sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Quarto: Parte I. Castelos de areia, fundações de papel



A primeira noite... Finalmente aconteceu.



Eu e o Tiago tivemos um encontro, digamos, caliente no parque Vila Lobos. Nada menos do que ele tirou a camisa e depois sua ferramenta pra fora, pra eu tocar e ver. E ficamos deitados na grama como se fosse uma cama, nos abraçando e nos pegando. Sim, cometemos um crime em plena luz do dia, fiquei imaginando se houvesse câmeras naquelas árvores, cruzes.



Foi então que percebemos: Não dava mais pra segurar. Era hora de superar os medos.



"Rod, eu não acho justo ficar segurando mais minha vontade por causa do meu medo de entrar em motel. Não acho justo segurar você. Então por isso terei que entrar lá. Por nós."



Ele disse, e eu achei lindo, retrucando que eu respeitaria o tempo dele. Nos encontramos na segunda feira e durante a semana combinamos que seria na próxima vez que nos víssemos. Primeiro iríamos no cinema e depois direto pra lá.



A semana toda passou, e minha ansiedade foi aumentando, mas tentei controlá-la. Afinal, não era certeza que ele iria entrar no local, e dessa vez eu não poderia ficar tão bravo. Desde que essa relação começou, tenho olhado pouco para homens na rua (eu olhava pra muitos), como se um véu de compromisso me encobrisse, como se eu tivesse o meu homem e não fosse necessário olhar mais. Isso é o que mais me deixou confortável.



Então, segunda feira, fomos ver o Último Mestre do AR (que eu aconselho a não ver em 3d, pois é nulo. Aliás, não vejam o filme, assistam o desenho, vale muito mais). Saindo horrorizado do filme, fui ao banheiro. Já perdi a conta de quantas vezes fui sozinho pra República e nunca deram em cima de mim, nem se quer puxaram assunto comigo. Lá no banheiro, um desconhecido virou pra mim e perguntou:



"Você já viu o Último Mestre do Ar?"



"Acabei de ver!"



"Nossa, que 3d mais mal aplicado!! Como pode??"



"Horrível né?"



Dei confiança, não querendo puxar muito assunto. Simpático, falou um pouco mais do filme e ia saindo enquanto eu fingia secar as mãos (já secas, apenas pra despistar) e ele partiu. Reencontrei o Tiago e caminhamos na direção do motel. Comecei a cantar a música de suspense do Star Wars (coisa de nerd) até chegar na rua. Como era mais tarde, não tinha ninguém. Pedi um quarto, deixei meu RG e dali em diante o nervozismo começou a me atacar. Ele até subiu na frente. Abri o quarto, entramos e tranquei a porta. Fomos até a cama e observamos o quarto e o banheiro. Começamos a rir constrangidos com a situação.



"Estou com muita vergonha."



Eu falei, sentando na ponta da cama.



"Eu também, srsrs"



Ele disse, sentando ao meu lado. Começamos a nos beijar.... O resto é história...



Após a noite, ficamos deitados um do lado do outro, conversando. Naquela noite, posso dizer que superei meu problema de ansiedade que não me deixava a vontade com os rapazes. No meio da conversa, ele virou e falou:



"Rod, será que não estamos nos tornando amigos?"




A música de românce arranhou.



As plantas mucharam.



O doce perfume tornou-se amargo.



A leve brisa transformou-se na aguardada tempestade....



No dia seguinte, acordei sem o fogo que me dominou a semana passada inteira. Fui pra facul e percebi que o véu havia caído. De repente todos os transeúntes ganharam faces, todos os homens ganharam beleza e lá estava eu novamente caminhando e encarando cada um deles e avaliando mentalmente as belezas alheias. The bitch is back to the town...



Chegando em casa, vi um recado no meu E-mail avisando que havia um recado em um site de relacionamento no qual nem entrava desde que conheci o Tiago. Cliquei pra ver. Um cara lindo, LINDÉRRIMO me mandando uma piscadinha. Então escrevi:



"Tem certeza que foi pra mim?"



Ele respondeu que sim, que me curtiu e mandou o MSN e o telefone. Fiquei triste por perceber que a regressão estava progredindo, os velhos hábitos retomando-se em minha vida. Aquela vida da qual não senti NENHUMA saudade. E as fotos daquele cara sarado, malhado e gostoso que sei que só quer uma trepada, me convidando a pecar...



Podem me chamar de vadio o quanto quiserem, mas aquela frase do Tiago acabou comigo, acabou com o brilho da nossa relação. Cogitamos a algumas semanas de sermos amigos e "brincarmos" quando tivéssemos vontade, e na hora pareceu-me bem interessante, mas falar isso na cama, em nosso mais íntimo momento... foi um baque. É como dizer: "O trato tá de pé, né? Você não se esqueceu né?"



Então o véu se rasgou, o clima de românce se foi e a insegurança, minha velha companheira, bateu em mim como um grande martelo. O peso da realidade desmoronando meu castelinho de areia. Minhas fundações de papel ragando-se e voando ao vento... O declínio da esperança. Talvez o princípio do fim.



Mas o PIOR de tudo é que apesar do baque, não fiquei triste como se fica quando um relacionamento está no fim. Não ameassei chorar, não fiquei magoado, por que parecia que eu previa aquilo. Combinamos a amizade e a partir de então comecei a sentí-lo como amigo. Então se terminarmos, de qualquer jeito será de modo pacífico, sem muito drama, e continuaremos amigos, nos falando, quem sabe saindo... Quem sabe ficando sem compromisso. Nunca quis isso, nunca pensei em viver isso, nem sei se vou querer, posso ter dito da boca pra fora. Não sei dizer qual será meu estado emocional no fim, mas sei bem pra onde estou caminhando, cabendo a mim resolver retroceder ou continuar pela estrada do inevitável. A menos que tudo que eu previ esteja errado... Nunca se sabe.

4 comentários:

Tito Fierce disse...

Ahh, que chato. Conheço esse sentimento de quando vc cria um monte de expectativas sobre um possivel relacionamento que elas acabam por explodir na nossa carinha linda.

Mas sabe o que eu penso? Vc tem que dar tempo ao tempo e ver o que o Tiago quis dizer. Pergunta mesmo... não vai matar.

Abração!

James disse...

É verdade, a comunicação no caso é sempre a essência, e tenho exercitado muito ela esses tempos. Uma das coisas mais legais nesse relacionamento é essa parte de falar tudo, perguntar tudo que está incomodando e etc. A insegurança dele em relação ao que estávamos vivendo naquele momento o levou àquela pergunta naquele momento errado. Resta saber as consequências que isso trará.

ThinkerBoy disse...

Such imprudence!

Faz tempo que não passo por aqui, então não sei bem como anda a sua vida... Acho que você deveria deixar certas coisas de lado, se isso te chateou, então converse com ele. Não há motivos para ficar desse jeito, entrem em um acordo pra ver o que é que vocês querem. É melhor do que ficar chateado por uma frase boba e ficar se segurando por um relacionamento que não é relacionamento.

Mas isso é o que eu faria, o que eu acho correto, já você deve decidir por si mesmo.

Abração,
Se cuida

James disse...

Sim, sr. Thinkerboy, na verdade essa mágoa foi momentânea, foi mais pelo fato de que pareceu que era aquela noite e depois baubau, mas a gente continua junto querendo mais. E pode-se dizer que estamos mesmo em um relacionamento, só falta dizer as palavras mágicas... relação estranha.