só sei que depois daquelas palavras escritas por mensagem de celular, fiquei com o coração apertado.



"Acho que você que vai partir."



Escrevi, finalmente, e ele disse:



"Vou tentar enquanto eu puder."



Na quinta feira, fui almoçar com a karla depois da aula, pois ela tirou nota baixa em um relatório de TGI (trabalho de graduação interdisciplinar) no qual eu fui bem e para dar umas dicas a ela, eu à acompanhei. A Karla é minha única amiga mulher da facul, para a qual uma vez eu contei ser gay também. Foi meio estranho, pra dizer a verdade (ela contou que gostava do amigo que então revelou-se gay. Eu aproveitei a brecha e contei de mim). A reação dela foi embaraçada, ela meio que fingiu não estar nem ai... Mas senti que ficou constrangida. Com o tempo contei do segurança da facul mas fora isso não falei mais nada. É a única hétero com a qual não sinto dificuldade em não falar sobre nada (ela e o DVD) por que os dois parecem não ligar pra nada dessas coisas (no sentido de nunca tocarem no assunto), apesar que eu sei que ligam.



E nesse fim de semana, marquei com os dois pra ir numa exposição na Sé. Muuuito boa por sinal,lá na Caixa Cultural, na faixa (grátis). Colocamos assunto em dia e depois fomos ver Inception (A Origem), simplesmente FILMASSO, recomendo!!



Em um momento, eu disse:



"Gente, preciso falar uma coisa..."



Eu ia falar sobre algo da facul, mas o DVD me cortou:



"Que foi? Você é gay? Resolveu se assumir?"



Ai eu disse:



"Ainda não."



Provavelmente ele não entendeu, mas a Karla sim. Ainda não resolvi me assumir. O DVD é uma daquelas pessoas que provavelmente sumiria se soubesse de mim. Mas eu preciso dele em um projeto meu. E às vezes me sinto culpado por que lembro que no primeiro ano de facul inventei que a Hayashi era minha ex e ele chegou a me dizer que eu era um dos melhores amigos dele...



Mas enfim, foi bom viver uma noite hétero com amigos héteros falando de coisas héteros (e nerds, como teorias mirabolantes com relação ao filme). Mas é bom que voltemos à realidade.



E voltando a essa realidade, me dei conta do quão cruel ela pode ser. Outro dia uma amiga da minha mãe (da época do colegial) veio aqui em casa e pude escutar partes da conversa. Entre outras coisas, contou de como meu irmão conheceu sua "mulher" (entre aspas por que vivem juntos sem casar) e que eu me formo no fim do ano. Conveniências apenas. Imaginei o desgosto dela quando souber que seu caçula não lhe dará netos. Fiquei imaginando o que ela contará à amiga quando eu sair de casa, sozinho ou com meu parceiro... Só imaginando. É tão clássico contar as vantagens da família. Difícil é expressar a realidade com orgulho:



"Meu filho é gay, ele teve coragem de vir a mim e se assumiu. Hoje mora com seu parceiro, estão bem de vida, dividem tudo. Precisa ver que história de amor eles têm, melhor que muitos de nós."



Irreal, eu sei, por mais que não haja nada de anormal nisso. Quem sabe um dia muito muuuuito distante.



Nunca estive tão confuso em relação ao que eu sinto... Acho que os leitores devem estar enjoados de mim falando dessa chatisse de confusão, mas não tenho culpa, me desculpem se estou sendo chato. Estou deixando rolar mas a cobrança da Hayashi por minha identidade me faz sentir a necessidade de definir coisas. Preciso definir, definir, definir. E ele (Tiago) também precisa descbrir se ele quer ou não estar comigo. E se ele desistir assim que eu decidir querer? Será que ele tá tão confuso quanto eu? Será que ele tem um blog secreto onde desabafa?? Dúvidas cruéis...



Só o que eu posso afirmar é que pra mim não será nada fácil abrir mão de tudo que tá acontecendo agora. Podem esperar uma época negra para esse blog... Sinto a leve brisa que antecede a tempestade...

0 comentários: